História da Igreja

O Colégio dos Cardeais e sua missão na Igreja

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

26 OUT 2022 - 11H05 (Atualizada em 26 OUT 2022 - 11H47)

Uma polêmica surgida há alguns dias, sobre a cor vermelha usada pelos cardeais da Igreja, levou o Cardeal Arcebispo de São Paulo à mídia para explicar o sentido da cor, aproveitando para frisar a missão dos cardeais na Igreja.

Leia MaisO que significa a cor vermelha nas vestes dos cardeais?Na verdade, desde longa tradição, os cardeais não usam o vermelho, usando sim a cor púrpura, sendo, por isso mesmo, chamados de os “purpurados” da Igreja.

Em sua origem, o Colégio dos Cardeais tinha a missão de assessorar o papa, assistindo-o em vários assuntos referentes ao governo da Igreja.

A palavra 'cardeal' pode significar 'principal' ou 'essencial', tendo também origem num termo usado em marcenaria ou arquitetura como sinônimo de 'firmemente encaixado'. Cardo ou cardinalis pode ser ainda entendido como o batente da porta.

Hoje se usa o termo incardinado para se referir a alguém que é ligado a uma igreja, paróquia ou diocese.


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Origem e definição

O Colégio Cardinalício tem a sua origem no presbitério ou senado presbiteral, um grupo de presbíteros que rodeava o bispo de Roma e outros bispos de dioceses mais significativas.

A partir do século VI, na passagem da Idade Antiga para a Medieval, os presbíteros das 28 igrejas paroquiais de Roma receberam o nome de “Presbitery Cardinalis, incardinatus ou cardinales”. Seus membros eram incorporados de forma estável a uma igreja.

Havia ainda os “Diaconi Cardinales”, responsáveis pelo socorro dos pobres das 07 regiões de Roma, ajudando também o papa nos ofícios divinos e na administração dos bens.

Por fim, havia os 04 “Diaconi Palatini”, que serviam o papa no palácio pontifício, e mais os 07 bispos suburbicários, responsáveis pelas igrejas vizinhas a Roma e que acompanhavam o papa nas funções litúrgicas, dando um total de 53 cardeais.

Esta organização permaneceu quase a mesma, sem maiores alterações, até 1586, quando o papa Sixto V elevou o número dos cardeais para 70, sendo 14 diáconos, 50 presbíteros e 06 bispos.

Então já havia legislação e tradição de que apenas do meio dos cardeais é que se escolhia o papa, e este, a seus legados. Os cardeais reunidos em assembleia para a eleição do novo papa formavam o conclave.

A definição foi se completando e, como hoje, os diáconos, bispos e presbíteros das igrejas mais antigas de Roma assumem diversas funções, entre elas a de representar o papa ou substituí-lo em certas ocasiões, sendo chamados de cardeais. Sua vestimenta púrpura os distingue dos demais. Aos poucos, assumem a coordenação dos diversos organismos da Igreja que hoje formam a Cúria Romana. Os cardeis reunidos formam o consistório e, ao participarem a eleição do novo papa, formam o conclave.

Nos séculos XI e XII, o Colégio Cardinalício atingiu a plenitude de seu poder, com seus membros sendo tratados como “príncipes da Igreja”. Seus postos eram disputados pelas famílias da nobreza, pelos reis e príncipes da Europa.

Riccardo De Luca - Update/ Shutterstock
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Idade Moderna – Resgatar o espírito original

No período conhecido como Idade Moderna, os membros do Colégio Cardinalício formaram uma espécie de senado, cuidando da legislação e administração da Igreja. Eram fortes e poderosos, chegando a receber metade das rendas e benefícios da Igreja. Muitas vezes foram constituídos por pessoas originárias da nobreza italiana, sendo manipuladas pelo império.

No falecimento do papa, os cardeais são convocados ao conclave a fim de eleger o seu sucessor. Neste período a Igreja enfrenta muitas dificuldades, e dentro do Colégio Cardinalício formam-se tendências conflitantes, fazendo com que certos conclaves tenham longa duração. Tivemos o caso de um conclave que chegou a durar 34 meses!

Na eleição do papa, as pressões eram muitas e alguns reis podiam vetar candidatos, agindo através de cardeais de sua nação. Apesar de não ter uma base jurídica, este direito vigorou até o início do século XX.

Neste tempo, a Cúria Romana era formada por notários, chanceleres, bibliotecário e secretários. A administração geral era feita pela Câmara Apostólica e pelo Cardeal Camerlengo. Os assuntos referentes ao Sacramento da Penitência eram despachados pela penitenciaria (século XII). No século XIII se constituiu os auditores e a rota romana.

Os exageros e desvios da missão original do colégio dos cardeais e da cúria romana fizeram com que aumentasse cada vez mais os anseios pela reforma que pudesse restituir à Igreja o seu espírito original.

Riccardo De Luca/ Shutterstock
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Reformas e mudanças

Em 1588, o Papa Sixto V reorganizou e sistematizou a Cúria Romana, sendo formada agora por 15 Sagradas Congregações, 06 de caráter puramente civil. Esta sistematização permaneceria até 1908, quando o Papa Pio X promoveu nova reforma. Existiam ainda as comissões ou congregações para assuntos particulares, como a Congregação das Regalias, que depois foram supressas.

Em nossos tempos, o Papa João Paulo II, o Papa Bento XVI e, por último, o Papa Francisco promoveram novas mudanças, atualizando a Cúria Romana e o Colégio dos Cardeais às necessidades da Igreja moderna, diminuindo a burocracia e a morosidade de seus organismos.

Os Cardeais participam do governo da Igreja, dirigem os dicastérios e formam os consistórios como órgão consultivo e deliberativo. Entre todos eles destaca-se a figura do Secretário de Estado, que é o braço direito do papa, a quem são confiadas as relações diplomáticas da Igreja.

A Secretaria de Estado é o órgão central do Vaticano e o cardeal secretário trata da política eclesiástica, sendo quase que um ministro das relações exteriores, responsável pelas Nunciaturas Apostólicas que existem nos países com os quais o Vaticano mantém relações diplomáticas.

Na atualidade, especialmente após o Concílio Vaticano II, uma das marcas fortes do Colégio dos Cardeais é a internacionalização. A Europa já não possui o predomínio, tanto assim que, em 2013, pela primeira vez na história, se escolheu um papa Latino-Americano para governar a Igreja.

Leia MaisEm Consistório público, Papa oficializa nome de novos cardeaisO que é um consistório?Pelas regras atuais, o Colégio dos Cardeais não deve ter mais do que 175 membros. Porém, sempre que o número dos eleitores estiver abaixo de 120, o papa deve convocar um novo consistório, a fim de nomear novos cardeais. E só podem ser eleitores os que tiverem menos de 80 anos de idade.

O Brasil possui, na atualidade, oito cardeais, dos quais seis poderão ser convocados a Roma para formar o conclave quando o trono de Pedro estiver vacante.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em História da Igreja

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