Espiritualidade

Somos pessoas que se renovam

Padre Dalton traz mais uma de suas belas reflexões sobre a vida e o viver neste início de ano

Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

Escrito por Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

04 FEV 2022 - 10H48 (Atualizada em 03 FEV 2024 - 12H57)

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Toda pessoa aprende a ser sujeito de seu caminho e, pois, de sua história de vida. Partimos da biologia - corpo-pulsão - para a biografia. Do nenhum saber ao saber, do ouvir ao interpretar, da escolhas que crescem à pura submissão.

Quais trilhas de liberdade e consciência de existir face aos outros. Filhos do desejo que busca acontecer, o que pressupõe um projeto de vida passo a passo delineado, em meio a circunstâncias: eu e minhas condições de vida. E atravessando ciclos vitais, estações de percepção, fases evolutivas. Conquistas e tropeços.

Nascer corpo impõe mudanças. Mas pode ser que façamos experiências da realidade, entre descobertas, sustos e traumas. Aos saltos. Aprendemos, a duras penas, a coexistir. (Ou facilmente...)

Leia MaisEspanto diante do mistério da vidaUm poema de Cecília Meirelles vem a propósito. Possam leitoras e leitores degusta-lo.

RENOVA-TE.

Renasce em ti mesmo.

Multiplica teus olhos para verem mais.

Multiplica teus braços para semeares tudo.

Destrói os olhos que já tiverem visto, cria outros para novas visões.

Destrói os braços que tiverem semeado para enriquecerem de colher.

Sê sempre o mesmo.

Sempre outro, mas sempre alto, sempre longe e dentro de tudo.

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Ao viver nossa vida humana, humanizando-a, buscamos unidade, pois somos múltiplos em tendências e complexos em buscas. Saber desejar é um aprendizado no qual muitos se perdem. Viver fragmentado é meia vida apenas. Afirmamo-nos o mesmo se crescemos, evoluindo. Não dá certo ser alguém de uma dimensão só. Somos seres compostos e complexos. É bom disso não nos esquecermos.

Cada fase da vida, cada estação da alma ou etapa do corpo-pessoa pode nos fragmentar. Urge uma percepção consciente de si, crítica, avaliadora. Sem valores assumidos nos perdemos, oscilamos... É preciso empenhar-se para ficar de bem em um caminho bom e autêntico. Inteiro no rumo escolhido. A caminho.

Somos passado-presente-futuro, mas não apenas um após o outro. De várias maneiras, estas formas de vida são fases conectadas qual rede viva, donde muito conta ter de si e de sua história uma memória agradecida, feita de superações, ressignificando pontos frágeis e doídos. Não dá para isolar fase alguma. Seria danoso. Feliz de quem sabe se assumir com tudo que aconteceu!

Pictrider/ Shutterstock
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A gente transfigura a própria história. E mais: é sabedoria saber viver a graça própria da novidade de cada etapa superada: do bebê à criança, passando pela adolescência e se aproximando do mundo jovem, chegando aos passos à inigualável adultescência. São essas chances de mais vida que marcam nossa biografia. Depende de nós permanecer sujeitos e não escravizados ou dependentes.

A vida pode nos morder e envenenar. Tenha saudade apenas do que ainda não chegou a ser. Desgraça de quem cristaliza em si alguma das estações passadas. Seguir viajando importa. É preciso. Há, sim, este desafio permanente: saber de si, consciente de si mesmo (valor sentido, gosto de viver) e se responsabilizando por posturas e escolhas assumidas. Assim os amanhãs nos amanhecem para mais ser. Vida é "cre-SER". Vida é crise=crie. Sem o S, significando saída.

Bom é, a certa altura do evoluir, lançar um olhar retrospectivo sobre o já vivido (uma olhadela no retrovisor da vida). Facilita avançar, ousar, apostar. Renasce a Esperança, a humana aposta em dar certo e a de fé que é: o melhor está sempre por chegar, pois o Senhor me acompanha com suas boas surpresas. Virá! Deixando por concluídas as mágoas, os medos, e sustentando-se no ânimo de prosseguir através de boas recordações.

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Claro, pode ter havido coisas que machucaram. Feridas são curáveis. E, assim, cada qual aprende como superar decepções e desafeições. Viver pede de nós resiliência, garra e o desejo de ser ensinado por Deus, posto que seu Santo Espírito está derramado em nós, unge-nos com o óleo da alegria e da fortaleza.

Uma dica para este longo caminhar: aprender a gostar de si e perceber melhor suas circunstâncias de vida. Porque Deus me ama, ama os outros. Sim leitora e leitor, a vida é apetitosa, mas frágil. Somos mortais. Aqui não temos a permanência eterna. Somos é peregrinos em direção à FONTE de onde viemos.

O duro: persiste um dilema: cada um como noz, casca dura escondendo algo muito bom, o EU verdadeiro e relacional cuidador. E assim eu e outros somos nós e 'nozes'. Nos debatemos. Refregas que doem. Ferimo-nos, por vezes até deliberadamente. Porém, existe posto em nós um “narcisismo”: o amor próprio... É remédio e pode se tornar veneno. A diferença está na medida.

A consequência permanente: elaborar o que somos, o que não devemos ser e o desejo de mais ser. Aprender com Jesus a lidar com esta tensão que não cessa. O poeta místico Tagore cravou:

"Fizeste-me sem fim, pois este é o teu prazer. Esvazias constantemente este frágil vaso, e de novo sempre o enches com vida mais plena."

Escrito por:
Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.
Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

Missionário redentorista, atua na Diocese de Juiz de Fora/ MG. Escreve sobre Psicoespiritualidade para o Portal A12.

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Por Redação A12, em Espiritualidade

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