Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 10 JUL 2019 - 11H23

Os Povos Germânicos e o Mundo Cristão

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Por volta do ano 400, início do século V da Era Cristã, os cidadãos do Império Romano sentiam-se parte da mais formidável, segura e sagrada estrutura política. Alguns julgavam até que o Império fosse o equivalente terreno do Reino de Deus. Nada poderia ser mais fascinante e abençoado do que um império governado por um imperador cristão e, não somente cristão: um imperador protetor e preocupado com a fé de seus súditos.

Mas, tudo isso era uma grande ilusão: há 300 anos, o Império já entrara em decadência. Os povos germânicos, conhecidos pejorativamente como “bárbaros”, por não possuírem a 'cultura' dos romanos, julgada superior, pressionavam as fronteiras. O exército, que abrigava grupos mercenários, não era mais a formidável estrutura protetora e garantia da ordem.

A decadência do império cresceu quando Constantino mudou a sede do Império para Constantinopla, na Ásia Menor, deixando Roma abandonada. No ano 395, Teodósio dividira o Império entre seus filhos, criando um Império Ocidental e outro Oriental.

Povos asiáticos e europeus sonhavam em morar no território imperial: a fama, a cultura romana, as terras férteis, tudo atraía esses povos, que viviam na região norte da Europa ou nos atuais Balcãs. Os nomes de alguns deles entraram para a história, como os ostrogodos, visigodos, borgúndios, francos, anglos, saxões, eslavos, húngaros, búlgaros, hunos, etc.

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No ano de 410, o rei visigodo Alarico saqueou Roma antes inexpugnável. Os cidadãos e os cristãos ficaram perturbados e se perguntavam se haveria ainda alguma esperança para o Cristianismo. Mas a insegurança se alastraria cada vez mais.

Em 430, o norte da África estava assediado e prestes a cair. Agostinho, o grande bispo, morre na cidade de Hipona que estava cercada. A Bretanha cristã foi assaltada pelos anglos e saxões e praticamente veria desaparecer de lá a fé cristã.

Em 452, o huno Átila ameaçou tomar e saquear Roma. O papa Leão Magno corajosamente dirigiu-se ao seu encontro pedindo clemência e foi atendido. Santa Genoveva também conseguiu salvar Paris.

Em 476, Odoacro, rei dos hérulos, conquistou Roma. Com isso, os bárbaros ocuparam o trono do ocidente cristão. A partir daí, passaram a guerrear entre si, para o controle e domínio do espólio imperial. Havia bárbaros pagãos e bárbaros tomados pela heresia do arianismo, como os germanos. Isso seria um duplo desafio para a Igreja.

O Império Romano do Oriente ainda resistiria por mais mil anos, mas com território sempre mais reduzido até que, em 1453, Constantinopla seria tomada pelos turcos.

Nesta hora trágica e confusa que o Império Romano enfrentava, a fé cristã e seus pastores assumiram a defesa do povo e dos novos povos, pois sua organização já se sobrepunha à do Império. Igrejas, mosteiros e cidades estavam destruídos. Era preciso socorrer os pobres, reorganizar a vida.

Quando a administração imperial entrou em colapso, os bispos da Igreja passaram a centralizar a organização e o governo dos novos povos, que se estabeleciam dentro do então potente Império Romano. Por causa de sua cultura e qualidades pessoais, os bispos tinham as condições naturais para exercer essa liderança. Especialmente o Bispo de Roma, o papa, iria assumindo progressivamente o posto deixado pelo Imperador.

A partir daí, alguns papas se destacariam muito pelas suas qualidades, como o papa Gregório Magno, que se empenharia em reconstruir a cultura e a cidade de Roma.

Do meio das destruições e da decadência, surgiu uma nova força, primeiramente moral e depois política: a Igreja. Teve início então uma nova etapa da história europeia, chamada de Medieval, que seria marcada pelo predomínio da autoridade eclesiástica. Papas e bispos progressivamente vão refazendo a antiga prosperidade e organização legislativa do Império Romano.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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