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História da Igreja

São Bento: O pai da vida monástica no ocidente

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

05 JUL 2021 - 12H00 (Atualizada em 05 JUL 2021 - 14H08)

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HISTÓRIA ANTIGA 21

O movimento monástico cristão da antiguidade teve enorme difusão no mundo oriental. Iniciado no Egito, por Santo Antônio, Abade, recebeu com São Basílio (+379) a Regra de ouro para a vida cenobítica, isto é, para a comunidade reunida num mosteiro.

Com Cassiano (+435), que por muitos anos viveu junto aos monges egípcios, o monaquismo oriental passou definitivamente para o Ocidente. Finalmente, com Santo Agostinho, a vida monástica penetrou nas sedes episcopais. É dele a Regra que ainda hoje orienta diversas congregações religiosas.

Mas, o gênio romano encontrou sua plena e definitiva forma com São Bento de Núrcia. A partir do século VIII, todo o mundo ocidental tornou-se beneditino graças à ação religiosa, cultural e civilizatória dos mosteiros beneditinos.

São Bento e a Regra Beneditina

Leia MaisSão Bento e a história do salvamento de São Plácido Depois de passar por alguns formatos originais, e tendo chegado ao mundo ocidental, saindo dos desertos do Oriente Médio, a vida monástica começou a se desenvolver e a ganhar força, mas privados de uma regra definida, muitos monges ocidentais viviam sem uma espiritualidade consistente e, o que era mais grave, perambulavam de mosteiro em mosteiro. Isso permitia fazer da vida monástica um modo não condizente de existência, causando incômodos à própria vida social e religiosa.

A Regra beneditina teria então como centro a estabilidade local. O monge deve permanecer por toda a vida num só mosteiro. São Bento, convidado por alguns monges para orientá-los, firmou esse princípio.

São Bento nasceu em Núrcia, em torno do ano 480, provindo de uma família da nobreza provincial. Por diversos anos, viveu junto a Subiaco, primeiro como eremita, depois como superior de 12 pequenos mosteiros. Por volta do ano de 529, dirigiu-se a Montecassino, onde estabeleceu o mosteiro típico do Ocidente, ali morrendo em 547. Montecassino é tida como a casa-mãe da ordem beneditina.

A Europa tornou-se então um canteiro de mosteiros beneditinos. Plantados no meio de florestas, logo eram procurados pelo povo, que ao seu redor fundava aldeias e vilas. Precisando viver de seu trabalho, os monges especializaram-se na agricultura, no fabrico de bebidas, alimentos e remédios.

No campo cultural criavam escolas monásticas, difundindo cultura e civilização. Para terem livros, cada mosteiro possuía sua seção de monges cujo ofício era copiar antigos manuscritos. Foi assim que as bibliotecas dos mosteiros preservaram o patrimônio cultural da Antiguidade.

A maior contribuição dos monges, porém, situa-se em outro campo: o religioso. Foram eles a grande força reformadora da vida interna da Igreja em seus momentos de crise, sendo, além disso, os grandes evangelizadores da Idade Média, no período em que o Império Romano entrou em decadência, sendo retalhado em muitos reinos, formados a partir da invasão dos Povos Germânicos.

A Organização de um Mosteiro

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São Bento, com sua Regra, expôs o gênio romano da organização, marcado pelo discernimento e pelo equilíbrio.
Nenhum exagero, nem de descanso, nem de oração, nem de penitência era permitido.

O grande lema da vida beneditina é “Ora et labora”, que significa "reza e trabalha". Mas, podemos acrescentar: reza, trabalha e descansa. Veja-se o horário básico de um mosteiro: a comunidade se levanta de madrugada, por volta das 2h30. O dia começa com a recitação do Ofício Divino, ao qual dedicam-se quatro horas no inverno e três horas e meia no verão; para o trabalho manual, são cinco horas no inverno e nove horas no verão; para o trabalho intelectual, cinco horas no inverno e três horas e meia no verão; para o descanso, nove horas contínuas no inverno e sete horas e mais a sesta, no verão.

São Bento, além disso, estabeleceu que nenhuma ocupação, tanto de trabalho como de oração, podia ser prolongada além de três horas continuadas, para que o monge não fosse vítima do cansaço físico ou da aridez espiritual.

O monge fazia voto de estabilidade na congregação, não podendo transferir-se e sendo recomendado a sair poucas vezes para outras funções. Retornando de uma viagem necessária, não devia contar nada do que viu ou ouviu. O silêncio era prescrito, mas havendo necessidade, podia ser rompido.

Cada mosteiro devia ser construído de modo que tivesse todo o necessário: água, moinho, quintal e oficinas. O trabalho era imposto como exigência da pobreza e, em geral, cada mosteiro funcionava como uma mini-cidade sendo autossuficiente, abrigando a população local em tempos de invasão ou calamidade natural.

A figura central do mosteiro era o Abade (Pai): no mosteiro, ele ocupa o lugar de Cristo. Deve ser bom e santo, governando mais com o exemplo do que com palavras. É o Pai espiritual, bondoso, sendo mais misericordioso do que justo. Eleito pela comunidade dos monges, tem cargo vitalício de pleno poder, nada podendo ser feito sem ele. Mas, ele deve cercar-se de conselheiros administrativos e espirituais, co-dividindo com eles o cargo, detendo a palavra final.

O Mosteiro, escola de serviço divino

Quem ingressava em um mosteiro deveria estar decidido a voltar-se totalmente para Deus através de uma vida de obediência. Deus era o fim da vida monástica. Estava presente em toda parte com sua intensidade, provocando na alma a confiança e coragem confidente, ação de graças e, sobretudo, amor, que é o primeiro instrumento das boas obras.

Pela obediência, o monge retornava para Deus: obediência a Deus, ao abade e aos irmãos. Tudo levava à humildade que, com a obediência, tornava a alma santa e disposta em relação a Deus. Jesus Cristo é o companheiro do retorno ao Pai.

A oração ordenava a vida do monge, sendo a principal Obra de Deus, centrada principalmente no Ofício litúrgico comunitário. O dia e as atividades do monge estavam organizados e regulados pelas Horas do Ofício, cujo conteúdo são os Salmos, os Hinos, as leituras da Sagrada Escritura e comentários dos Santos Padres.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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