Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 08 AGO 2019 - 14H00

O Império Bizantino

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA

HISTÓRIA ANTIGA 15

Valentina Photo/ Shutterstock
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O
Império Bizantino, ou simplesmente Bizâncio, foi o que sobrou do grande Império Romano durante a Antiguidade tardia e Idade Média, centrado na sua capital, Constantinopla.

Conhecido também como Império Romano por seus habitantes e vizinhos, o Império do Oriente foi a continuação direta do antigo Império Romano. Hoje, na maioria dos livros de História, ele é distinguido da Roma Antiga na medida em que o império era orientado pela cultura grega e caracterizado por uma Igreja cristã totalmente ligada ao Império, onde acontecia a predominância da língua grega em contraste à língua latina.

A distinção entre Império Romano e Império Bizantino é, em grande parte, uma convenção moderna, não sendo possível atribuir uma data exata na qual tenha acontecido a sua separação, embora o ponto mais importante seja a transferência da capital do Império, realizada em 324 pelo imperador Constantino. Até então, a capital era Nicomédia, localizada na região da Anatólia, dali passando para Bizâncio, localizada próxima ao Golfo do Bósforo, que tornou-se Constantinopla, ou "Cidade de Constantino", também chamada de "Nova Roma". Desta forma, apesar de estar do outro lado do golfo, o Império Bizantino (atual Turquia) também faz parte da Europa.

O Império Romano foi finalmente dividido em 395, após a morte do imperador Teodósio I (379-395), sendo esta data muito importante para o Império Bizantino, que tornou-se, então, completamente separado do Ocidente.

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Longa duração

O Império Romano do Oriente existiria por mais de mil anos, a partir do século IV indo até 1453, sendo que durante a maior parte de sua existência, se manteria como uma poderosa força militar, econômica e cultural, apesar dos contratempos e das perdas territoriais, especialmente durante as guerras contra os persas e árabes. Em boa parte de sua história, enfrentaria um estado de sítio, provocado pelos árabes muçulmanos e, depois, pelos turcos otomanos.

Depois de uma forte crise, o império recuperou sua grandeza durante a dinastia macedônica, crescendo bastante ao ponto de tornar-se um poder proeminente no Mediterrâneo Oriental durante o século X, rivalizando-se com o Califado Fatímida.

Após 1071, contudo, o coração do império foi perdido para os turcos seljúcidas. A restauração Comnena recuperou parte do território perdido, restabelecendo o domínio do império no século XII. No entanto, após a morte do imperador Andrônico I Comneno e com o fim da dinastia Comnena, no final do século XII, o império entraria em declínio novamente.

Um golpe fatal seria cometido contra o Império do Oriente em 1204, no contexto da Quarta Cruzada, quando foi dissolvido e dividido em reinos latinos e gregos concorrentes. Os próprios cruzados invadiram e saquearam a capital.

Apesar da reconquista de Constantinopla e do restabelecimento do império, em 1261, sob os imperadores paleólogos, Bizâncio esteve, dai em diante, cercada pelos estados vizinhos rivais, e isso por mais 200 anos. Contudo, este foi um período bastante produtivo para o império, do ponto de vista cultural.

Sucessivas guerras civis no século XIV minaram ainda mais a força do já enfraquecido império, e outra parte do território restante foi perdida nas guerras bizantino-otomanas, que culminaram na Queda de Constantinopla e na conquista dos territórios remanescentes pelo Império Otomano no século XV, no ano de 1453.

Um capítulo à parte nesta história, que precisa ser estudado, foi a divisão entre a Igreja do Ocidente, com sede em Roma, com a Igreja do Oriente, com sede em Constantinopla, tendo como resultado o cisma das duas igrejas, que duraria de 1054 até o período Pós-Conciliar, com a viagem do Papa Paulo VI à Turquia, em 1967.

Legado


Como único estado que gozou de estabilidade e durabilidade na Europa durante a Idade Média, Bizâncio isolou da Europa Ocidental as forças emergentes do leste. Constantemente sob ataque, o império distanciou os persas, árabes e turcos seljúcidas da Europa Ocidental, e por um tempo, também os otomanos. As guerras bizantino-árabes, por exemplo, são reconhecidas  pelos historiadores como sendo um fator chave por trás da ascensão de Carlos Magno, e um estímulo para o feudalismo e autossuficiência econômica da Europa.

Durante séculos, historiadores ocidentais usaram o termo bizantino ou bizantinismo como sinal de decadência, de política errada e de complexa burocracia, mas não havia uma avaliação negativa da civilização bizantina e de seu legado no sudeste da Europa. O bizantinismo, em geral, foi definido como um corpo de ideias religiosas, políticas e filosóficas que funcionou bem, ao contrário daquelas do Ocidente.

Nos séculos XX e início do XXI, contudo, os historiadores ocidentais começaram a entender melhor o império, de uma forma mais equilibrada e precisa, incluindo aí o seu legado e as suas influências sobre o Ocidente e, como resultado, o caráter complexo da cultura bizantina tem recebido mais atenção e um tratamento mais objetivo do que anteriormente.

Se a existência do Antigo Império Romano, incluindo o Império Romano do Ocidente e do Império Romano do Oriente/Império Bizantino for somada, todo o império romano terá existido por aproximadamente 1480 anos. O Estado predecessor do Império Romano, a República Romana, durou 482 anos. Então, de alguma forma, o estado romano existiu continuamente durante 1962 anos, ou cerca de 100 gerações. Com a existência dos 244 anos do Reino de Roma acrescentados, esse número seria 2206. Esses números expressam, portanto, uma realidade política, econômica e religiosa que não pode ser vista de uma forma simplista ou até mesmo preconceituosa.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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