PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA
HISTÓRIA MEDIEVAL 20
A espiritualidade e o forte misticismo da Idade Média possibilitaram o surgimento de vários movimentos ligados à vida de pobreza.
Leia MaisA lenda do Santo GraalConcílio Vaticano II: 60 anos de sua aberturaA maioria desses movimentos era estimada pelo povo, recebia ajuda e sustentação e contava com o beneplácito da Igreja oficial, mas em várias circunstâncias alguns desses movimentos descambaram para o rigorismo e fanatismo deixando de ser reconhecidos, sofrendo a censura e sendo até mesmo perseguidos pela Igreja.
Um dos casos mais conhecidos é o dos cátaros que também recebem o nome de albigenses por terem na cidade francesa de Albi, uma de suas mais fortes bases.
A origem do movimento
Corria o século XII e na Europa existiam clérigos que pregavam por conta própria, sem terem uma ligação maior com a Igreja. Eles eram até chamados de “bons cristãos” e contavam com a ajuda das pessoas. Chegou, porém, um momento em que renunciaram à Igreja e sairam da comunhão.
A heresia dos cátaros ou puros tem sua origem nos Balcãs, mais precisamente na Bulgária, sendo um resquício da antiga doutrina herética do maniqueísmo, que enxergava tudo a partir de um dualismo entre espírito e matéria, entre bem e mal.
O catarismo foi ficando estranho para a sociedade europeia porque previa o seu fim pela negação do trabalho manual. O movimento renegava também o exército, o matrimônio, a hierarquia civil e eclesiástica e a propriedade privada.
Seus membros condenavam tudo o que era matéria tida como má, se opunha aos sacramentos, especialmente à eucaristia; negavam a encarnação, a ressurreição e se opunham tanto ao Antigo como ao Novo Testamento. O único sacramento que aceitavam era o chamado Consolamentum que se conseguia pela imposição das mãos por um membro mais perfeito ou puro.
Os cátaros possuíam uma boa organização interna, contando com uma própria hierarquia e por volta de 1150, o movimento já tinha se difundido por todo o sul da França. Sua doutrina, apesar de estranha, exercia um fascínio entre o povo mais simples devido à pobreza e modéstia, e por fazer uma crítica feroz à riqueza, ao poder da Igreja e à mundanização de bispos e padres.
Em 1167, os cátaros franceses realizaram uma assembleia no Castelo de Saint-Félix de Caraman e nela oficializaram o abandono do credo católico em quatro paróquias da região, abraçando as novas diretrizes do catarismo. Nessa mesma assembleia foram nomeados os bispos de cada região e fixados os limites de cada diocese.
O maniqueismo
No século XII, por causa das cruzadas aumentou muito o fluxo de pessoas entre a Europa e a Terra Santa, facilitando os contatos entre Oriente e Ocidente. A partir daí, ideias e filosofias foram trazidas de terras distantes ganhando adeptos europeus. Nesta época as cruzadas estavam no auge e os mercadores traziam essas ideias junto com suas mercadorias que buscavam. Uma delas, que daria origem ao catarismo, era o antigo maniqueísmo.
Tratava-se de uma religião de origem persa, que deve seu nome ao lendário Manés ou Manion Manique, que viveu entre 215-276, na Babilônia. Ele dizia ser “filho da luz”, seguia os ensinamentos de Zoroastro e defendia uma reforma religiosa radical que procurava a transcendência e a libertação das ilusões da vida terrena e corpórea.
Para Maniqueu, o mundo material era totalmente mal e só o espiritual era bom. Como parte de sua doutrina ensinava que havia dois reinos, o da luz, dominado por Deus e o das trevas, domínio de Satã. O homem, preso por Satã, lutava sem descanso para se libertar das trevas e readquirir a luz, mas sua libertação só podia acontecer através de uma vida austera que se conseguia pelo jejum, pela abstenção do trabalho e pela castidade.
Esta doutrina se estendeu da África do Norte até a China e, mesmo combatida pela Igreja e pelos governos prolongou-se até a Idade Média, quando ressurgiu com os cátaros.
O medo das represálias fez com que os cátaros mantivessem seu credo em silêncio, mas a popularização do movimento passou a atrair mais gente e os seguidores passaram a agir abertamente, pois já dispunham da proteção de muitos senhores feudais.
Cruzada Albigense
No início a Igreja tentou conter a expansão do movimento buscando a reconversão, sobretudo, de seus líderes, enviando pregadores que clamavam pela sua volta, mas isso não surtiu o efeito desejado. Quando o papa Inocêncio III assumiu o pontificado em 1198, a Igreja endureceu as medidas suspendendo os direitos eclesiásticos de diversos bispos do sul da França e agindo contra os líderes do movimento.
Em 1208, quando o representante da Igreja junto ao movimento foi assassinado os ânimos se acirraram de vez acontecendo diversos casos de violência contra os seguidores da nova doutrina e da parte deles para com membros e propriedades da Igreja.
O Papa Inocêncio III tentou conter os abusos de ambos os lados escrevendo bulas e reduzindo o luxo em Roma, tão severamente criticado. Para conseguir aliados apoiou a fundação de ordens mendicantes que viviam a pobreza radical como a dos franciscanos e os dominicanos.
Em 1209, Inocêncio III autorizou uma primeira cruzada contra os cátaros e albigenses que seria comandada pelo rei da França, Felipe II e por cavaleiros franceses. Nesta ação militar foram envolvidos quase 30 mil soldados.
Em 1224, com o apoio do papa Honório III (Inocêncio III faleceu em 1216), começou a segunda fase da Cruzada Albigense quando o então rei da França, Luís VIII, liderando os barões do norte francês, empreendeu uma nova investida que durou cerca de três anos com muitas conquistas até chegar a Avignon, onde terminou o cerco contra os hereges.
De ambos os lados havia interesses e negociatas políticas, o movimento foi derrotado, mas suas ideias fundamentais permaneceram e volta e meia renascem na Igreja e na sociedade.
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