Muitos usos e costumes de hoje se fundamentam no passado. Certas tradições, por exemplo, como as festas, decorações e as peças natalinas que ainda hoje são cultivadas são provenientes de práticas que nasceram na Idade Média.
Um ramo de historiadores do humanismo cometeu um grave erro definindo a Idade Média como se fosse um período de atraso, chamando essa fase da história de “Idade das trevas”. Porém, não foi nada disso!
Como acontece em todo período histórico, inclusive na atualidade, na Idade Média aconteceram também práticas que são reprováveis, mas isso não pode definir e englobar as heranças boas que recebemos daquele tempo.
Segundo a definição dos estudiosos, o período da Idade Média começou com a queda do Império Romano do Ocidente diante de um ciclo de invasões levada a cabo pelos Povos Germânicos a partir do século V, prolongando-se até o século XIV mais ou menos.
O conceito de Idade Média é muito geral, não se encaixando formalmente a todo continente europeu. Cada região teve as suas características e os usos e costumes se desenvolveram de modo diferente, variando de um lugar para outro.
A queda do Império Romano do Ocidente provocou um vazio de poder que aos poucos foi sendo preenchido pela Igreja católica que passa a influenciar a vida das pessoas como unificadora da Europa Medieval.
Tudo vai ganhando um sentido cristão e costumes pagãos e tradições herdadas dos Povos Germânicos vão ganhando uma conotação cristã. É assim que festas e feriados ganham uma motivação religiosa.
Para o homem comum, os feriados medievais representavam a chance do descanso necessário do estafante trabalho habitual. Além de trabalhar pelo próprio sustento, devia trabalhar também as terras de seu senhor.
Os feriados religiosos eram a ocasião propícia para se socializar nas festas e nas refeições familiares. Nessas ocasiões o cardápio dos pobres, com sorte, podia ser substituído por raridades como carne e peixe. A mesa dos ricos, por sua vez, era adornada com pratos exóticos, assados e outras iguarias.
Algumas datas vão ganhando um sentido especial, com destaque para o natal e epifania. As festas podiam durar vários dias e nessas ocasiões se servia comidas típicas da ocasião.
Na Idade Média se desenvolveu a tradição natalina de decorar as casas.
Elementos naturais como ramos e flores são usados para a decoração. Nessas ocasiões as igrejas ganham também uma decoração mais colorida com o uso de velas e elementos naturais.
Depois dos atos religiosos é que a festa podia começar. Em geral a aristocracia feudal formada pelos senhores, seus familiares e dependentes começavam com lautos banquetes onde não faltavam sopas, caldos ou ensopados de carne. Uma variedade de carne de animais criados ou caçados, por exemplo, chegavam normalmente às suas mesas.
Mas no Natal havia iguarias de carne, peixes e frutos-do-mar apresentados aos convidados.
Na ocasião do natal eram preparados pratos especiais para impressionar os convidados. As carnes eram acompanhadas de molhos que acrescentavam sabor aos pratos e, engrossados com pão ralado, contendo vinho, vinagre, ervas e especiarias.
As sobremesas feitam na forma de cremes, bolos, nozes, queijo e frutas raras complementavam os vários petiscos decorados com açúcar e mel que eram servidos.
As ceias e jantares podiam durar horas e os convidados somente se retiravam depois de plenamente satisfeitos.
Oferecer um lauto jantar de natal era uma forma dos senhores granjearem a simpatia dos convidados, além de ser uma demonstração de seu poder e riqueza. Entre os servos e camponeses, entretanto, não havia tanta fartura e suas refeições eram bem mais modestas. Carnes poucas vezes eram consumidas e no natal as refeições eram compostas, quando muito, por um ou dois pratos.
Na Idade Média a caça era totalmente proibida e se um servo fosse flagrado caçando podia ser severamente punido, porque as terras de caça eram reservadas aos senhores. Na verdade, o natal era uma ocasião em que os servos deviam dar presentes ao seu senhor.
Na maioria das vezes ofereciam produtos que eles mesmos produziam, como pão, ovos e talvez até mesmo um galo valioso ou algumas galinhas.
Apesar disso, o costume de se realizar uma ceia natalina se tornou uma das tradições mais aguardadas desde a Idade Média.
Outra tradição natalina que recebemos da Idade Média e do processo de cristianização da sociedade são as diversas formas de diversão e entretenimento.
Na Idade Média o teatro saiu do interior das igrejas e ganhou a sociedade. Os monges medievais, por exemplo, costumavam fazer uma espécie de turnê por diversas casas apresentando peças bíblicas ou relacionadas à vida dos santos.
Essas peças eram também apresentadas nas escadarias das igrejas ou nas praças para o deleite e alegria da gente. Elas darão origem aos teatros de natal com as cenas relacionadas a nascimento de Cristo, com os personagens desempenhados por monges e pessoas da região, tornando-se também uma tradição.
Em algumas cidades podiam ser organizados um tipo de concurso público onde carroças percorriam as ruas levando pessoas caracterizadas como personalidades da narrativa de Natal da Bíblia.
Com o tempo, além do natal começam a surgir grupos de teatro que percorrem as aldeias e vilas, buscando, sobretudo, os lugares onde aconteciam as feiras para apresentar o seu show, com a perspectiva de melhores lucros.
O que mais atraia as pessoas eram os artistas de pantomima mascarados, como os nossos palhaços, arlequins e pierrôs, que também saíram às ruas, acompanhados por bandas de músicos. Eles se vestiam com fantasias bizarras e até se aventuravam nas casas das pessoas para dançar e jogar dados, recebendo comida e bebida em troca de sua apresentação.
Os criadores e atores costumavam encenar peças curtas com cenas de lendas conhecidas relacionadas aos santos da Igreja. Mais tarde virão os teatros baseados em atos de coragem de cavaleiros que demonstram o seu valor e coragem na defesa de sua “dama do coração”.
A grande tristeza é que “tudo o que é bom dura pouco” é a diversão, os jogos e passatempos tinham que ficar de lado na hora de voltar ao duro trabalho e à rotina do dia a dia. E, assim, a vida voltava à rotina, pelo menos por mais algumas semanas, até chegar à chamada terça-feira gorda, como prenúncio do início da Quaresma, período de extremo rigor em que toda forma de festa e passatempos deviam ser evitados.
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