PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA
História Moderna – 08
Neste artigo vamos falar de João Calvino e de suas idéias. Com ele a Reforma Protestante começou a se desdobrar em novas ramificações. O pensamento calvinista acabaria influenciando, sobretudo, a doutrina e a ação do capitalismo que se desenvolvia, sendo um dos ramos da Teologia da Prosperidade muito em voga entre os evangélicos pentecostais de hoje.
A Reforma Calvinista: Predestinação Divina
João Calvino (1509-1564) nasceu em Noyon, na França, país onde estudou teologia e direito. Aderiu às ideias dos reformadores protestantes, como Lutero e o suíço Ulrico Zwínglio (1484-1531), sendo também considerado herege, por isso, perseguido pelas autoridades católicas francesas. Em 1534, acabou fugindo para a suíça, onde o movimento reformista já se desenvolvia e ganharia mais força ainda.
Em 1536, Calvino publicou sua principal obra, Instituição da Religião Cristã, na qual defendia os seres humanos como predestinados ao céu ou ao inferno. Essa nova teoria se baseava em uma recepção severa da graça divina, ideia bem popular entre a burguesia, que costuma ser descrita como a “religião do capitalismo”.
O pecado original, segundo a doutrina de Calvino, teria tornado o homem incapaz de fazer o bem ou escapar da condenação ao inferno. Deus teria decidido conceder a alguns eleitos o poder de fazer o bem e obter a salvação, enquanto que os outros (a grande maioria) continuaria condenada à perdição eterna. A salvação vinha exclusivamente da vontade de Deus e não dependeria das obras humanas.
Uma consequência da doutrina de João Calvino foi a ideia da predestinação, ou seja, a noção de que o destino da alma já está decidido, antes mesmo de sua criação, por Deus. Essa ideia segundo o movimento protestante podia ser encontrada nas obras de Santo Agostinho.
Para Calvino, essa é uma consequência lógica da onisciência e onipotência divina: Se Deus sabe tudo e tudo controla, sabe quem está destinado a ser salvo e quem não está; a única coisa que poderia mudar essa condição é a própria vontade divina. Nada que o fiel faça o ajudará: o indivíduo não tem qualquer autonomia, porque Deus conhece todo seu destino. Espiritualmente falando, ele está sozinho e qualquer tentativa de interferir no processo é inútil.
Ética Calvinista
Essa enorme solidão espiritual traria outras consequências, como a recusa dos calvinistas de adotarem qualquer ritual, para que ele não trouxesse a impressão de conseguir alguma intercessão divina. O calvinismo eliminou a “magia” do mundo, pois ele era totalmente racional e bastante frio para os padrões do catolicismo latino. Os que seguiam a doutrina calvinista vestiam-se com extrema sobriedade, abriam mão de qualquer luxo e ostentação e rejeitavam qualquer prática sensualista.
O prazer e a diversão eram considerados pecados e afastavam o fiel do seu objetivo, que era a salvação. Isso gerou um individualismo desiludido, sombrio e pessimista e gerou também um profundo desprezo mútuo entre católicos e calvinistas. Se não podiam dedicar-se a luxo e ao prazer a única saída era a dedicação exclusiva ao trabalho, o que vai favorecer o surgimento da chamada ética calvinista que será uma das bases do capitalismo.
O Calvinismo e o Capitalismo
Leia MaisMartinho Lutero publica teses contra a Igreja CatólicaOs calvinistas se tornaram extremamente laboriosos, jamais se desviando de seu objetivo de louvar a Deus pela prosperidade na terra. Luxos, prazeres ou desperdícios eram considerados como ofensivos à glória de Deus e, portanto, deveriam ser combatidos a qualquer custo. O calvinista deveria viver sua vida eternamente focado no seu objetivo material: a prosperidade e o sucesso na vida terrena como forma de melhor glorificar a Deus.
A busca incessante e obsessiva pelo lucro, que era obrigada por sua religião, levava a acumular riquezas, sendo igualmente proibidos por ela de gastá-la para satisfazer seus prazeres. Então, diante disso, só restava investir as riquezas acumuladas na poupança para obtenção de mais riquezas.
Max Weber (1864-1920) em seu livro 'A ética protestante e o espírito do capitalismo', constata que os países mais ricos do mundo, em sua época (início do século XX), eram países em que a ética protestante calvinista havia prevalecido.
A Difusão do Calvinismo
O pensamento calvinista ganhou força inicialmente em Genebra, na Suíça, para onde ele fugiu em 1536, mas questões políticas e culturais levaram a doutrina calvinista a vários lugares da Europa, como a Escócia e França. O trabalho do reformador escocês John Knox preparou o terreno para uma expansão calvinista. Os seguidores de Calvino na Escócia passaram a ser conhecidos, no final do século XVI, como presbiterianos.
Nos Países Baixos, o pensamento humanista de Erasmo de Rotterdam contribuiu muito para a ideia de reforma religiosa. É comum atribuir-se a difusão do calvinismo nos Países Baixos à grande prosperidade econômica na região, seguindo a ideia weberiana que a ética calvinista estimularia o desenvolvimento da atividade capitalista.
Na França, seus seguidores passaram a se chamar huguenotes; na Inglaterra ficaram conhecidos como puritanos. A intensa perseguição que eles sofreram durante os séculos seguintes motivou muitos deles a emigrarem para as colônias da América do Norte. Nas colônias holandesas da África do Sul, calvinistas de diversos países deram origem aos afrikaners ou bôeres.
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