Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 12 JAN 2018 - 13H55

A Guerra dos 30 anos

Entre 1618 e 1648, aconteceu na Europa um conflito que marcou a transição do feudalismo para a Idade Moderna. A Guerra dos 30 anos envolveu uma série de países, em volta da região onde hoje está a Alemanha, tendo como elemento catalisador as disputas religiosas decorrentes da Reforma Protestante do século XVI.

Mas as causas dessa guerra também incluem a luta pela afirmação do poder das monarquias europeias, com as consequentes disputas territoriais e conflitos pela hegemonia.

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As causas da Guerra dos Trinta Anos passam pelos problemas da aliança entre a dinastia dos Habsburgos, o Sacro Império Romano-Germânico e a Igreja.

As causas da Guerra dos 30 Anos também passam pelos problemas da aliança da dinastia dos Habsburgo e do Sacro Império Romano-Germânico com a Igreja Católica. Essa aliança de religião com o estado, uma herança medieval, não mais se adaptava ao mundo moderno no qual o poder das monarquias nacionais era cada vez maior.

A estreita ligação entre o Império e a Igreja fazia com que os ideais de independência política ganhassem um viés religioso, como é o caso da Boêmia, palco dos episódios que foram o estopim do conflito.

Por que aconteceu a Guerra?

As tensões religiosas cresceram muito na Alemanha no último quarto do século XVI. No reinado de Rodolfo II houve uma ação extremamente agressiva, com a destruição de várias igrejas protestantes e tomada de várias medidas contra a liberdade de culto.

Por causa dessas atitudes em 1608 foi fundada a União Evangélica. Em resposta, foi fundada, no ano seguinte, a Liga Católica, o que indica a iminência de um conflito.

Na região tcheca da Boêmia, havia um impasse: a maioria da população era protestante, mas o rei, Fernando II era católico. O rei era da dinastia dos Habsburgos, também duque da Estíria e da Áustria e poderia se tornar o futuro imperador do Sacro Império. Fervoroso católico, educado pelos jesuítas e herdeiro da aliança entre os Habsburgos e o papado, o rei passou a reprimir os protestantes com violência impondo o catolicismo como única religião permitida no reino.

Os Defensores da Fé, ramo boêmio da União Evangélica, lideraram uma reação ao rei, invadindo o palácio real em 23 de maio de 1618, e atirando os defensores do rei pela janela do segundo andar. Este episódio ficou conhecido como "Defenestração de Praga", sendo considerado como o marco inicial da guerra.


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Na Defenestração de Praga, em 1618, os católicos foram atacados e lançados pelas janelas do palácio real da cidade por protestantes descontentes com a ação do rei

As hostilidades estenderam-se até 1648, quando o cerco sueco a Praga e francês a Munique, além da ameaça de ataque a Viena, levaram o imperador a capitular. Os termos de paz foram impostos pelos vencedores no que foi chamado de Tratado ou de Paz de Westfália, de 1648.

A Paz de Westfalia e suas consequências

A Paz de Westfália, ou Tratado de Westfália foi o acordo feito entre os países europeus envolvidos na Guerra dos 30 Anos. Na verdade, ele engloba uma série de acordos entre países europeus, pois o conflito havia envolvido desde a Alemanha, os países escandinavos até a Espanha. O modelo dos acordos e tratados realizados entre essas nações passou a ser considerado como um marco da diplomacia e do direito internacional moderno.

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Os tratados assinados na Paz de Westfalia marcam o início da hegemonia da França em toda a Europa

O tratado global foi negociado durante três anos pelos representantes dos católicos e dos protestantes, as duas partes envolvidas na guerra. Reunidos em Münster (onde tinha precedência a França católica) e em Osnabrück (onde tinha precedência a Suécia protestante). As conversações de paz iniciadas em 1644 envolviam também o fim da guerra de 80 anos entre a Espanha e os Países Baixos.

Leia MaisAs consequências da Reforma ProtestanteO Concílio de TrentoA Reforma CatólicaA fundação da Igreja AnglicanaO desdobramento da Reforma LuteranaO tratado de paz entre a Espanha e os Países Baixos foi assinado em 30 de janeiro de 1648. Mais tarde, em 24 de outubro do mesmo ano foi também assinado o tratado de paz entre o Sacro Império Romano-Germânico, os outros príncipes alemães, a França e a Suécia. Os tratados concluídos nessas duas cidades foram depois reunidos no Ato Geral de Westfália em Münster em 24 de Outubro de 1648.

Seus termos incluíam o direito à liberdade religiosa e uma série de alterações territoriais. A França, que desempenhou papel de árbitro internacional conseguiu alguns ganhos territoriais como a Alsácia, Lorena, Catalunha e ainda obteve o reconhecimento dos Três Bispados (Metz, Toul e Verdun).

A Suécia ampliou seu controle sobre o Mara Báltico e recebeu a Pomerânia Ocidental alemã, além de importantes portos situados em rios alemães, dilatando assim seus domínios para fora da Escandinávia. O poder sueco seria recompensado com concessões feitas ao eleitor (príncipe ou bispo que participava da eleição do imperador) de Brandemburgo, dono das vias de acesso entre a Prússia e o Reno. A Espanha perdeu não só os Países Baixos, mas também sua posição de domínio no oeste da Europa e o controle dos mares nas colônias americanas. Várias nações, como os Países Baixos e a Suíça, viram reconhecida a sua independência.

A Paz de Westfália marcou o início da hegemonia da França na Europa e o declínio do poder dos Habsburgos, porém, mais do que isso, afirmou a supremacia do poder temporal (não religioso) sobre o religioso, um aspecto fundamental para a consolidação do poder monárquico nos países europeus.

Quanto à Alemanha, a grande derrotada, o país saiu arruinado e devastado desses 30 anos de guerra, pois os principais campos de batalhas foram suas cidades e principados, que sofreram danos muito graves.

Muitos dos combatentes eram mercenários que tinham na pilhagem sua principal forma de pagamento. Assim, tomavam à força, onde paravam ou por onde passavam os suprimentos necessários a sua manutenção e outras riquezas dos derrotados.

Estima-se que a população da Alemanha tenha caído 20% durante a guerra dos 30 anos. Em algumas regiões esse declínio chegou a 50%, pois vilas inteiras desapareceram. A redução do poder imperial contribuiu para a fragmentação política do país, tornando quase 350 Estados praticamente independentes do poder central, fato que retardou sobremaneira a unificação do país que só aconteceria em fins do século XIX.


Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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