Dentro do relativismo, muitos querem vida “boa” mas sem a bondade ética e moral, ou o compromisso com a vida digna e com valores mais elevados. Confundem o bem com o bem estar momentâneo, nem sempre baseado em atributos que tornam a pessoa realmente humana e de ideal buscado na altivez de caráter e no bem comum, assim como em valores inerentes à dignidade da vida e da comunidade. O profeta Amós recrimina: “Os que bebem vinho em taças e se perfumam com os mais finos unguentos e não se preocupam com a ruína de José... o bando dos gozadores será desfeito” (Amós 6,6.7).
"O ser humano é chamado a fazer a vida boa, na convivência do amor, conforme a vida e o ensinamento do Filho de Deus".
O apóstolo Paulo orienta Timóteo para uma vida íntegra e sem mancha, como testemunho da verdade de Cristo (Cf. 1 Timóteo 6,11-16). De fato, Jesus mostra um caminho diferente ao da correnteza dos instintos. A vida boa se baseia no amor a Deus e ao semelhante. Exige doação de si pelo bem do semelhante, compromisso com valores eternos e que elevam a dignidade humana. Leva a pessoa até à renúncia ao comodismo, ao sacrifício de si pelo bem do outro, à superação dos desejos que impedem a realização do compromisso com a verdade, a honestidade, a dignidade da vida e da pessoa humana, da família, do sexo, dos empobrecidos e de todos os que vivem uma vida sem sentido...
Sem saber carregar a cruz das dificuldades e dos desafios, para viver realizando o bem conforme as coordenadas da justiça fundamentada na verdade de Deus e dos valores inerentes à vida, a pessoa não é capaz de ter a vida boa em qualidade plena. Santo Agostinho lembra que o ser humano não é feliz de verdade enquanto não se encontrar com Deus.
O exemplo de despojamento do Filho de Deus nos chama atenção para a fragilidade de quem fixa o objetivo da vida no que é transitório e circunstancial. Confundir a vida boa só com o prazer momentâneo diminui amplamente a realização humana. O que é material e prazer instintivo é bom, mas dentro de coordenadas que os faça ser usados com parâmetros de responsabilidade ética, apresentados dentro do quadro inerente à natureza criada por Deus e também por Ele explicitado na lei divina.
Muitos valores da vida humana não podem ser relegados só porque também o são considerados pelas verdades religiosas, como, por exemplo, o aborto. Outros valores também são explicitados pela religião, mas são, antes dessa, já inoculados na própria natureza humana e devem ser respeitados.
Na parábola do homem rico e de Lázaro, temos o grande ensinamento da vida “boa” do primeiro, que já teve na terra sua recompensa (Cf. Lucas 16,19-31). Quem sabe usar da vida terrena, vivendo como imagem e semelhança de Deus, cuida da convivência humana e da natureza, como o Criador cuida de todo o universo. A comunidade das pessoas divinas forma uma só unidade de amor. O ser humano é chamado a fazer a vida boa, na convivência do amor, conforme a vida e o ensinamento do Filho de Deus.
Ele nos deu sua vida. Quando também damos a nossa para tornar o planeta mais justo e humano vemos a bondade da vida de sentido. Só quem dá de si pelo bem comum, conforme os valores apresentados por Deus vai colher frutos de plena realização humana. Como é bom vermos pessoas de grande altivez moral por saberem lutar na vida em vista de valores perenes!
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