Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 27 MAR 2019 - 10H55

Martinho Lutero publica teses contra a Igreja Católica

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA

História Moderna - 07

Nesta série de artigos relacionados a História da Igreja no período moderno, estamos revisitando a Reforma Protestante encabeçada, sobretudo, por Martinho Lutero. Não se trata aqui de defender ou atacar esta ou aquela denominação. Trata-se, simplesmente, de conhecer um fenômeno que mudou a configuração religiosa e, por que não dizer, política, da Europa nos tempos modernos, trazendo reflexos até nos dias de hoje.

Inquietações

No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano, teólogo e professor universitário alemão Martinho Lutero pregou na porta da Igreja de Todos os Santos, em Wittenberg, as suas teses, que provocariam o maior cisma no cristianismo ocidental e dariam origem a um novo universo de correntes religiosas: o protestantismo. 

A Reforma Protestante nasceu das 95 teses com críticas duras feitas ao catolicismo pelo religioso da Saxônia, no leste da atual Alemanha. Nessas teses, Lutero condenava os excessos e a corrupção da Igreja Católica, em especial a prática de pedir pagamento em dinheiro – as chamadas ‘indulgências’ – para o perdão dos pecados cometidos. Na teologia católica, a indulgência é a remissão parcial ou total do castigo temporal imputado a alguém por conta dos seus pecados. 

Naquele tempo, qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, fosse para si mesmo, fosse para um parente já morto que supostamente estivesse no Purgatório. À época, um frade dominicano de nome Johann Tetzel, nomeado pelo arcebispo de Mogúncia e pelo papa Leão X, era o intermediário de uma campanha de arrecadação de fundos destinados a financiar a construção da Basílica de São Pedro, em Roma. Embora o príncipe eleitor Frederico III da Saxônia tivesse proibido a venda de indulgências em Wittenberg, muitos membros da igreja e simples fiéis viajavam para aquela cidade a fim de comprá-las. Quando retornavam aos seus lugares de origem, mostravam a Lutero, que por ali andava, o perdão que haviam adquirido, afirmando que não mais precisariam arrepender-se de seus pecados. 

A frustração de Lutero com aquela prática levou-o a escrever as teses (na véspera do dia de Todos os Santos, quando haveria peregrinação à igreja de Wittenberg), que foram rapidamente entendidas pela população, traduzidas do latim para o alemão e amplamente distribuídas. As ideias condenavam o que Lutero acreditava ser a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências significavam. Para todos os efeitos, contudo, Lutero não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências. Uma cópia chegou ao Vaticano e esforços foram despendidos para convencer Lutero a mudar de parecer.

discussão - reforma protestante

As teses de Martinho Lutero e de outros reformistas como Calvino geraram amplas discussões em toda a Europa

Surge o Movimento Protestante

No mesmo ano, Lutero recusou-se de novo a abjurar seus escritos diante do imperador Carlos V, que acabou publicando o famoso Édito de Worms, declarando Lutero um fora-da-lei e herege e dando permissão a quem quer que fosse que o matasse sem que pudesse advir alguma consequência. Protegido por Frederico III, Lutero começou a trabalhar na tradução da Bíblia para o alemão, uma tarefa que levaria 10 anos para concluir

A expressão "protestante" para designar os dissidentes apareceu pela primeira vez em 1529, quando Carlos V revogou a disposição que permitia ao governante de cada estado do Sacro Império escolher se queria respeitar e fazer cumprir o Édito de Worms ou não. Diversos príncipes e outros defensores de Lutero publicaram um protesto, declarando que sua lealdade a Deus suplantava sua lealdade ao imperador. Passaram então a serem conhecidos pelos opositores como ‘protestantes’.

Paulatinamente a expressão se estendeu a todos aqueles que acreditavam que a Igreja deveria ser reformada, mesmo os que viviam fora da Alemanha.  Por ocasião da morte de Lutero (de causas naturais), em 1546, suas crenças revolucionárias já constituíam o alicerce da Reforma Protestante, que, ao longo dos três séculos subsequentes, exerceu forte influência sobre a civilização ocidental.

As 95 Teses de Martinho Lutero que foram afixadas na porta da igreja no dia 31 de outubro de 1517 geraram uma grande repercussão, pois nelas o então frade convidava os teólogos católicos a uma discussão sobre penitência, indulgência e salvação pela fé. Martinho Lutero condenava em suas teses o que identificava como avareza e paganismo no seio da Igreja Católica, atacando a prática de um abuso.

imprensa - reforma protestante

A invenção da imprensa facilitou a divulgação das idéias reformistas

Rapidamente, as teses de Martinho Lutero se espalharam pelo mundo católico europeu. Em apenas duas semanas, as teses foram traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. De tal forma que, nesse período, se espalhou por toda a região da Alemanha e, nos próximos dois meses, conquistaria boa parte da Europa. Embora o Papa não tivesse sido questionado diretamente pelas 95 Teses de Martinho Lutero, nem quanto a autoridade ou quanto as indulgências, a resposta foi severa e rápida. Lutero foi chamado de alemão bêbado que não tinha consciência do que escrevia pelo próprio Supremo Pontífice da Igreja Católica. E o Papa continuou pressionando, exigindo que Martinho Lutero retirasse seus escritos, em 1520. O alemão se recusou a anular seus escritos e foi excomungado em 1521 e passou a ser considerado como um fora-da-lei pelo imperador Carlos I, da Espanha.

O protesto de Martinho Lutero foi se tornando o movimento inicial da Reforma Protestante, que acabaria por apresentar novas condutas e práticas para os cristãos, modernizando a prática medieval do culto católico. Da Reforma Protestante surgiram novas igrejas também cristãs, mas que não deviam mais reverência ao papado.

Colunista padre Inácio

.:: Principais afirmações da Reforma Luterana

 

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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