Se olharmos os currículos escolares e os métodos de aprendizagem a história sempre foi uma disciplina desprestigiada, não pelo seu valor, mas pela forma como era ensinada e/ou compreendida.
Na cabeça de muita gente ainda existe aquele velho conceito que afirma que o estudo da história não passa da atividade de aprender ou decorar uma série de datas, personagens e acontecimentos.
Apesar da evolução do modo de compreender a história e seu estudo este pré-conceito ainda persiste no consciente de muitos estudantes que relegam o estudo da história a um segundo plano.
Recentemente o Papa Francisco publicou uma carta dirigida ao Dicastério do Clero, espécie de Ministério do Papa que cuida da educação nos seminários e casas de formação. Indo na contramão do preconceito o Papa pede a promoção de "Um sentido genuíno da história", ou seja, "Um sentido claro da dimensão histórica que é nossa como seres humanos" na formação dos seminaristas.
Nós, historiadores e professores nos enchemos de júbilo e nos sentimos recompensados porque o Papa, com a sua sabedoria e lucidez de sempre, lança luzes sobre o antigo conceito da história e do método de estudo aplicado em nossos seminários e casas de formação voltadas aos que se preparam para a vida sacerdotal e vida religiosa consagrada.
A carta de quatro páginas escrita pelo Papa não se restringe a pedir uma mudança nos livros didáticos de história da Igreja como se o problema fosse apenas textual. Na verdade, o papa pede uma mudança na interpretação e no confronto com a história da Igreja pois, segundo explica “O estudo da história da Igreja não pode ser desconectado da história das sociedades", inclusive a dos vencidos.
O Papa ajuda a superar aquele ditado que afirmava que a “História é sempre escrita pelos vencedores”, sem dar voz aos derrotados e subjugados, como é o caso dos países da América Latina e da África longamente dominados pelos Sistema Colonial e neocolonialista.
É importante perceber como a conceituação da Igreja e de sua história mudou ao longo dos tempos, contribuindo para a sua postura pastoral e presença no mundo.
A Igreja costuma ser definida como uma entidade histórica, proveniente da encarnação do “logos” (Verbo de Deus) e seu ingresso na História Humana a partir da ressurreição de Cristo e de Pentecostes.
Nessa visão a Igreja pode ser entendida como uma comunidade de homens, dirigida pelo governo de homens, dependente de suas ações e de suas fraquezas, mas ao mesmo tempo transcendente do aqui e agora pela graça divina. Deste intercambio de fatores divinos e humanos tem origem a sua história ao longo dos séculos.
O conceito de Igreja depende da interpretação e da compreensão de sua história. Se pensarmos a Igreja como uma instituição puramente divina, teremos um conceito diferente do pensamento de uma Igreja divina e humana, santa e pecadora.
Historiadores e pensadores iluministas. Eles viam a Igreja a partir de sua estrutura social, como uma instituição de ordem puramente natural que está no estado como tantas outras. Os iluministas abstraiam a dimensão divina ou teológica dos acontecimentos centrando atenção numa visão fundada no Antropocentrismo.
Möhler (1796-1838). Representante da Escola de Teologia católica de Tübingen, Alemanha. Para ele a Igreja se dá a partir de uma série de desenvolvimentos do princípio da luz e da vida comunicado por Cristo à humanidade, para uni-la novamente a Deus e para que ela possa dar-lhe glória. Essa visão de Möhler, o leva a fundar seu pensamento ou sua concepção de Igreja e da histórica num quase total teocentrismo.
Historicistas do século XIX. Eles apresentam a História da Igreja inserida na história profana, como se o histórico da Igreja fosse um histórico profano.
Albert Ehrhard (1862-1940). O teólogo e historiador alemão realiza uma indagação e exposição do real decurso da história do cristianismo o qual se manifesta na sua organização visível que é a Igreja, através dos séculos do passado, em toda a amplidão do seu campo de ação e em todos os aspectos da sua vida no presente e para o futuro. A análise histórica não é feita somente a partir dos fatos, apresentados de uma forma quase que automática, mas sim a partir de uma interpretação que pode ser definida como Teologia da história.
Em síntese, entre Pentecostes (ano 33 d.C.) e o Fim dos Tempos (Parusia), o registro e o estudo da história se interessa por todas as manifestações da vida da Igreja, tanto interna (ad Intra) como externamente (ad Extra).
A história vista como a reconstrução de fatos e pessoas é sempre problemática e incompleta porque trata daquilo que não existe mais. A memória do passado é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente. Nesse sentido a história se torna uma representação do passado ajudando, como “Mestra da Vida” a projetar o ser humano e a Igreja para o futuro.
A história como uma operação intelectual demanda uma análise e discurso crítico, servindo-se de testemunhos e de ciências auxiliares porque a memória instala a lembrança do sagrado na história enquanto caminhada dos seres humanos. Por outro lado, o seu ensino estara sempre na fronteira entre história vivida e a memória, em meio a análises, reflexões e novas compreensões.
Mais uma vez voltamos ao Papa Francisco e ao documento escrito ao Dicastério do Clero. Falando da história da Igreja ela a apresenta como"Lugar de encontro e confronto em que se desenvolve o diálogo entre Deus e a humanidade". Diz o Papa:
“O historiador do cristianismo deve ter o cuidado de apreender a riqueza das diversas realidades em que, ao longo dos séculos, o Evangelho se encarnou e continua a encarnar-se”.
Este aprender não se resume simplesmente a conhecer de forma intelectual, mas a vivenciar fazendo a ação dinâmica entre passado-presente-futuro porque a história da Igreja, explica o Pontífice, é também “Um sulco no qual se abrem janelas e olhares sobre o mundo”.
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