História da Igreja

A Cidade de Nínive

De potência regional a decadência cantada pelo profeta

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

04 SET 2024 - 15H06 (Atualizada em 04 SET 2024 - 15H53)

Archaeology Illustrated

A cidade de Nínive é uma das mais antigas e populosas da antiga Assíria. Localizada na Mesopotâmia, atual Iraque, a cidade foi uma poderosa metrópole de grande importância.

Localizada na margem leste do rio Tigre, em frente à moderna cidade de Mosul, Nínive se desenvolveu extraordinariamente sob os reinados dos reis Senaqueribe e Assurbanípal no século VII a.C, mas depois entrou em decadência, sendo sucessivamente dominada.

No tempo de sua glória, o profeta Jonas, do norte do reino de Israel e que viveu por volta do século VIII a.C. foi chamado por Deus e enviado à Nínive para clamar pela sua conversão, alertando os seus moradores do iminente castigo divino.

A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia chegou até à minha presença. E levantou-se Jonas, e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande, de três dias de caminhada. E começou Jonas a andar pela cidade, e pregava, dizendo: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida. E os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior até ao menor. Esta palavra chegou também ao rei de Nínive; e ele levantou-se do seu trono, e tirou as suas vestes reais, e cobriu-se de saco, e sentou-se sobre cinza. E fez uma proclamação que se divulgou em Nínive, pelo decreto do rei e dos seus grandes, dizendo: Nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem se lhes dê alimentos, nem bebam água; Mas os homens e os animais sejam cobertos de sacos, e clamem fortemente a Deus, e convertam-se, cada um do seu mau caminho, e da violência que há nas suas mãos. Quem sabe se se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos? E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez” (cf. Jonas, 3).

Glórias e decadência de Nínive

As conquistas dos assírios os levaram a formar uma das grandes civilizações da antiguidade, que se estendia até os vales dos rios Tigre e Eufrates. Suas cidades mais importantes estavam situadas no território do atual Iraque.

Ao longo da história, seu poder dependeu quase que inteiramente da força militar. O rei era o comandante-em-chefe do exército e dirigia suas campanhas.

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Embora em teoria fosse monarca absoluto, na realidade os nobres e cortesãos que o rodeavam, assim como os governadores que nomeava para administrar as terras conquistadas, tomavam frequentemente decisões em seu nome, por isso, as ambições e intrigas foram sempre uma ameaça para a vida do governante. Essa debilidade na organização e na administração do império será a maior responsável pela sua desintegração e colapso.

O fim do império ocorreu no ano de 612 a.C., quando o exército, comandado por seu último rei, foi derrotado por uma coligação militar formada pelos caldeus e medos, povos vizinhos ao Reino Assírio. Com a derrota, a cidade de Nínive foi destruída e todo o Império Assírio caiu sob a dominação do Segundo Império Babilônico.

O império que foi se erguendo a partir de 1.300 a.C. perdurando até 612 a.C., legou à história várias características, como sua “máquina de guerra” que compreendia a provável formação do primeiro exército organizado da História, isto é, um exército que devia sua eficiência à sua organização funcional. Foi através dele que os assírios conseguiram submeter várias civilizações da Mesopotâmia ao seu jugo. Os métodos de tortura e o destino dos derrotados, como a prática do empalamento dos adversários, colocavam medo em seus inimigos.

Entre seus governantes são dois os mais destacados e que levaram ao apogeu da civilização.

Senaqueribe (704–681 a.C.): Sob seu reinado, Nínive foi transformada em uma das maiores cidades do mundo antigo, com um sistema avançado de aquedutos, jardins, palácios e templos. Ele construiu um imenso palácio, conhecido como o “Palácio sem Rival”, decorado com relevos detalhados que narravam suas campanhas militares e feitos.

Assurbanípal (668–627 a.C.): O neto de Senaqueribe, Assurbanípal, é famoso por ter criado uma das primeiras bibliotecas do mundo, a Biblioteca de Nínive. Esta coleção monumental de tábuas de argila, escrita em escrita cuneiforme, continha textos literários, científicos e administrativos, incluindo a épica de Gilgamesh.

Descobertas Arqueológicas

Entre 1845 e 1851, foram realizadas várias escavações lideradas por Austen Henry Layard. Elas revelaram os restos da antiga cidade de Nínive, trazendo à luz seus palácios, uma grande muralha que cercava a cidade, várias portas monumentais e a famosa Biblioteca de Assurbanípal. Estas descobertas forneceram um vislumbre crucial da vida, religião, arte e governança da antiga Assíria.

Atualmente, o sítio arqueológico de Nínive se encontra ameaçado tanto por conflitos regionais quanto por atividades humanas, como a expansão urbana de Mosul. A destruição causada pelo Estado Islâmico, que danificou partes significativas do local, representa uma perda irreparável para o patrimônio histórico global. No entanto, esforços contínuos de arqueólogos e historiadores visam preservar o que resta deste testemunho da antiga civilização assíria.

Nínive, portanto, permanece como um símbolo da ascensão e queda das grandes civilizações, mostrando tanto a grandiosidade da história humana quanto a fragilidade de seu legado.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em História da Igreja

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