Uma polêmica surgida há alguns dias, sobre a cor vermelha usada pelos cardeais da Igreja, levou o Cardeal Arcebispo de São Paulo à mídia para explicar o sentido da cor, aproveitando para frisar a missão dos cardeais na Igreja.
Leia MaisO que significa a cor vermelha nas vestes dos cardeais?Na verdade, desde longa tradição, os cardeais não usam o vermelho, usando sim a cor púrpura, sendo, por isso mesmo, chamados de os “purpurados” da Igreja.
Em sua origem, o Colégio dos Cardeais tinha a missão de assessorar o papa, assistindo-o em vários assuntos referentes ao governo da Igreja.
A palavra 'cardeal' pode significar 'principal' ou 'essencial', tendo também origem num termo usado em marcenaria ou arquitetura como sinônimo de 'firmemente encaixado'. Cardo ou cardinalis pode ser ainda entendido como o batente da porta.
Hoje se usa o termo incardinado para se referir a alguém que é ligado a uma igreja, paróquia ou diocese.
O Colégio Cardinalício tem a sua origem no presbitério ou senado presbiteral, um grupo de presbíteros que rodeava o bispo de Roma e outros bispos de dioceses mais significativas.
A partir do século VI, na passagem da Idade Antiga para a Medieval, os presbíteros das 28 igrejas paroquiais de Roma receberam o nome de “Presbitery Cardinalis, incardinatus ou cardinales”. Seus membros eram incorporados de forma estável a uma igreja.
Havia ainda os “Diaconi Cardinales”, responsáveis pelo socorro dos pobres das 07 regiões de Roma, ajudando também o papa nos ofícios divinos e na administração dos bens.
Por fim, havia os 04 “Diaconi Palatini”, que serviam o papa no palácio pontifício, e mais os 07 bispos suburbicários, responsáveis pelas igrejas vizinhas a Roma e que acompanhavam o papa nas funções litúrgicas, dando um total de 53 cardeais.
Esta organização permaneceu quase a mesma, sem maiores alterações, até 1586, quando o papa Sixto V elevou o número dos cardeais para 70, sendo 14 diáconos, 50 presbíteros e 06 bispos.
Então já havia legislação e tradição de que apenas do meio dos cardeais é que se escolhia o papa, e este, a seus legados. Os cardeais reunidos em assembleia para a eleição do novo papa formavam o conclave.
A definição foi se completando e, como hoje, os diáconos, bispos e presbíteros das igrejas mais antigas de Roma assumem diversas funções, entre elas a de representar o papa ou substituí-lo em certas ocasiões, sendo chamados de cardeais. Sua vestimenta púrpura os distingue dos demais. Aos poucos, assumem a coordenação dos diversos organismos da Igreja que hoje formam a Cúria Romana. Os cardeis reunidos formam o consistório e, ao participarem a eleição do novo papa, formam o conclave.
Nos séculos XI e XII, o Colégio Cardinalício atingiu a plenitude de seu poder, com seus membros sendo tratados como “príncipes da Igreja”. Seus postos eram disputados pelas famílias da nobreza, pelos reis e príncipes da Europa.
No período conhecido como Idade Moderna, os membros do Colégio Cardinalício formaram uma espécie de senado, cuidando da legislação e administração da Igreja. Eram fortes e poderosos, chegando a receber metade das rendas e benefícios da Igreja. Muitas vezes foram constituídos por pessoas originárias da nobreza italiana, sendo manipuladas pelo império.
No falecimento do papa, os cardeais são convocados ao conclave a fim de eleger o seu sucessor. Neste período a Igreja enfrenta muitas dificuldades, e dentro do Colégio Cardinalício formam-se tendências conflitantes, fazendo com que certos conclaves tenham longa duração. Tivemos o caso de um conclave que chegou a durar 34 meses!
Na eleição do papa, as pressões eram muitas e alguns reis podiam vetar candidatos, agindo através de cardeais de sua nação. Apesar de não ter uma base jurídica, este direito vigorou até o início do século XX.
Neste tempo, a Cúria Romana era formada por notários, chanceleres, bibliotecário e secretários. A administração geral era feita pela Câmara Apostólica e pelo Cardeal Camerlengo. Os assuntos referentes ao Sacramento da Penitência eram despachados pela penitenciaria (século XII). No século XIII se constituiu os auditores e a rota romana.
Os exageros e desvios da missão original do colégio dos cardeais e da cúria romana fizeram com que aumentasse cada vez mais os anseios pela reforma que pudesse restituir à Igreja o seu espírito original.
Em 1588, o Papa Sixto V reorganizou e sistematizou a Cúria Romana, sendo formada agora por 15 Sagradas Congregações, 06 de caráter puramente civil. Esta sistematização permaneceria até 1908, quando o Papa Pio X promoveu nova reforma. Existiam ainda as comissões ou congregações para assuntos particulares, como a Congregação das Regalias, que depois foram supressas.
Em nossos tempos, o Papa João Paulo II, o Papa Bento XVI e, por último, o Papa Francisco promoveram novas mudanças, atualizando a Cúria Romana e o Colégio dos Cardeais às necessidades da Igreja moderna, diminuindo a burocracia e a morosidade de seus organismos.
Os Cardeais participam do governo da Igreja, dirigem os dicastérios e formam os consistórios como órgão consultivo e deliberativo. Entre todos eles destaca-se a figura do Secretário de Estado, que é o braço direito do papa, a quem são confiadas as relações diplomáticas da Igreja.
A Secretaria de Estado é o órgão central do Vaticano e o cardeal secretário trata da política eclesiástica, sendo quase que um ministro das relações exteriores, responsável pelas Nunciaturas Apostólicas que existem nos países com os quais o Vaticano mantém relações diplomáticas.
Na atualidade, especialmente após o Concílio Vaticano II, uma das marcas fortes do Colégio dos Cardeais é a internacionalização. A Europa já não possui o predomínio, tanto assim que, em 2013, pela primeira vez na história, se escolheu um papa Latino-Americano para governar a Igreja.
Leia MaisEm Consistório público, Papa oficializa nome de novos cardeais"O que é o Consistório"Pelas regras atuais, o Colégio dos Cardeais não deve ter mais do que 175 membros. Porém, sempre que o número dos eleitores estiver abaixo de 120, o papa deve convocar um novo consistório, a fim de nomear novos cardeais. E só podem ser eleitores os que tiverem menos de 80 anos de idade.
O Brasil possui, na atualidade, oito cardeais, dos quais seis poderão ser convocados a Roma para formar o conclave quando o trono de Pedro estiver vacante.
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