Luzia nasceu no ano de 283 d.C. em Siracusa, na Sicília, ilha do Mediterrâneo, que hoje faz parte da Itália. De acordo com historiadores, sua família era cristã, e gozava de uma vida de riquezas.
Thiago Maerki, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e associado da Hagiography Society, nos Estados Unidos, o pai de Luzia, se chamava Lúcio e morreu quando ela ainda era muito jovem.Leia MaisOração à Santa Luzia
Após a morte de seu pai, a menina dedicou-se a cuidar de sua mãe, que sofria com graves hemorragias internas. Certa vez, peregrinou até a cidade de Catânia, também na Sicília, para rezar pela saúde de mãe na tumba de Santa Águeda e foi ali, que teve uma epifania.
Ao acreditar fielmente que Deus curaria sua mãe, Luzia decidiu consagrar sua vida ao cristianismo e fez voto de virgindade.
Maerki conta que Luzia, “estava prometida em casamento com um jovem pagão, e queria se livrar desse compromisso”. Esse era o desejo de sua mãe, “mas isso a desagradava, pois ela queria viver em castidade na consagração a Deus e ao seu Senhor, como cristã”, explica padre Jerônimo Gasques, mestre em teologia Dogmática e autor do livro Santa Luzia — O Brilho de Uma Luz — A Protetora dos Olhos.
O pesquisador e escritor J. Alves, membro da Academia Brasileira de Hagiologia e autor do livro Santa Luzia — Novena e Biografia, pontua que “segundo a tradição, Santa Águeda não apenas lhe curou a mãe, mas também lhe revelou que sofreria o martírio e seria venerada em toda a Siracusa”.
Após a cura, sua mãe dispensou Luzia do casamento prometido.
Depois de seu pedido ser atendido, Luzia passou a se dedicar a Deus e não teve mais receio de expor sua cristandade, até então vivenciada escondida, pois aquela época era marcada por perseguições aos que professassem a fé cristã.
“Santa Luzia foi uma mulher corajosa, que escolheu viver na fé e arriscar sua vida ao assumir a condição de seguidora de Jesus, em um tempo em que isso era considerado crime grave”, afirma J. Alves.
Sua conduta e sua maneira de levar a vida como seguidora de Cristo, desagradou seu pretendente que a denunciou ao procônsul Pascásio, magistrado encarregado de administrar a província, sua intenção era fazer com que ela fosse perseguida.
Devido à denúncia, Luzia foi perseguida e presa pelo governo, eles tentaram de todas as formas fazer com que ela renunciasse ao cristianismo e aderisse aos rituais pagãos romanos.
“Ele teria ordenado que ela fizesse sacrifícios aos deuses romanos, mas, segundo as fontes de relatos hagiográficos, Luzia teria respondido que o sacrífico puro diante de Deus seria visitar as viúvas, os órfão e os peregrinos que param por meio da angústia e da necessidade que sofrem”, pontuou Maerki.
Tentando a todo custo com que ela renunciasse sua fé, a levaram a um bordel para que ali fosse estuprada.
“Ele teria dito que a levaria a um lugar 'de perdição, onde o Espírito Santo iria embora'. Os soldados amarraram suas mãos e seus pés com cordas, mas, segundo a hagiografia, ela permaneceu fixa como uma rocha e ninguém conseguia movê-la dali”.
A tortura continuou e ela passou por flagelos com óleo fervente pelo corpo. Maerki conta que são duas tradições hagiográficas a respeito da santa:
“Na versão mais antiga, uma narrativa grega do século V, ela teria sido martirizada com a decapitação. Já no relato latino, escrito provavelmente entre os séculos VI e VII, a morte de Luzia é descrita como causada por diversos golpes de espada”.
Thiago Maerki conta que a questão relacionada aos olhos que fez com que a Santa se tornasse conhecida como protetora da visão, surgiu na idade média.
“Diz-se que, na verdade, ela tinha os olhos muito bonitos e que isso perturbava o pretendente dela. Diante disso, ela teria arrancado seus olhos e oferecido a ele em uma bandeja. Por milagre, imediatamente um novo par de olhos surgiu em seu rosto”.
Em uma das versões após o ocorrido, o pretendente teria ficado impressionado e se converteu ao cristianismo. Já em outra versão, Maerki conta que Pascásio teria ordenado a seus soldados que arrancassem os olhos de Luzia.
“E, quando eles assim o fizeram, Deus teria concedido a ela novos olhos, ainda mais bonitos do que os arrancados pelos soldados”.
Esta é a versão adotada por padre Gasques, que conta como foi o martírio da santa.
“Inicia-se uma sessão de torturas sem êxito da parte opressora tentando fazê-la desistir do seu intento. Mantém-se firme na sua opção e, por fim, é autorizado a extração de seus olhos e entrega-lhes em uma bandeja de prata. Nas suas últimas palavras, Luzia se extasia de joelhos e tira de si as últimas inspirações e o verdugo, com a espada afiada, lhe dá o derradeiro golpe no pescoço, cortando-lhe a cabeça. Era o dia 13 de dezembro de 304 d.C.”.
A mistura entre as lendas e histórias contadas sobre o martírio de Luzia — e seus olhos sendo arrancados — formou-se então a tradição de ser padroeira da visão.
Alves explica que Santa Luzia “é invocada não apenas contra a cegueira física, mas também contra a cegueira que nos impede de enxergar que Deus é nossa luz e a vida só vale a pena quando se torna um ato de amor total a ele e ao próximo”, frisa o pesquisador.
Fonte: BBC
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