História da Igreja

Igreja: Na Idade Média instituição ganhou força política

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

12 NOV 2021 - 16H05 (Atualizada em 16 NOV 2021 - 08H17)

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Para podermos compreender bem o que foi a Idade Média, período que abrange o tempo que vai do ano 476 ao ano 1453, portanto, do século V ao século XV, é necessário entender como a Igreja Católica se desenvolveu nesse período, uma vez que ela foi a única instituição que sobrou do falido Império Romano. Durante os 10 séculos do período que se costuma chamar de "Idade Média" foi que o poder da instituição religiosa, juntamente com a fé cristã, cresceu e expandiu-se de maneira colossal.

Os historiadores do período humanista, que coincide com o tempo do Renascimento Artístico, cultural e comercial da Europa, chamaram a Idade Média de “Idade das Trevas”, mas de trevas ela teve pouco ou quase nada.

Nos séculos em que o Império Romano foi a grande potência do mundo, a Igreja foi conquistando cada vez mais fiéis e se estruturando como instituição humana, apesar dos cristãos terem sido barbaramente perseguidos durante uns 300 anos. Justamente a força do sangue, a coragem que brotava da fé e sua alta moralidade que fez com que a Igreja se expandisse, sobretudo, quando começou o período de decadência do Império.

A partir do século IV, os cristãos foram aceitos e incorporados ao Império Romano, até então seu maior inimigo. Já nas últimas décadas do século V, antes do seu fim, o Império tornou o cristianismo a religião oficial dos romanos, proibindo outras crenças e rituais chamados de serem praticados.

A Igreja se desenvolveu tanto que se tornou “um estado dentro de outro estado”, e graças à sua eficiente administração, foi a única instituição vitoriosa à queda do Império Romano, subjugado pelos povos germânicos que foram adentrando ao Império. Ao longo da Idade Média, membros do clero e da hierarquia assumiriam funções na administração dos reinos e até mesmo do império.

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A partir do século IV, com o Imperador Constantino, começaram a ser definidos os ritos cristãos pelos líderes da Igreja, mesmo que até hoje se discuta a veracidade da conversão do imperador Constantino, se ela foi verdadeira ou se não passou de uma jogada política diante do enfraquecimento global do Império.

Leia MaisVitória da Armada Cristã ajuda a propagar a Oração do RosárioA reforma gregoriana e a necessidade de reforma da IgrejaA Necessidade de Reforma na Igreja e a Ação do Papa Gregório VIINos primeiros séculos, havia cinco patriarcados espalhados pelas principais cidades do Império Romano – Alexandria, Constantinopla, Roma, Antioquia e Jerusalém. Esses patriarcados estavam em pé de igualdade; só aos poucos a Igreja de Roma foi ganhando proeminência entre eles. Isso sempre será razão de conflitos entre as principais igrejas, porque o desejo é que o Primado de Roma fosse apenas simbólico, tipo “Primus inter Pares”, e não de fato, como se tornou.

Com o estabelecimento das normas da fé cristã e com a definição de sua doutrina a partir da ação do magistério e com o efeito dos sínodos e concílios, a Igreja ganhou uma conotação de católica (que significa universal), expandindo-se por todo o orbe, mas fixando sua sede em Roma, se tornando apostólica e romana. Neste tempo que vai surgir então o conceito de Cristandade.

A partir da decadência do Império Romano, outro fator que vai levar ao seu fortalecimento como uma instituição será o fato dos membros do alto clero serem a única classe letrada de então. Ao lado das igrejas e mosteiros é que surgirão as escolas e o sistema educacional será fortemente influenciado pela escolástica, pelo menos até o desenvolvimento das universidades, na passagem da Idade Média para a Idade Moderna.

O poder e a influência da Igreja continuarão ganhando força ao longo dos séculos seguintes, e isto se constituirá num problema, pois pessoas sem vocação religiosa serão atraídas pelos cargos da hierarquia e a Investidura Leiga, bem como as igrejas próprias serão um grande desafio, que exigiria muito trabalho para que a Igreja pudesse ser de novo purificada.

Entre os fatores que ajudam a explicar a ascendência social e política da Igreja com poder de mando sobre tudo e sobre todos, está a autoridade pontifícia, que se torna referência em todo o mundo conhecido de então. O papa será o solucionador de conflitos, o árbitro de questões e o que legitima a autoridade dos reis e príncipes.

Durante o Império Carolíngio, a partir do século VIII, a Igreja católica passou a ser beneficiada com a concessão de amplos territórios, que ajudariam a formar os estados pontifícios, que somente deixariam de existir em fins do século XIX.

O Império Carolíngio teve início com o domínio do norte da Europa pelos francos, numa política expansionista em direção a todo o continente europeu. Pepino, o Breve, que iniciou a dinastia Carolíngia, derrotando a dinastia Merovíngia - séculos VI a VIII -, conquistou terras na Península Itálica, fazendo doação ao Papa. Brotou daí a aliança dos francos com o pontificado que seria depois sacramentado pela coroação do imperador.

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Poder e riqueza da Igreja Católica

A partir do século X, com a desagregação política que caracterizou a Idade Média, sem um poder centralizado no continente europeu que pudesse comandar os diversos povos que nele viviam, a Igreja Católica obteve espaço para se expandir cada vez mais. A descentralização política do feudalismo e a ruralização da economia reforçariam ainda mais a posição privilegiada da Igreja Católica, e sua influência passou a abarcar todos os campos da vida humana e social, tanto que as autoridades civis, graças à “Lei das Duas Espadas” somente obtinham reconhecimento e logo, obediência dos súditos, a partir da obediência à Igreja.

A crise do pontificado nos séculos IX e X, chamados justamente de “Séculos de Ferro do Pontificado” abalou, mas não fez por diminuir a autoridade e a força da Igreja, que chegou a capitanear os principais movimentos e forças deste tempo na convocação e realização das cruzadas, das quais foram realizadas 07 oficiais e outras tantas não oficiais.

O crescimento do poder da instituição eclesial era inconteste e as doações só faziam por aumentar seu poder e sua influência. Primeiro os monges, durante os primeiros séculos e depois as Ordens Mendicantes, na virada da Idade Média para a Idade Moderna se responsabilizaram por evangelizar a zona rural, as cidades e os novos ambientes que surgiam, como as universidades.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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