PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA
HISTÓRIA ANTIGA 22
A vida monástica que havia surgido no Oriente, ganhando força, sobretudo, com Santo Antão e São Basílio ganhou organização e método no ocidente, graças, sobretudo, a São Bento de Nurcia. No período final da Idade Antiga e ao longo da Idade Média, os mosteiros beneditinos se espalharam por toda a Europa, ganhando destaque pela sua ação civilizatória, cultural e religiosa.
Graças a isso, foi impressionante a difusão da Regra de São Bento. Seu maior entusiasta foi o papa Gregório Magno (+604), que a prescreveu aos mosteiros romanos e recomendou-a para a Inglaterra e Irlanda. Dali foi comunicada aos alemães e francos.
No reino franco, o rei Carlos Magno foi seu grande entusiasta e, no ano de 802, a impôs a todos os mosteiros do Império. Seu filho Luiz, chamado de o Pio, quis que todo o clero vivesse em comum sob essa Regra. Pode-se dizer que entre os anos de 800 e 1100, todos os mosteiros europeus eram beneditinos. Os soberanos viam nos mosteiros uma força extraordinária de fé, cultura e civilização, ou seja, numa palavra, tudo fizeram para tornar a vida monástica o ideal de vida cristã e de cultura. Os monges tudo fizeram por merecer essa confiança da sociedade, mas correndo o perigo do privilégio e da perda da autonomia.
O entusiasmo imperial pelos mosteiros trouxe um aspecto negativo: tornou-os sempre mais dependentes dos príncipes e independentes dos bispos e do papa, com o risco do enriquecimento. Um mosteiro rico muitas vezes esquecia o princípio beneditino da pobreza, do trabalho manual e da simplicidade, passando perigosamente a viver de rendas. Muitos nobres e ricos passavam suas posses aos mosteiros, com a condição de que neles se rezasse por suas almas. Surgiram mosteiros imensos, ricos, poderosos, com abades também poderosos e ricos, perdendo-se o espírito da Regra de São Bento, que era a obediência, a pobreza e a humildade.
Leia MaisSão Bento: O pai da vida monástica no ocidente O trabalho, essencial na vida monástica, passou a ser quase que um adereço simbólico.
Essa riqueza acumulada fez com que, além da perda dos princípios orientadores da vida monástica, eles passassem a ser objeto da cobiça de senhores e príncipes feudais, que chegavam a se mudar para o interior dos mosteiros, levando toda sua família, servos e soldados, subjugando os monges e fazendo deles simples servidores.
Como os mosteiros tinham uma organização territorial, os abades tinham o seu poder equiparado ao dos bispos, passando a usar as mesmas vestimentas sacras e os mesmos elementos simbólicos do poder do bispo, como a mitra, o anel é o báculo.
Em outras palavras, os mosteiros precisavam readquirir sua independência frente ao poder político, passando urgentemente por uma reforma, para poderem readquirir a simplicidade e o vigor de entes. Isso se daria com a Reforma de Cluny.
A Reforma de Cluny
No ano de 909, foi fundado na localidade de Cluny, na Borgonha francesa, um mosteiro que tinha como ideal recuperar a independência e o espírito beneditino. Por isso, foi logo colocado sob a proteção da Santa Sé, obtendo a garantia de livre eleição de seu abade, sem a interferência do poder secular.
Cluny recuperava, desta forma, toda a riqueza da vida monástica, com especial atenção para a liturgia, que volta aos princípios de rigor e simplicidade, sem a pompa e circunstância de muitos mosteiros europeus. Em pouco tempo, muitos mosteiros se confederaram a Cluny, outros foram fundados no mesmo espírito e a vida beneditina readquire força espiritual em toda a Igreja, sendo a causa principal de sua reforma no século XI, com a Reforma gregoriana.
O abade de Cluny tinha autoridade sobre todos os mosteiros confederados, deles escolhendo os abades. Isso já era um perigo, pois, no espírito da Regra, cabia aos monges escolhê-lo.
A fama de Cluny foi tanta que em pouco tempo quase toda a vida beneditina dependia desse mosteiro. Mas, a fama foi também o seu perigo: doações e mais doações tornaram-no rico, esplendoroso, chegando a ter a maior igreja do Ocidente. E assim, novamente foi prejudicado o espírito genuíno da Regra. Um mosteiro rico não tinha necessidade de trabalho. Numa época em que cresceu muito o culto às relíquias na Igreja, os mosteiros se rivalizavam em ter o maior número delas, sendo isso motivo de destaque e ostentação.
Surgiu assim uma nova reforma dentro da reforma: alguns beneditinos se refugiaram nos fundos de uma floresta, como num deserto, em busca da liberdade para encontrar a Deus, para o trabalho manual e celebrar a liturgia com simplicidade.
São Roberto de Molesme (+1112) com outros 21 companheiros fundou o “Mosteiro Novo” em Cîteaux, no ano de 1098, de onde vem o nome da nova Ordem beneditina, os Cistercienses.
No ano de 1112, entrou em Cîteaux, com um grupo de 30 companheiros, Bernardo, que, em 1153, fundou o mosteiro de Claraval (Clairvaux).
São Bernardo recolocou a vida monástica no princípio da pobreza e da obediência. Foi tamanha a aceitação da reforma cisterciense que, em 1153, já havia 350 mosteiros seguindo sua interpretação da Regra.
O gênio de São Bento que propunha um equilíbrio entre a ação e a oração a partir de sua Regra e com isso o seu ideal sempre pode ser restaurado em sua simplicidade, para o bem da Igreja e da sociedade.
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