História da Igreja

A missão da história da igreja em seus pesquisadores e professores

"Os historiadores contribuem com suas pesquisas, com a análise das dinâmicas que marcam os acontecimentos humanos, para o início corajoso de processos de confronto na história concreta dos povos e Estados". Papa Francisco

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

06 DEZ 2024 - 15H05 (Atualizada em 06 DEZ 2024 - 16H12)

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Se olharmos os currículos escolares e os métodos de aprendizagem a história sempre foi uma disciplina desprestigiada, não pelo seu valor, mas pela forma como era ensinada e/ou compreendida.

Na cabeça de muita gente ainda existe aquele velho conceito que afirma que o estudo da história não passa da atividade de aprender ou decorar uma série de datas, personagens e acontecimentos.

Apesar da evolução do modo de compreender a história e seu estudo este pré-conceito ainda persiste no consciente de muitos estudantes que relegam o estudo da história a um segundo plano.

Recentemente o Papa Francisco publicou uma carta dirigida ao Dicastério do Clero, espécie de Ministério do Papa que cuida da educação nos seminários e casas de formação. Indo na contramão do preconceito o Papa pede a promoção de "Um sentido genuíno da história", ou seja, "Um sentido claro da dimensão histórica que é nossa como seres humanos" na formação dos seminaristas.

Nós, historiadores e professores nos enchemos de júbilo e nos sentimos recompensados porque o Papa, com a sua sabedoria e lucidez de sempre, lança luzes sobre o antigo conceito da história e do método de estudo aplicado em nossos seminários e casas de formação voltadas aos que se preparam para a vida sacerdotal e vida religiosa consagrada.

Conceituação da Igreja e de sua história

A carta de quatro páginas escrita pelo Papa não se restringe a pedir uma mudança nos livros didáticos de história da Igreja como se o problema fosse apenas textual. Na verdade, o papa pede uma mudança na interpretação e no confronto com a história da Igreja pois, segundo explica “O estudo da história da Igreja não pode ser desconectado da história das sociedades", inclusive a dos vencidos.

O Papa ajuda a superar aquele ditado que afirmava que a “História é sempre escrita pelos vencedores”, sem dar voz aos derrotados e subjugados, como é o caso dos países da América Latina e da África longamente dominados pelos Sistema Colonial e neocolonialista.

É importante perceber como a conceituação da Igreja e de sua história mudou ao longo dos tempos, contribuindo para a sua postura pastoral e presença no mundo.

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A Igreja costuma ser definida como uma entidade histórica, proveniente da encarnação do “logos” (Verbo de Deus) e seu ingresso na História Humana a partir da ressurreição de Cristo e de Pentecostes.

Nessa visão a Igreja pode ser entendida como uma comunidade de homens, dirigida pelo governo de homens, dependente de suas ações e de suas fraquezas, mas ao mesmo tempo transcendente do aqui e agora pela graça divina. Deste intercambio de fatores divinos e humanos tem origem a sua história ao longo dos séculos.

O conceito de Igreja depende da interpretação e da compreensão de sua história. Se pensarmos a Igreja como uma instituição puramente divina, teremos um conceito diferente do pensamento de uma Igreja divina e humana, santa e pecadora.

Historiadores e pensadores iluministas. Eles viam a Igreja a partir de sua estrutura social, como uma instituição de ordem puramente natural que está no estado como tantas outras. Os iluministas abstraiam a dimensão divina ou teológica dos acontecimentos centrando atenção numa visão fundada no Antropocentrismo.

Möhler (1796-1838). Representante da Escola de Teologia católica de Tübingen, Alemanha. Para ele a Igreja se dá a partir de uma série de desenvolvimentos do princípio da luz e da vida comunicado por Cristo à humanidade, para uni-la novamente a Deus e para que ela possa dar-lhe glória. Essa visão de Möhler, o leva a fundar seu pensamento ou sua concepção de Igreja e da histórica num quase total teocentrismo.

Historicistas do século XIX. Eles apresentam a História da Igreja inserida na história profana, como se o histórico da Igreja fosse um histórico profano.

Albert Ehrhard (1862-1940). O teólogo e historiador alemão realiza uma indagação e exposição do real decurso da história do cristianismo o qual se manifesta na sua organização visível que é a Igreja, através dos séculos do passado, em toda a amplidão do seu campo de ação e em todos os aspectos da sua vida no presente e para o futuro. A análise histórica não é feita somente a partir dos fatos, apresentados de uma forma quase que automática, mas sim a partir de uma interpretação que pode ser definida como Teologia da história.

Em síntese, entre Pentecostes (ano 33 d.C.) e o Fim dos Tempos (Parusia), o registro e o estudo da história se interessa por todas as manifestações da vida da Igreja, tanto interna (ad Intra) como externamente (ad Extra).

Porque é importante estudar história

A história vista como a reconstrução de fatos e pessoas é sempre problemática e incompleta porque trata daquilo que não existe mais. A memória do passado é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente. Nesse sentido a história se torna uma representação do passado ajudando, como “Mestra da Vida” a projetar o ser humano e a Igreja para o futuro.

A história como uma operação intelectual demanda uma análise e discurso crítico, servindo-se de testemunhos e de ciências auxiliares porque a memória instala a lembrança do sagrado na história enquanto caminhada dos seres humanos. Por outro lado, o seu ensino estara sempre na fronteira entre história vivida e a memória, em meio a análises, reflexões e novas compreensões.

Mais uma vez voltamos ao Papa Francisco e ao documento escrito ao Dicastério do Clero. Falando da história da Igreja ela a apresenta como"Lugar de encontro e confronto em que se desenvolve o diálogo entre Deus e a humanidade". Diz o Papa:

“O historiador do cristianismo deve ter o cuidado de apreender a riqueza das diversas realidades em que, ao longo dos séculos, o Evangelho se encarnou e continua a encarnar-se”.

Este aprender não se resume simplesmente a conhecer de forma intelectual, mas a vivenciar fazendo a ação dinâmica entre passado-presente-futuro porque a história da Igreja, explica o Pontífice, é também “Um sulco no qual se abrem janelas e olhares sobre o mundo”.

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Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em História da Igreja

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