Redação A12

Grandes valores da Igreja do Oriente

Mesmo após o cisma com a Igreja de Roma, ritos orientais se alimentam dos mesmos sacramentos e da mesma liturgia

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

07 NOV 2019 - 10H19 (Atualizada em 04 NOV 2022 - 16H05)

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Grandes valores da Igreja do Oriente

Nos últimos artigos, estamos conhecendo um pouco mais da vida, da história e da liturgia da Igreja do Oriente, também conhecida como Igreja Ortodoxa. E em sua organização sobressaia a força do Patriarcado do Oriente, o segundo do mundo após Roma. 

Leia MaisVocê sabia que existem Igrejas Católicas Orientais?A Igreja do Oriente também sobreviveu à queda do Império Romano do Ocidente. Com a tomada de Roma pelos Povos Germânicos, Constantinopla ou Bizâncio, a nova Roma seria a capital que sobreviveria a todos os ataques e ameaças, e o Império Romano do Oriente sobreviveria até o ano de 1453.

No Império Bizantino e na Igreja do Oriente havia grandes valores, entre eles podemos destacar a Vida Monástica com seu impressionante legado para toda a cristandade e a força do Patriarcado de Constantinopla, em sua estreita ligação com o imperador.

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A Vida Monástica na Igreja Oriental

A alma da Igreja do Oriente sempre foram os mosteiros com seus monges que se tornariam promotores de espiritualidade, conselheiros populares e defensores da ortodoxia. A vida monástica ocidental, em sua formação e renovação, dependeu muito e bebeu da fonte do Oriente.

Pelo fato de o clero no Oriente poder contrair matrimônio, muitos bispos saiam do quadro dos mosteiros, levando ao mundo leigo sua formação gabaritada e sua espiritualidade monacal.

Os monges contribuíram grandemente com a arte, com a literatura e a tradição litúrgica da Igreja. Davam conselhos e conforto espiritual a todas as classes, sendo muitos deles conselheiros dos nobres e dos imperadores. Assim, se tornaram testemunhas vivas da disciplina, da moral e da vida cristã, mantendo uma tradição de oração contemplativa, de gosto pelo silêncio, pela mística e pela oração.

Dois centros monásticos marcaram a vida cristã medieval com suas propostas de reforma e de liturgia: O Mosteiro de Estúdio, obra de São Teodoro Estudita (959-826), que reformou a vida cenobítica e o Mosteiro de Monte Atos-Montanha Sagrada, fundado pelo monge grego Atanásio, no ano de 963. Foi ali que o monacato bizantino mostrou sua máxima vitalidade.

O mosteiro do Monte Atos, hoje um enclave protegido pelo governo grego, viu o erguimento de mosteiros de todos os povos da Igreja ortodoxa: gregos, georgianos, russos, sérvios e búlgaros. O Monte Atos tornou-se o centro supranacional do mundo ortodoxo.

Lance Missionário ortodoxo

Nos séculos IX e X, a Igreja bizantina conheceu notável impulso missionário, que a levou a trabalhar pela conversão dos búlgaros, dos sérvios, húngaros, tchecos, eslovacos e grande parte da Europa do leste. Este apogeu de sua ação missionária se deu no ano de 989, quando os russos aderiram à fé católica. Até hoje esses povos têm como referência o patriarcado de Constantinopla, mesmo estando organizados em Igrejas autocéfalas, isto é com jurisdição própria e com a constituição de outros patriarcados como o de Moscou que se rivaliza com o de Constantinopla.

O Patriarca de Constantinopla

Leia MaisA Igreja no Império do OrienteO Império BizantinoSe o bispo de Roma era o sucessor do apóstolo Pedro, o patriarca do Oriente considerava-se o sucessor de Santo André. O patriarca era a mais importante autoridade do Império. Era ele o responsável pela Grande Igreja (Hagia Sofia), pela diocese, pela ortodoxia e a disciplina, pelos bens da Igreja e pelas causas jurídicas nas quais era a última instância.

Toda a Igreja bizantina, com seus mosteiros, bens, tribunais e paróquias, estavam sob sua autoridade e influência. Esta autoridade devia, porém, ser aceita pelo Sínodo Permanente, pelos metropolitas, pelos bispos e pelo clero. O patriarca era o papa da Nova Roma, mas diferentemente da evolução da autoridade do Papa para uma autoridade pessoal, a Igreja do Oriente caminhou para uma organização mais sinodal na qual a autoridade somente pode ser exercida na comunhão das igrejas.

Busca pela unidade

Após quase um milênio de separação quando em 1054 o papa e o patriarca se excomungaram reciprocamente Roma e Constantinopla, Oriente e Ocidente buscam se conhecer melhor e se reconhecer na única e indivisível Igreja. Desde o pontificado do santo Padre Paulo VI, como resultados de uma nova eclesiologia do Vaticano II busca-se a união, mesmo apesar das diferenças.

Mas é bom lembrar da existência de outras Igrejas, que sobreviveram em circunstâncias heroicas, e hoje existem como minorias entre pagãos e muçulmanos. Entre elas destacamos a Igreja nestoriana da Índia que não aceitou o Concilio de Éfeso em 431. Existe também a Igreja copta ou monofisita do Egito e Etiópia que rejeitou o Concílio de Calcedônia em 451.

Estas divisões mostram o Corpo de Cristo dilacerado, mas se alimentando dos mesmos sacramentos e da mesma liturgia e há 16 séculos gerando santos e mártires.

A Basílica de Santa Sofia

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A Basílica de Santa Sofia é uma das mais importantes construções do Império Bizantino. Entre os anos 532 e 537, foi construído um grande edifício para ser a catedral de Constantinopla.

A Basílica de Santa Sofia passou por três fases em sua história. A primeira foi anexando a primeira grande construção que existia no lugar onde se encontra. A segunda foi uma reformulação encomendada pelo Imperador Teodósio II, em 415, mas que foi destruída em grande parte por causa de um incêndio. A reformulação que se fez necessária gerou a construção da forma como conhecemos hoje.

O imperador Justiniano I ordenou a reestruturação da basílica logo após o incêndio, providenciando, porém, a construção de uma basílica maior e mais majestosa em relação às anteriores.

Desde sua primeira versão, em 360, até 1453, a Basílica de Santa Sofia, também chamada de Hagia Sofia, foi utilizada pela Igreja Ortodoxa Bizantina. Entre 1204 e 1261, contudo, ela foi ocupada pelos cruzados latinos, transformando-se em um templo do Patriarcado Latino do Oriente. Após 1453, como a cidade foi atingida pela expansão islâmica e conquistada a Basílica tornou-se uma mesquita muçulmana até 1931, quando foi transformada em um museu.

O nome completo da basílica é Igreja da Santa Sabedoria de Deus. A construção é mundialmente famosa não só por seu valor histórico, mas também por sua arquitetura, um projeto do médico Isidoro de Mileto e do matemático Antêmio de Trales, ambos gregos. A edificação possui uma enorme cúpula que é considerada um marco da arquitetura.

Durante quase mil anos foi considerada a maior catedral do mundo, perdendo o reinado apenas para a Catedral de Sevilha em 1520.

A Basílica de Santa Sofia possui um patrimônio cultural riquíssimo, testemunho de várias fases da história, apesar de que muita coisa se perdeu ao longo dos tempos e com as diversas reviravoltas políticas e religiosas que presenciou. Um desses episódios se deu quando o Império Otomano conquistou Constantinopla promovendo a remoção ou cobrindo grande parte de sua decoração artística composta por mosaicos e outras artes com marcas da cultura islâmica.

Depois de quase cinco séculos de domínio islâmico, Kemal Atatürk determinou que a basílica fosse aberta ao público como museu, abrigando e expondo a todos a sua rica história.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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