No dia 28 de junho, o calendário dos santos da Igreja nos traz a memória de São Paulo I, papa e irmão de sangue de Estevão II, que o antecedeu no Trono de Pedro.
Isso mesmo. Este é um fato realmente extraordinário que a maioria dos católicos desconhece e somente aconteceu em duas ocasiões. Dois papas irmãos de sangue assumindo o trono de Pedro. E nessa ocasião, no início da Idade Média, um sucedeu o outro como Sumo Pontífice.
Ambos eram romanos, filhos de Constantino, que era um simples trabalhador de olaria, mas que, em sua sabedoria, soube proporcionar aos filhos (treze ao todo) uma educação que jamais teve. Órfãos desde tenra idade, foram educados na escola patriarcal de Latrão.
Ao falecer Estevão II, no ano de 757, no Palácio de Latrão, em Roma, antes mesmo de seu funeral, a maioria do clero, nobres e pessoas de Roma chamaram o diácono Paulo para a sucessão do Papa o seu irmão biológico. Ele tinha sido fiel a seu irmão até o fim e agora, aclamado, estaria seu lugar, para guiar a Igreja em uma situação completamente nova.
Durante os primeiros séculos da cristandade, uma pessoa de vida cristã exemplar podia ser aclamada como papa, mesmo que não fosse bispo ou cardeal, mas depois isso deixou de acontecer, com o papa sendo sempre escolhido por votação secreta.
O pontificado de Estevão II (752-757) foi curto, mas historicamente importante. Durante o seu pontificado aconteceu o afastamento de Roma em relação à Bizâncio, com a sua passagem para a proteção do reino dos Francos.
Até então o Império do Oriente, com sua sede em Bizâncio ou Constantinopla, tinha o domínio sobre Roma e parte da Itália central, tendo como sede o Exarcado de Ravena. Estes territórios foram tomados pelos lombardos e o rei Astolfo chegou a invadir a cidade de Roma, saqueando as catacumbas localizadas fora da cidade.
O Papa viu essa situação como propícia para se livrar do domínio do Império do oriente, solicitando ajuda ao rei dos francos, Pepino, chamado de “o Breve” por causa de sua baixa estatura. Ele veio em socorro de Roma e, com duas campanhas militares, retomou os territórios, colocando-os sob a soberania do Papa Estêvão II que, em troca, reconheceu e consagrou Pepino como rei dos francos.
Com a doação de Pepino, o Breve, justificada por uma suposta antiga doação de Constantino, começavam a nascer os futuros Estados Pontifícios.
Entre o Papa Estevão e o rei Pepino, houve então um acordo recíproco: O rei se empenharia em proteger a Igreja romana, reconhecendo seu domínio temporal na Itália, e Estevão (no dia 28 de julho de 754) ungiria solenemente Pepino como protetor de Roma, com o título de “patricius romanorum”.
Esse costume do Papa ungir e consagrar o rei dos francos se tornaria tradição com a formação do Sacro Império Romano.
Paulo I, irmão de Estevão II, como Sumo-Pontífice se consagraria como o primeiro papa com um duplo poder: Ele seria, ao mesmo tempo, o líder espiritual da Igreja, por ser o Vigário de Cristo na terra e, ao mesmo tempo, seria soberano temporal dos territórios italianos.
Esse foi um evento de grande importância porque, depois de séculos, a Itália não dependia mais de reis estrangeiros. Mas, ao mesmo tempo, a missão da Igreja começava perigosamente a se misturar com políticas terrenas, o que nos séculos vindouros seria um grande complicador da missão recebida de Cristo.
Ao suceder seu irmão Estevão II, o Papa Paulo I começou a experimentar as primeiras novidades da nova situação entrelaçando questões políticas e territoriais com os debates teológicos.
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No campo espiritual o Papa Paulo I resgatou as relíquias de muitos mártires cristãos, retirando-as das catacumbas quase sempre expostas aos saques, expondo-as para visitação dos fiéis nas igrejas de Roma.
O Papa se tornou conhecido pela sua caridade praticada sem alarde, visitando regularmente os presidiários, perambulando de uma prisão para outra, à noite, ajudando famílias, resgatando os que estavam prisioneiros por causa de dívidas.
Seu pontificado foi, entretanto, bem curto. No início do verão foi atingido por uma “febre maligna”, provavelmente malária, vindo a falecer em um mosteiro perto da basílica de São Paulo fora dos Muros. Não sendo possível celebrar imediatamente o seu funeral, porque no dia de sua morte havia um tumulto em Roma, seu corpo foi enterrado primeiro na Basílica de São Paulo e, três meses depois, foi transferido para São Pedro.
Já na ocasião de sua morte passou a ser venerado Santo, sendo assim reconhecido pela Igreja. Paulo I deu início a uma dinastia de papas que chegaria o de número seis (São Paulo VI) já em nossos dias, na ocasião do Concílio Vaticano II.
Outro caso semelhante ao destes dois irmãos de sangue, de fé e de missão seria encontrado mais tarde com os irmãos Bento VIII e João XIX.
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