Por Cankin Ma Lam Em Espiritualidade Atualizada em 13 AGO 2019 - 11H39

Tenho dificuldade de me entregar a uma relação amorosa

Quando comecei a sério minha caminhada na vida cristã, percebi que tinha muitas coisas para descobrir e conhecer melhor. Uma delas foi a percepção da minha necessidade dos outros. Sempre gostei da ideia de ser independente, mas na vida real isso não existe propriamente.

Leia MaisMeu marido me traiu!O que Nossa Senhora de Guadalupe nos ensina sobre autoestima?O que é a Síndrome do Ninho Vazio?Uma das experiências que mais me ajudou foi a proximidade e a confiança dos outros em mim. Houve uma pessoa em particular, que, embora tendo alguns anos a mais e sendo uma referência para vários outros, não teve medo de se manifestar como alguém frágil e necessitado (como todo ser humano). Talvez essa tenha sido uma das dinâmicas que mais me ajudou a crescer: sentir que outros confiam em mim, que contam comigo.

A respeito do tema presente, da dificuldade de se entregar numa relação amorosa, acredito que talvez boa parte do problema seja o fato de não percebermos que fomos sempre amados primeiro, que alguém deu o primeiro passo (e nós, os cristãos, sabemos – por Revelação – que foi Deus, antes de qualquer outro). Talvez no aspecto histórico-cronológico eu possa pensar que comecei uma relação, mas no aspecto real-pessoal somos sempre precedidos pela ação de outro.

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Pensemos nas relações mais básicas de confiança. Confiamos no outro porque de alguma forma nos "entrega algo" (isso não faz de nós uns egoístas, simplesmente evidencia que somos precedidos pelo dom): por exemplo, ao seguir indicações de uma autoridade uniformizada (polícia, bombeiro), de alguém habilitado para um ofício (professor, médico, advogado), ou ao sentirmos a acolhida e proximidade no trato (família, amigos). Até no nível natural, fica claro que nossa vida não foi gerada por nós mesmos, mas a recebemos de outros.

Na verdade, "quem quer dar amor, deve ele mesmo recebê-lo em dom"*. Acredito que o medo de amar é, muitas vezes, medo de ser amado de verdade. Pois sentir que sou valioso para outra pessoa – ser amado – me compromete, me expõe, manifesta minha vulnerabilidade. Eis a primeira dificuldade a confrontar: entrar na dinâmica do dom.

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Uma última ideia. Muitos sabemos por experiência que um relacionamento nos coloca em contato com sofrimentos (próprios, alheios, ou inclusive gerados pelo próprio relacionamento). Aí encontra-se uma das provas de fogo para verificar a entrega num relacionamento. Aprofundando num tema próximo, o Papa Bento XVI nos deixa um grande ensinamento:

"A íntima participação pessoal nas necessidades e no sofrimento do outro torna-se assim um dar-se-lhe a mim mesmo: para que o dom não humilhe o outro, devo não apenas dar-lhe qualquer coisa minha, mas dar-me a mim mesmo, devo estar presente no dom como pessoa"**.

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Sim, é importante entrar na dinâmica do dom, saber que somos precedidos. O seguinte passo é aceitar o risco de entregar-nos a nós mesmos, o risco de sofrer por um outro. Pois o amor verdadeiro existe quando há doação, e o que deve ser doado não são coisas, mas nós mesmos.

*S.S. Bento XVI, Deus Caritas Est nº 7

**S.S. Bento XVI, Deus Caritas Est nº 34


Escrito por:
Cankin Ma 2020 (arquivo pessoal)
Cankin Ma Lam

Nascido no Equador, filho de pai chinês é apóstolo de plena disponibilidade no Sodalício de Vida Cristã. Atualmente faz caminho ao sacerdócio e estuda teologia na Universidade Católica de Petrópolis.

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