Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 20 AGO 2020 - 11H01

Papa Paulo VI e a Tiara Papal

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Estátua do Papa Paulo V usando a Tiara Papal


A partir do século VIII, portanto, já no Período Medieval, entrou o costume dos papas usarem a chamada tiara pontifícia, que é uma mitra composta por tríplice coroa, incrustada com joias e pedrarias. Essa coroa passou a ser um sinal da autoridade do Papa, sendo usada na coroação de um novo Papa, cerimônia que também foi abolida e em outras ocasiões solenes. Ela também representava a autoridade do Bispo de Roma em relação aos reis e rainhas terrenos e em relação aos demais patriarcados. Por isso, cada Papa tinha a sua tiara, que poderia ser mais ou menos esplendorosa, de acordo com a situação de cada época.

Leia MaisPapa Francisco diz que bispo não pode ser um "príncipe"Os registros das primeiras coroações papais remontam ao século XII, mas o último Papa a ser coroado foi Paulo VI, em 1963. Desde então, os Papas que lhe sucederam substituíram a cerimônia por uma inauguração do pontificado, em geral feita numa celebração eucarística. Na verdade, a cerimônia não foi abolida, mas entrou em desuso.

O costume de se usar a tiara se manteve até que, no dia 13 de novembro de 1964, o santo Papa Paulo VI quebrou a tradição, doando a tiara de três coroas, elaborada em material precioso como ouro e prata, aos pobres, em uma cerimônia realizada na Basílica de São Pedro durante o Concílio Vaticano II.

Numa das celebrações acontecidas durante o Concilio Vaticano II, diante de cerca de 2 mil bispos, o Papa levantou-se da cadeira e, solenemente, colocou a tiara sobre o altar. De acordo com notícias na época, o Papa Paulo VI se motivou a fazer o gesto de doação depois das discussões sobre a pobreza no mundo.

Após o anúncio de que a tiara pontifícia seria vendida em um leilão, o cardeal Francis Spellman, da cidade de Nova York, providenciou a transferência do acessório para os Estados Unidos, como um reconhecimento das contribuições dos católicos norte-americanos aos pobres do mundo.

A coroa foi exibida em várias partes do país, ficando permanentemente exposta na Basílica/Santuário Nacional da Imaculada Conceição, em Washington DC. Algumas vezes, a tiara é colocada sobre a cabeça da imagem de São Pedro que está na Basílica de São Pedro, em Roma.

Depois que Paulo VI se desfez da tiara, nenhum de seus sucessores voltou a usá-la novamente. Seus sucessores, aos poucos, foram assumindo normas e regras de simplicidade e despojamento.

Em 1978, o Papa João Paulo I deu um passo à frente e, para inaugurar seu pontificado, substituiu a cerimônia de coroação por uma Missa, tradição que João Paulo II, Bento XVI e Francisco mantiveram.

Em sua primeira homilia como Papa, João Paulo II lembrou o abandono da tiara por seu predecessor e o seu desejo de seguir o exemplo: “O Papa João Paulo I, cuja memória é tão viva em nossos corações, não desejava ter a tiara; nem seu sucessor deseja hoje. Este não é o momento de retornar a uma cerimônia e a um objeto considerado, erroneamente, um símbolo do poder temporal dos Papas”, disse ele.

O Papa Bento XVI, por exemplo, removeu a imagem da tiara do brasão papal, substituindo-a pela mitra de um bispo ordinário.

E o Papa Francisco foi mais longe ainda e, com sua vida e com sua ação, mostra ainda mais o Papa ao lado dos pobres do mundo. E essa regra de simplicidade e despojamento precisa e deve ser continuada na Igreja.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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