História da Igreja

As catacumbas de Roma

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

19 DEZ 2024 - 08H46 (Atualizada em 20 DEZ 2024 - 12H24)

GarryKillian / Shutterstock

No dia 31 de maio de 1578, algumas pessoas que trabalhavam na Via Salaria Nuova, enquanto escavavam uma pedra vulcânica conhecida como puzolana, acabaram por encontrar uma catacumba. A descoberta revelou sarcófagos, inscrições e pinturas com cenas do Antigo e do Novo Testamento.

O evento causou sensação em Roma, pois a descoberta de uma catacumba repleta de arte sacra encantou aos cristãos, levando a uma busca por novas catacumbas e um estudo preliminar desses antigos lugares de enterros cristãos. As primeiras descobertas foram as catacumbas de Priscila, Valentim, Pedro, Marcelino e Calixto.

A descoberta das catacumbas

Depois disso, por quase três séculos, a exploração das catacumbas foi bem aleatória, até que um italiano chamado Giovanni Battista De Rossi, ao aceitar um serviço na Biblioteca do Vaticano, se interessou particularmente pela catalogação de inscrições cristãs primitivas.

Já na metade do século XIX, em 1849, ao examinar um vinhedo na Via Ápia, o mesmo De Rossi encontrou uma placa de mármore com parte de uma inscrição onde se lia “NELIUS MARTYR”, levando-o a concluiu que a placa se referia ao papa São Cornélio, martirizado em 253.

Ele convenceu o Papa Pio IX a comprar aquele vinhedo para iniciar novas escavações e como resultado acabou descobrindo a antiga catacumba de São Calixto. No interior dessa catacumba foram encontrados muitos testemunhos da vida e do martírio de inúmeros cristãos, como a outra metade da placa de mármore que o levou às pesquisas com as letras “COR” sob os restos mortais do Papa Cornélio e “EP”, abreviação de EPISCOPUS, que significa “bispo”.

Numa câmara com os ossos de São Cornélio, foram encontrados os túmulos de outros cristãos da época e também foram descobertos os túmulos originais de Santa Cecília e de São Tarcísio, cujas relíquias hoje estão em algumas basílicas de Roma.

O que mais chamou a atenção dos arqueólogos foi a descoberta de uma capela onde haviam sido sepultados nove papas dos séculos III e IV. Ao saber da descoberta, o papa Pio IX visitou as catacumbas em 11 de maio de 1854.

Parte das tumbas descobertas estavam vazias, porque as relíquias haviam sido transferidas para algumas igrejas pelos primeiros cristãos ou doadas para outras igrejas do mundo.

A descoberta original de Giovanni Batista De Rossi foi a primeira de uma longa lista de achados de grande valor para os católicos.

O que são as catacumbas

Vladimir Mulder / Shutterstock
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As catacumbas eram galerias subterrâneas formando verdadeiros labirintos de vários quilômetros, nas quais os primeiros cristãos enterravam os seus mártires e, excepcionalmente, realizavam alguns ritos litúrgicos. Muitas foram escavadas e ampliadas perto dos sepulcros de famílias importantes de Roma, cujos proprietários, recém-convertidos, as abriram para os irmãos na fé.

As catacumbas eram conhecidas pelo nome “in catacumbas”, um termo grego antigo composto por duas palavras que significam “perto da cavidade”, uma referência a um afundamento no terreno da Via Ápia perto do cemitério que ainda hoje é visível.

Antes de ser utilizado como cemitério, o local era ocupado por minas de pedras vulcânicas chamadas pozolanas, que ficavam a cerca de dez metros acima do nível do solo, que deram origem a um cemitério pagão que foi depois reaproveitado pelos cristãos.

A palavra “catacumbas”, por um processo de expansão de significado e assimilação, passou gradualmente a ser utilizada para identificar todos os cemitérios hipogeus, chamados atualmente de “catacumbas”.

Com o Edito de Milão, promulgado pelo Imperador Constantino no ano de 313, terminou oficialmente o tempo de perseguição aos cristãos que puderam começar a construir igrejas e adquirir terrenos para novos cemitérios. As catacumbas, porém, continuaram sendo utilizadas até o século V.

Com as invasões dos Povos Germânicos que destruíam e saqueavam tudo à sua passagem, inclusive as catacumbas, que costumavam ficar fora das muralhas da antiga cidade, os papas decidiram transferir as relíquias dos mártires e dos santos para as igrejas de dentro da cidade. Pouco a pouco, as catacumbas foram perdendo relevância e caindo praticamente no esquecimento até serem redescobertas pelos operários em 1578.

Mas, séculos antes, elas tinham sido refúgios para os cristãos sepultarem os seus mortos e expressarem visivelmente a sua fé, através símbolos gravados nas paredes que chegam a ser as primeiras expressões da arte cristã.

As catacumbas hoje

Hoje, é uma experiência muito forte caminhar pelos túneis subterrâneos onde os cristãos perseguidos de Roma levaram os corpos e os sepultaram, tendo entre eles uma multidão de mártires.

Várias catacumbas estão disponíveis para a visitação pública, sendo muito procuradas pelos devotos e turistas e, seguramente, com o Jubileu de 2025 deverão receber muito mais turistas. Quase todas estão localizadas ao longo das estradas, como a Via Ápia, que saiam da cidade em direção à todas as partes do antigo império. Elas eram edificadas na forma de intrincados labirintos subterrâneos que muitas vezes chegavam a alcançar vários quilômetros.

Nos seus muros estão cavados os ossuários, compostos por vários nichos de formato retangular, também conhecidos como lóculos, nos quais podiam ser encontrados um ou mais corpos de cristãos. Depois eram encerrados com uma placa de mármore ou telhas de argamassa. Existem pelo menos 40 catacumbas conhecidas na cidade de Roma, sendo a mais famosa a de São Calixto.

A nova catedral de Notre-Dame

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em História da Igreja

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