História da Igreja

As Ordens Militares

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

28 ABR 2023 - 15H50 (Atualizada em 30 ABR 2023 - 20H37)

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PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA

HISTÓRIA MEDIEVAL 19

O combate aos opressores da verdadeira fé sempre foi estimulado pela Santa Igreja, como também o incentivo da prática de obras de misericórdia, sobretudo, relacionadas ao atendimento das necessidades dos órfãos, viúvos e peregrinos.

Isso explica em parte o surgimento das chamadas Ordens Religiosas Militares como um ramo da Vida Religiosa Consagrada no período medieval. A principal finalidade dessas ordens era o cuidado dos peregrinos que visitavam Terra Santa, defendendo-os dos perigos da viagem, fornecendo abrigo, cuidados com sua saúde e bem-estar e, de maneira geral, promovendo os interesses do Reino de Cristo em meio aos muçulmanos e pagãos.

A partir de 1099, quando surgiram os primeiros reinos cristãos no Oriente e também na Península Ibérica onde acontecia a luta contra os invasores muçulmanos começaram a se constituir as primeiras Ordens Militares.

Essas famílias religiosas foram colocadas sob a dependência imediata da Santa Sé que podia indicar algumas regras religiosas já existentes que deviam ser adaptadas à finalidade própria de cada ordem. Um grão-mestre eleito pelos cavaleiros ou nomeado pelo papa exercia a autoridade maior sobre eles.

As ordens militares receberam muitos favores e privilégios da Igreja e assim logo experimentam um grande desenvolvimento, em número de membros e no fortalecimento de seu patrimônio. Doações e heranças feitas pelos membros das ordens e por membros da nobreza da época ajudam a aumentar esse patrimônio. Por outro lado, o uso do patrimônio será um dos motivos de seu declínio por causa das rivalidades entre elas, principalmente depois que cessou o domínio cristão na Terra Santa (fins do século XIII) e ainda pelo surgimento de conflitos de interesses políticos e de sucessão.

Tendo perdido o seu objetivo algumas ordens militares foram extintas pela Santa Sé e seu patrimônio unido ao de outras ordens ou da própria Igreja. O caso mais famoso e que gera controvérsias até hoje é o dos templários.

Algumas ordens subsistem até hoje, porém, perderam muito do seu significado. Uma delas é a Ordem de Malta, outra é a dos Teutônicos.

As três grandes ordens militares da história

Destacando-se por sua ampla ação estão as ordens dos Hospitalários (Ordem de Malta), dos Templários e dos Teutônicos.

Os Hospitalários de São João de Jerusalém

Foi a primeira fundação desta nova forma de Vida Religiosa. Como o nome indica, a princípio a ordem não era de guerreiros e seus membros dedicavam-se ao serviço de um hospital estabelecido no início do século XI, próximo ao Santo Sepulcro. No início do século XII, após a fundação do reino latino na Palestina, a ordem assumiu uma índole mais militar, propondo-se a dar hospedagem aos peregrinos, defendendo-os em sua peregrinação por regiões pouco seguras.

Com a extinção do domínio ocidental na Palestina (em 1291, com a queda de Akko), a ordem se retirou para Chipre, indo depois para Rodes, onde estabeleceu o centro de suas atividades. Em 1523, por causa da pressão dos turcos otomanos saiu da ilha de Rodes e em 1530, se estabeleceu na ilha de Malta.

No século XVIII, a ordem entrou em declínio e, em 1798, os cavaleiros tiveram que ceder a ilha de Malta a Napoleão Bonaparte. Muitos de seus bens no continente europeu foram secularizados. A sede da ordem, que desde o século XVI era conhecida como “Ordem de Malta”, passou a ser Catânia, no sul da Itália. Atualmente, sua sede é um domínio extraterritorial encravado em Roma. O Papa Leão XIII, em 1879, conferiu ao grão-mestre dos Cavaleiros de Malta as honras de cardeal e o título de Eminência. A ordem goza até hoje de soberania e representação diplomática.

A Ordem Teutônica

Inicialmente chamada de Ordem de São João de Jerusalém, nasceu como uma ordem hospitalar que tinha como inspiração a regra de Santo Agostinho, servindo no centro que tratava de feridos em Santa Maria Nova, nas proximidades de Jerusalém.

Em 1189, por ocasião do cerco de São João de Acre, dirigido pelos cristãos, os irmãos fundaram um hospital militar e, no ano seguinte, se constituíram como uma autêntica ordem militar, expandindo-se pela Europa, onde foram fundando províncias religiosas que exerceram notável influência através dos séculos.

Em 27 de novembro de 1929, foi dada uma nova regra à ordem, que hoje conserva um caráter totalmente religioso, atuando como uma organização de caridade em países da Europa central seguindo o lema: "Ajudar, defender, curar".

Os Cavaleiros Templários

A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, conhecida como Cavaleiros Templários, Ordem do Templo ou simplesmente como Templários, foi fundada em 1128, como uma ordem militar de Cavalaria que desde o início assumiu um caráter totalmente militar.

Com o passar dos tempos o seu histórico, sua organização e seu destino final a transformou na mais lendária e fascinante de todas as ordens da história em termos de imaginário popular dando base para a publicação de livros e realização de filmes totalmente fantasiosos.

Por estarem totalmente envolvidos em assuntos políticos especialmente na França, a ordem foi dissolvida em 1312, por pressão do rei e por decisão do papa. Jacques de Molay, seu grão-mestre, foi levado à fogueira em uma pequena ilha do rio Sena.

No seu auge a ordem chegou a ter quase 20 mil membros, dos quais 10% eram militares.

Outras ordens militares

Além das três grandes ordens militares existiram outras de menor projeção. A Península Ibérica conheceu um grande número de fundações, o que se entende levando-se em conta a ocupação muçulmana que ali pesou sobre os cristãos durante vários séculos.

Na Espanha

A Ordem de Calatrava, instaurada em 1158 sob a Regra Cisterciense, foi aprovada em 1164 pelo Papa Alexandre III.

A Ordem de São Tiago da Espada ou de Compostela, instituída em 1170, nasceu com a finalidade de proteger os fiéis que peregrinavam ao santuário de Compostela.

A Ordem de Alcântara, cujos inícios datam de 1176, sob a Regra Cisterciense.

A Ordem de Montesa, que foi fundada pelo rei de Aragão em 1317, após a supressão dos Templários, com o fim de defender o litoral nacional contra os sarracenos. A ordem herdou parte dos bens dos templários e permaneceu sob a tutela da Ordem de Calatrava.

A administração destas ordens, assim como o título de grão-mestre, passou, por disposição do Papa Adriano VI, para o rei da Espanha, em 1523, desde que elas não perdessem o seu caráter religioso. Aos cavaleiros de Calatrava, São Tiago e Alcântara, o Papa Paulo III concedeu, em 1540, a licença para contraírem matrimônio.

Em Portugal

A Ordem de Aviz foi fundada em 1147 e aprovada pela Santa Sé em 1162, sendo incorporada à Ordem de Cristo, instituída em 1318, após a supressão dos Templários e aprovada pelo Papa João XXII, em 1319. À semelhança da Ordem de Calatrava, a de Cristo visava a defesa das fronteiras do reino contra os mouros, que ameaçavam Algarves e o seu grão-mestre era o monarca de Portugal.

Outros países

Também na Itália, na França e na Alemanha aconteceram fundações de ordens militares, destinadas a atender as necessidades religiosas e civis da população nacional. Mas aquelas que não conseguiram se adaptar às mudanças dos tempos foram desaparecendo.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em História da Igreja

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