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História da Igreja

A organização da vida monástica e a expansão Beneditina

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

05 JUL 2021 - 16H00 (Atualizada em 06 JUL 2021 - 09H02)

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Mosteiro de São Bernardo Clairvaux


A vida monástica que havia surgido no Oriente, ganhando força, sobretudo, com Santo Antão e São Basílio ganhou organização e método no ocidente, graças, sobretudo, a São Bento de Nurcia. No período final da Idade Antiga e ao longo da Idade Média, os mosteiros beneditinos se espalharam por toda a Europa, ganhando destaque pela sua ação civilizatória, cultural e religiosa.

Graças a isso, foi impressionante a difusão da Regra de São Bento. Seu maior entusiasta foi o papa Gregório Magno (+604), que a prescreveu aos mosteiros romanos e recomendou-a para a Inglaterra e Irlanda. Dali foi comunicada aos alemães e francos.

No reino franco, o rei Carlos Magno foi seu grande entusiasta e, no ano de 802, a impôs a todos os mosteiros do Império. Seu filho Luiz, chamado de o Pio, quis que todo o clero vivesse em comum sob essa Regra. Pode-se dizer que entre os anos de 800 e 1100, todos os mosteiros europeus eram beneditinos. Os soberanos viam nos mosteiros uma força extraordinária de fé, cultura e civilização, ou seja, numa palavra, tudo fizeram para tornar a vida monástica o ideal de vida cristã e de cultura. Os monges tudo fizeram por merecer essa confiança da sociedade, mas correndo o perigo do privilégio e da perda da autonomia.

O entusiasmo imperial pelos mosteiros trouxe um aspecto negativo: tornou-os sempre mais dependentes dos príncipes e independentes dos bispos e do papa, com o risco do enriquecimento. Um mosteiro rico muitas vezes esquecia o princípio beneditino da pobreza, do trabalho manual e da simplicidade, passando perigosamente a viver de rendas. Muitos nobres e ricos passavam suas posses aos mosteiros, com a condição de que neles se rezasse por suas almas. Surgiram mosteiros imensos, ricos, poderosos, com abades também poderosos e ricos, perdendo-se o espírito da Regra de São Bento, que era a obediência, a pobreza e a humildade.

Leia MaisSão Bento: O pai da vida monástica no ocidente O trabalho, essencial na vida monástica, passou a ser quase que um adereço simbólico.

Essa riqueza acumulada fez com que, além da perda dos princípios orientadores da vida monástica, eles passassem a ser objeto da cobiça de senhores e príncipes feudais, que chegavam a se mudar para o interior dos mosteiros, levando toda sua família, servos e soldados, subjugando os monges e fazendo deles simples servidores.

Como os mosteiros tinham uma organização territorial, os abades tinham o seu poder equiparado ao dos bispos, passando a usar as mesmas vestimentas sacras e os mesmos elementos simbólicos do poder do bispo, como a mitra, o anel é o báculo.

Em outras palavras, os mosteiros precisavam readquirir sua independência frente ao poder político, passando urgentemente por uma reforma, para poderem readquirir a simplicidade e o vigor de entes. Isso se daria com a Reforma de Cluny.

A Reforma de Cluny

No ano de 909, foi fundado na localidade de Cluny, na Borgonha francesa, um mosteiro que tinha como ideal recuperar a independência e o espírito beneditino. Por isso, foi logo colocado sob a proteção da Santa Sé, obtendo a garantia de livre eleição de seu abade, sem a interferência do poder secular.

Cluny recuperava, desta forma, toda a riqueza da vida monástica, com especial atenção para a liturgia, que volta aos princípios de rigor e simplicidade, sem a pompa e circunstância de muitos mosteiros europeus. Em pouco tempo, muitos mosteiros se confederaram a Cluny, outros foram fundados no mesmo espírito e a vida beneditina readquire força espiritual em toda a Igreja, sendo a causa principal de sua reforma no século XI, com a Reforma gregoriana.

O abade de Cluny tinha autoridade sobre todos os mosteiros confederados, deles escolhendo os abades. Isso já era um perigo, pois, no espírito da Regra, cabia aos monges escolhê-lo.

A fama de Cluny foi tanta que em pouco tempo quase toda a vida beneditina dependia desse mosteiro. Mas, a fama foi também o seu perigo: doações e mais doações tornaram-no rico, esplendoroso, chegando a ter a maior igreja do Ocidente. E assim, novamente foi prejudicado o espírito genuíno da Regra. Um mosteiro rico não tinha necessidade de trabalho. Numa época em que cresceu muito o culto às relíquias na Igreja, os mosteiros se rivalizavam em ter o maior número delas, sendo isso motivo de destaque e ostentação.

Surgiu assim uma nova reforma dentro da reforma: alguns beneditinos se refugiaram nos fundos de uma floresta, como num deserto, em busca da liberdade para encontrar a Deus, para o trabalho manual e celebrar a liturgia com simplicidade.

São Roberto de Molesme (+1112) com outros 21 companheiros fundou o “Mosteiro Novo” em Cîteaux, no ano de 1098, de onde vem o nome da nova Ordem beneditina, os Cistercienses.

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Estátua de São Bernardo


No ano de 1112, entrou em Cîteaux, com um grupo de 30 companheiros, Bernardo, que, em 1153, fundou o mosteiro de Claraval (Clairvaux).

São Bernardo recolocou a vida monástica no princípio da pobreza e da obediência. Foi tamanha a aceitação da reforma cisterciense que, em 1153, já havia 350 mosteiros seguindo sua interpretação da Regra.

O gênio de São Bento que propunha um equilíbrio entre a ação e a oração a partir de sua Regra e com isso o seu ideal sempre pode ser restaurado em sua simplicidade, para o bem da Igreja e da sociedade.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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