"Pode dizer-se que o céu e a terra se unem na celebração do Concílio. Os santos do céu, para proteger o nosso trabalho; os fiéis da terra, continuando a rezar a Deus; e vós, fiéis às inspirações do Espírito Santo, para procurardes que o trabalho comum corresponda às esperanças e às necessidades dos vários povos. Isto requer da vossa parte serenidade de espírito, concórdia fraterna, moderação nos projetos, dignidade nas discussões e prudência nas deliberações." (Papa João XXIII)
No dia 11 de outubro, a Igreja do mundo inteiro celebra uma data de grande importância; os 60 anos da abertura do Concilio Vaticano II (1962).
Papa há apenas 90 dias, João XXIII anunciou sua convocação no dia 25 de janeiro de 1959, festa da conversão de São Paulo Apóstolo. Depois de uma intensa fase de preparação, o Concílio Ecumênico Vaticano II seria aberto solenemente em 11 de outubro de 1962.
Declaração do papa causa grande surpresa
Depois de uma celebração do solene pontifical na Basílica Ostiense, na conclusão do Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos, na Sala Capitular do mosteiro beneditino adjacente, o papa João XXIII encontrou-se com os cardeais que haviam participado do rito. Na ocasião, comunicou sua vontade de convocar o Concílio e de realizar ainda um Sínodo para a diocese de Roma. Haviam se passado 90 anos desde a realização do Concílio Ecumênico Vaticano I (1870).
A reação dos cardeais presentes ao anúncio foi de um pesado silêncio. Não se sabe exatamente se os purpurados ficaram atônitos ou se não compreenderam bem o alcance das palavras do papa ao fazer o anúncio.
Se por um lado, o Concílio assustou os cardeais, por outro lado, no começo foi encarado até com certa leviandade: Vários jornais, inclusive alguns de renome internacional escreveram artigos e comentários dizendo que "o Concílio era coisa interna da Igreja e que nada causaria ao mundo e nem mesmo à própria Igreja".
Mas estavam redondamente errados. Após o anúncio começou um intenso processo de preparação até a inauguração, em 11 de outubro de 1962, na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
O objetivo do Concílio pode ser sintetizado na busca do tão sonhado "aggiornamento", ou a atualização da Igreja para aproximá-la do mundo atual.
O trabalho foi dividido em quatro sessões e cerca de 2.000 Padres Conciliares do mundo inteiro participaram do Concílio.
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Na abertura do Concílio Vaticano II, o Papa João XIII fez uma profissão de fé no poder do Espírito Santo. Disse ele que na véspera da abertura alguns padres conciliares tinham perguntado se ele conseguiria dormir.
A preocupação de convocar e realizar um concílio ecumênico, reunindo em Roma toda essa gente, era grande demais!
O papa referiu-se ao que Cristo lhe perguntara:
“Papa João, quem dirige a Igreja: és tu, ou o Espírito Santo?" A resposta lhe parecia evidente: "é o Espírito Santo". Daí a repreensão: então por que te preocupas? O 'papa bom' concluiu em tom jocoso, como era de seu feitio: 'Já que o Espírito Santo dirige a Igreja, o resultado está garantido. Podemos dormir tranquilos. E devemos fazê-lo, porque nossos assessores prepararam amplo material para estudo e precisamos estar bem descansados!'”
Na abertura do Concílio, João XXIII expressou a imagem de Igreja que ele gostaria que saísse do Vaticano II, fazendo um discurso contra "os profetas catastróficos que sempre anunciam eventos calamitosos, como se o fim do mundo estivesse iminente".
Para a missão da Igreja, o papa apresentou uma conotação diferente, a da misericórdia, que ele mesmo vivia em relação a todos:
"Sempre a Igreja se opôs aos erros; às vezes, condenou-os com a máxima severidade. No dia de hoje, todavia, a Esposa de Cristo prefere fazer uso da misericórdia mais que o da severidade. Ela acha que deve ir ao encontro das necessidades atuais, mostrando a validade de sua fé mais que as condenações".
Presença Redentorista
O Concílio Vaticano II contou com a participação de 22 bispos redentoristas entre os padres conciliares, além de 23 padres que atuaram como peritos e teólogos, contando entre eles o grande moralista Pe. Bernard Haering.
Atualidade do Concílio
O Concílio Vaticano II se tornou o evento mais decisivo da história da Igreja no século XX. O idoso São João XXIII não pôde ver sua conclusão porque faleceu em 3 de junho de 1963. Quem prosseguiu o Concílio foi São Paulo VI, que foi eleito seu sucessor em 21 de junho de 1963.
O Concílio Vaticano II foi encerrado depois de três anos, em 8 de dezembro de 1965, deixando como legado não apenas uma série de importantes documentos que seguem sendo de grande atualidade, mas um novo modo de ser Igreja marcado pelos conceitos de colegialidade e sinodalidade.
Recentemente, o Papa Francisco declarou:
“Podemos afirmar que o último Concílio Ecumênico ainda não foi totalmente compreendido, vivido e aplicado. Estamos a caminho e uma etapa fundamental desse caminho. É o que estamos vivendo com o Sínodo e que nos pede para sair da lógica do 'sempre foi feito assim', da aplicação dos velhos esquemas habituais, do reducionismo que acaba sempre querendo enquadrar tudo no que já é conhecido e praticado”.
Sem dúvida alguma, 60 anos depois de sua abertura, permanece o fato de que o Concílio, mesmo não tendo sido ainda totalmente compreendido, preparou a Igreja e os cristãos para viver e procurar soluções para um cristianismo mais encarnado e uma Igreja mais atenta aos desafios de seu tempo.
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