História da Igreja

A fundação da Igreja Anglicana

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

18 AGO 2020 - 00H00 (Atualizada em 08 MAI 2023 - 13H50)

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PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA

História Moderna – 09

Apesar de ter uma pequena população, com aproximadamente 4 milhões de habitantes, a Inglaterra tinha uma grande influência na Europa. Mantinha ainda a estrutura feudal, mas o governo era centralizado, constituído pela união dos reinos de Lancaster e York.

Eram estes os mais importantes órgãos de governo: Rei, Conselho Privado, Funcionários Provinciais, Administração da justiça e Parlamento (Lordes e Câmara dos Comuns).

A história da criação da Igreja Anglicana foi sempre muito mal contada, mas sabemos que o que realmente provocou o cisma foram razões políticas. Na origem do cisma e da criação de uma igreja reformada e da contenda entre a Inglaterra e Roma, no século XVI, está a “grande questão do rei”.

Os sucessores de Henrique VIII teriam que lidar com uma série de lutas religiosas internas. No governo de Eduardo VI (1547-1553), tentou-se implantar o calvinismo no país. Depois, com Maria Tudor (1553-1558), filha de Catarina de Aragão, ocorreu a reação católica. O casamento da rainha com o católico Felipe II, da Espanha, fez da reforma religiosa uma questão nacional. Em 1559, a rainha Elizabeth I renovou a soberania da coroa sobre a igreja e ratificou a liturgia anglicana, com a mistura de elementos do catolicismo e da doutrina calvinista reformada.

A reforma e a criação da igreja anglicana

Durante dois anos, o rei Henrique VIII lutou para que seu divórcio com Catarina de Aragão fosse decretado em Londres, enquanto ela brigou para que ele fosse negado em Roma. Em meados de 1529, o rei foi forçado a admitir a derrota.

Em julho, o papa proferiu a decisão em favor de Catarina, determinando que o caso fosse julgado em Roma. Para pressionar o papa, o monarca convocou o parlamento e ameaçou legislar contra o clero inglês e a autoridade do papa na Inglaterra.

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Considerado o fundador da igreja anglicana, por razões políticas, separou a Inglaterra da cristandade

Durante sete anos, seguindo o ritmo do acirramento da tensão entre Londres e Roma e das derrotas de Henrique VIII, o parlamento inglês foi pressionado e votou as leis que levaram ao cisma, em 1536, e à excomunhão de Henrique VIII, em 1538.

Essas leis transferiam para o rei os dividendos que o papado recebia em solo inglês, instituíam Henrique VIII como chefe supremo da Igreja da Inglaterra – que ele passava a ter o poder de reformar, combatendo a heresia – e encerrava qualquer ligação com Roma.

Outras medidas aumentaram o controle sobre a Igreja: a Proclamação Real de junho de 1534, que a obrigava a aceitar o rei como chefe espiritual, e a dissolução dos mosteiros (1536-1540), beneficiando o monarca com todos os bens e recursos eclesiásticos. Nenhuma das leis abordava questões teológicas.

Henrique VIII, sempre se declarara católico e chegara a se opor a Lutero (1521-1522). Mas, em 1536, foi preciso se aproximar dos huguenotes alemães, para conter Carlos V.

A corte era partidária da Reforma, mas a facção protestante deixou de controlá-la após a morte de Ana Bolena. Em 1539, o rei impôs a volta ao catolicismo.

Com a morte de Henrique VIII, em janeiro de 1547, Eduardo VI ascendeu ao trono. Muitos se questionaram sobre a natureza da religião então praticada na Inglaterra. Eduardo, como a irmã Elizabeth, foi educado na fé protestante, fato surpreendente, considerando-se o catolicismo declarado pelo pai de ambos.

Foi durante seu curto reinado (1547-1553), que a Inglaterra se tornou protestante.

Uma rainha católica

A guinada em direção ao protestantismo foi brutalmente interrompida pela morte de Eduardo VI, e pela ascensão ao trono da fervorosa católica Mary I, filha de Catarina de Aragão. Ela conclamou os súditos a aderir à fé católica, erradicar toda a legislação protestante de Eduardo VI e restaurar as ligações com Roma. No final de 1554, ela abriu mão do título de chefe suprema da Igreja da Inglaterra e impôs ao Parlamento a votação de uma lei restabelecendo a autoridade papal no reino.

Mas, em 17 de novembro de 1558, Mary I morreu sem deixar descendentes e sem que o catolicismo tivesse reconquistado os ingleses. Assim, coube a sua meia-irmã Elizabeth, filha de Ana Bolena, substituí-la. Pela terceira vez em menos de dez anos, o reino mudou de religião.

A Reforma Anglicana se consolida

Todos acreditavam que Elizabeth fosse protestante, mas ninguém sabia qual seria o grau de protestantismo que ela reintroduziria na Inglaterra. As duas grandes leis votadas pelo Parlamento, entre abril e maio de 1559 provaram isso.

O Ato de Supremacia restaurava a legislação de Henrique VIII (1533-1536), que levara ao rompimento com o papado, e também a promulgada por Eduardo VI em 1547. Em contrapartida, esse Ato Supremo fazia de Elizabeth a governante suprema da Igreja inglesa, e não seu chefe supremo. Era preciso arrebanhar os católicos moderados sem afastar os protestantes menos radicais.

Entre 1563 e 1571, os chamados Trinta Artigos fixaram os pontos da doutrina, estabelecendo que a Bíblia continha tudo o que é necessário para a salvação; que a ideia de purgatório e a veneração de imagens, relíquias e santos era contrária ao ensinamento de Cristo; e que somente dois sacramentos eram atestados pelo Evangelho.

Elizabeth era protestante, mas não uma militante da fé. Estava mais preocupada com a unidade do reino do que com a reforma religiosa. A partir de 1571, ela se declarou contrária a toda e qualquer mudança, no âmbito religioso, forjando assim o que seria chamado de anglicanismo.

Além de pela origem política e teológica, a emergência do anglicanismo se distingue do protestantismo no resto da Europa por outros fatos. A reforma inglesa foi imposta pela monarquia, mas com aceitação do Parlamento.

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Com Elizabeth I a igreja anglicana se consolida

A reforma foi importada do exterior, por ondas sucessivas de exilados protestantes ingleses. E, apesar de todas as reviravoltas, a guinada para o protestantismo não se fez sob um banho de sangue.

As execuções por motivo de não conformidade religiosa foram relativamente poucas: cerca de 570, das quais 239 católicas, entre 1509 e 1603. O caso da repressão das revoltas populares foi diferente, pois esses levantes foram considerados como sedições e, por isso, reprimidos com extrema violência. Mas de modo geral, depois de esmagada a insurreição, a monarquia concedia o perdão aos revoltosos.

A Igreja da Inglaterra deixou de ser católica romana para ser católica reformada. Contribuiu decisivamente para que a reforma de Henrique sobrevivesse o Arcebispo de Cantuária, Thomas Cranmer, mentor teológico da reforma e elaborador do Livro de Oração Comum, que contém a Liturgia básica utilizada na Igreja Anglicana e que no reinado de Elizabeth se torna o líder máximo dos anglicanos.

O anglicanismo hoje

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Ainda hoje, a
igreja anglicana continua como a corrente religiosa predominante no Reino Unido, tendo uma posição de destaque dentro da constituição do país. Com a expansão marítima do país, a denominação se espalhou pelo mundo todo, havendo seguidores da igreja anglicana em boa parte dos antigos territórios que faziam parte do império britânico. O cristianismo de denominação católica segue como segunda religião mais importante.

Parece que aos poucos, debaixo de um necessário sigilo, longe dos olhos e ouvidos da imprensa que pode colocar tudo a perder, vai acontecendo um processo de reaproximação entre Roma e a igreja anglicana.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em História da Igreja

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