História da Igreja

A ação da Igreja em tempos de pandemia

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

15 ABR 2021 - 10H55 (Atualizada em 15 ABR 2021 - 11H38)

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O mundo e a Igreja já viveram situações de epidemias em várias fases de sua história, não sendo agora a primeira vez que a Igreja enfrenta a uma emergência sanitária generalizada com a pandemia da Covid-19.

Em meados do século XIV, a praga considerada “a maior catástrofe da história”, chamada “peste negra”, devastou a Europa, deixando um saldo entre 75 e 200 milhões de mortos na Ásia e Europa, cerca de 60% da população mundial, atingindo uma taxa de mortalidade muito maior que o coronavírus provoca até o momento.

Essas crises de saúde pública fornecem lições que precisam ser aprendidas. Comecemos definindo o que seja uma pandemia. A pandemia é definida quando uma doença infecciosa se propaga e atinge simultaneamente um grande número de pessoas em todo o mundo. Em 2009, por exemplo, a gripe suína, que matou milhares de pessoas foi também classificada como pandemia.

Primeiro trabalho – Conscientização

O primeiro trabalho que a Igreja realiza junto à população é o de conscientização, acreditando, ao contrário do que muitos pensam, na força da ciência e da medicina.

Durante a Peste Negra, a desinformação e as crendices pioravam muito o cenário já caótico. Os judeus passaram a ser considerados os maiores culpados pela doença. Essa atribuição se dava, entre outras razões, pelo fato deles não serem da Europa e por viverem em constante migração, desde a idade antiga, passando por várias regiões do mundo até se instalarem no continente europeu.

A culpa maior decorria da acusação de serem os causadores da morte de Cristo. Com isso, acabaram se tornando o “bode expiatório” das multidões enfurecidas. Milhares de judeus foram mortos durante a eclosão da peste, sendo preciso que o papa emitisse decretos determinando uma situação de tolerância e proteção para os judeus.

Até os gatos foram culpabilizados pela pandemia, a partir do fato de serem animais furtivos e, por isso mesmo, considerados "aliados das bruxas". Mais uma vez, foi preciso a ação da Igreja para mostrar o que de fato estava provocando a pandemia e quais seriam as soluções para que ela fosse debelada.

Positivamente, atribui-se à peste negra do século XIV a composição e popularização da segunda parte da oração da Ave-Maria. A expressão “agora e na hora de nossa morte” foi incluída na oração durante o século XIV, quando a epidemia da peste provocava a morte de grande quantidade de pessoas na Europa e na Ásia.

O Venerável Fulton J. Sheen explica essa origem em seu livro “O Primeiro Amor do Mundo”:

“Como se apodera dos dois momentos decisivos da vida: “agora” e “na hora da nossa morte”, sugere o clamor espontâneo das pessoas diante da grande calamidade. A peste negra, que devastou toda a Europa e destruiu um terço de sua população, levou os fiéis a clamarem à Mãe de Nosso Senhor para protegê-los quando o momento [presente] e a morte eram quase um só.”

Assistência humanitária e espiritual

Até hoje, a Peste Negra é considerada a pior pandemia de todos os tempos, mas, antes dela, o mudo todo já tinha sido afetado por pestes e doenças contagiosas. Nestas condições, sobressaia-se o trabalho assistencial e humanitário da Igreja.

Durante a praga de Cipriano, ocorrida no século III, famosa por matar mais de 5 mil pessoas por dia em Roma, os cristãos se dispuseram ao atendimento dos doentes, muitos se mostrando ansiosos para cuidar deles a qualquer custo.

Com isso, o número de cristãos que morreram cuidando dos enfermos em Alexandria, no norte do Egito, foi tão expressivo que o grupo de heróis sem nome recebeu um dia de festa (28 de fevereiro) em sua memória. E eles são venerados até hoje como mártires.

Leia MaisCNBB: Uma instituição de respeitoLuzes e trevas no Ocidente CristãoMais tarde, no final do século VI, outra peste assolou de novo a cidade de Roma, tirando inclusive a vida do Papa Pelágio II. Esse foi um período muito difícil para os cidadãos romanos.

Quando o Papa Gregório I, conhecido na história como São Gregório Magno, foi eleito, logo conclamou a todos para que pedissem a misericórdia de Deus para que a peste fosse encerrada.

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O papa organizou uma grande procissão passando ao redor da cidade, convidando todo mundo a rezar a Deus pelo fim da praga. Uma imagem da Bem-Aventurada Virgem Maria foi conduzida na procissão. Essa imagem hoje é conhecida pelo nome de “Salus Populi Romani”, traduzido como “Saúde do Povo Romano”. Esta é a imagem que o Papa Francisco escolheu para estar na Praça de São Pedro durante sua histórica bênção “Urbi et Orbi” de 27 de março de 2020, junto com o grande crucifixo considerado “milagroso”, quando rezou pelo fim da pandemia da Covid-19.

Uma procissão semelhante, com a mesma imagem da virgem, foi feita no ano de 1348, durante uma peste semelhante. Assim, não é surpresa que o Papa Francisco e muitos católicos romanos continuem buscando o auxílio do Senhor através desta imagem da Virgem Maria, que é associada a muitos milagres ao longo dos séculos.

Com o tempo, uma imagem de São Miguel Arcanjo limpando sua espada foi colocada no alto do Castelo de Sant’Ângelo, como um recordatório constante da misericórdia de Deus e de como Ele respondeu às súplicas do povo.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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