História da Igreja

A origem dos calendários

O desenvolvimento humano trouxe consigo a preocupação de registrar o tempo e sua passagem

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

04 NOV 2024 - 10H12 (Atualizada em 04 NOV 2024 - 12H21)

TippaPatt / Shutterstock

Sempre que o final do ano em curso se aproxima, cresce nas empresas, associações e mesmo entre as pessoas comuns a preocupação em organizar o seu calendário para o ano novo.

Quantos serão os feriados, quais deles prolongados, qual será a data das férias, como serão organizados os eventos e compromissos mais importantes?

Essas e outras perguntas fazem com que os olhos estejam fixos no calendário e na forma mais correta de aproveitar bem os dias, meses e o ano.

Nesse contexto surge uma pergunta curiosa: Como surgiram os calendários e como se fez a sua organização?

Origem dos calendários e da marcação do tempo

Os calendários possuem uma origem muito antiga, que pode ser localizada a partir do início das atividades agrícolas praticadas pelos seres humanos, porque havia a necessidade de se prever as estações do ano e os melhores períodos para o plantio e para a colheita.

Desta forma, o homem passou a observar o céu, percebendo a regularidade da posição e transcursos dos astros e outros corpos celestes, principalmente do sol e da lua. Pela sua observação o homem foi aprendendo a fazer a contagem de tempo entre duas luas novas com o período dos dias entre elas, estabelecendo assim a primeira noção de mês.

A variação da altura do sol no horizonte permitiu também a descoberta do fenômeno que hoje é chamado de equinócio. Sua periodicidade foi sendo calculada até formar o que temos hoje, um ano formado por aproximadamente doze vezes da duração do mês lunar. Este cálculo levaria mais tarde à divisão do ano em doze meses, totalizando 365 dias.

Como esta conta não era exata, cada povo da antiguidade tentou solucionar o problema ao seu modo, de uma forma diferente. Alguns povos antigos evoluíram bastante na contagem do tempo graças aos estudos astronômicos como os babilônios, persas e chineses. Os egípcios foram os primeiros a criar os doze meses com trinta dias, acrescentando outros cinco dias extras no final de cada ano; os babilônios e gregos, por sua vez, a cada período de 19 anos acrescentavam um décimo terceiro mês.

Com o poderio do Império Romano e com suas conquistas, os calendários passavam por diversas combinações devido à extensão do império e organização de cada povo conquistado. Mas foram eles que começaram o processo de uniformização na contagem do tempo, estabelecendo um calendário de dez meses já no século VII a.C.

No ano 46 a.C. o imperador Júlio César encarregou o grego Sosígenes, de organizar um calendário mais preciso, recebendo ele a denominação de Juliano, tendo um ano de 365 dias dividido em doze meses de 30 e 31 dias, menos fevereiro que passou a ser bissexto.

Como o movimento de rotação da terra ao redor do sol chamado de translação é de 365 dias, 6 horas, 9 minutos e 10 segundos, esta pequena diferença começou a interferir na exatidão do calendário, sendo necessário mexer nele mais uma vez. Foi então que a Igreja Católica entrou em ação.

Igreja determina a unificação dos calendários

A partir da declaração do cristianismo como religião oficial do Império Romano, a contagem dos anos passou a ser feita de uma forma diferente. Até século VI sua contagem não era feita a partir do nascimento de Cristo, como hoje se faz, e sim a partir da posse do Imperador Diocleciano. No ano de 525, o abade Dionísio, a mando do Papa, passou a estudar uma nova forma de contagem dos anos, determinando que o ano 01 seria o nascimento de Cristo e não mais se referiria a um imperador que havia perseguido duramente os cristãos.

Para chegar a esta definição ele partiu da data de fundação da cidade de Roma, indicada no ano 753 a.C. A partir daí o abade foi somando os anos de todos os governos desta época, chegando a 726 anos, desde a fundação da cidade até a posse do imperador Augusto. Como Jesus teria nascido no ano 27 do reinado do imperador Augusto, durante o governo de Herodes na Palestina. Somando tudo, obteve 753 anos até o nascimento de Jesus.

A partir de então, o nascimento de Cristo foi considerado o ano UM da Era Cristã, pois na matemática romana não existia o número zero. Mas hoje se sabe que o abade Dionísio provavelmente não contou os quatro anos em que Augusto César governou com o nome de Otávio, erro confirmado pelo fato de Herodes ter mandado matar Jesus quando ainda era bebê. Hoje sabe-se que Herodes morreu no mês de um eclipse lunar e que segundo os astrônomos, tenha ocorrido um eclipse lunar no ano 4 a.C. Então, na verdade, já estaríamos no ano 2028, e não em 2024. Mas corrigir esse erro daria muita confusão, ficando o dito pelo não dito.

No 1582, o Papa Gregório XIII, reformou o calendário Juliano, suprimindo dez dias de diferença que haviam se acumulado durante os séculos, estipulando ainda a supressão de três anos bissextos a cada 400 anos, para evitar nova defasagem. Desta forma é que hoje utilizamos teve o seu início, mantendo os mesmos nomes dos meses do calendário Juliano.

Não se esqueça, porém, que o calendário é só uma convenção porque dependendo da situação em que vive a pessoa aparentemente o tempo passa mais rápido ou menos veloz. Também não podemos nos esquecer que cada calendário diz respeito a uma parcela da população mundial, existindo hoje quatro calendários principais: dos judeus, dos muçulmanos, dos chineses e o nosso calendário cristão. O importante é que vivamos cada segundo com o sabor de eternidade!

Lembre-se desta origem e evolução quando estiver organizando sua agenda ou quando olhar para o calendário que está sobre a sua mesa de trabalho ou na memória de seu celular.

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Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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