Igreja

A vida de São Bento no teto da Igreja do mosteiro paulistano

Escrito por Redação A12

06 JUL 2021 - 00H00 (Atualizada em 06 JUL 2021 - 09H49)

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basílica do Mosteiro de São Bento de São Paulo é uma das mais importantes obras primas da arte beuronense. Este estilo artístico, considerado eclético, surgiu num mosteiro beneditino alemão, a Abadia de São Martinho de Beuron, que, fundado em 1863, fazia parte de uma política eclesiástica de restauração da vida monástica na Europa.

Leia MaisComo comemorar o dia de São Bento em casaNeste mesmo período, os mosteiros brasileiros vivenciavam uma triste crise, devido a uma lei imperial em vigor, que impedia o ingresso de novos integrantes nos claustros. Não podendo receber os jovens vocacionados e o consequentemente envelhecimento dos monges e suas mortes, houve um esvaziamento nos mosteiros.

Tal lei durou cerca de 40 anos, se encerrando com a queda da monarquia e a implantação da República. Houve, com isso, a abertura dos noviciados nos mosteiros e a possibilidade de acolher os jovens. No entanto, sobraram pouquíssimos monges e praticamente todos encontravam-se em idade avançada, não podendo eles dar formação aos desejosos à vida monástica. Com isso, pediu-se ajuda de monges estrangeiros e o Papa Leão 13 (1810-1903) encarregou os monges alemães da abadia de Beuron de repovoarem os mosteiros brasileiros, restaurando assim, a vida monástica em vias de desaparecer no Brasil.

Uma das figuras de grande relevância na missão restauradora foi Dom Miguel Kruse, que, embora alemão e já padre, recebeu a formação monástica no Brasil já dos monges restauradores, inicialmente em Olinda, Pernambuco. Dom Miguel foi posteriormente transferido para Salvador (BA) e em seguida para São Paulo, pois o abade e último monge paulistano, Frei Pedro da Ascensão Moreira, acabara de morrer. Este é o cenário no qual Dom Miguel chega à cidade no ano de 1900, local em que desenvolveria um importante trabalho pastoral a partir do mosteiro. Em São Paulo, ele funda algumas escolas, um hospital, um mosteiro e auxilia outras ordens e congregações religiosas, além de dar assistência aos imigrantes das mais diversas origens e tradições.

Dom Miguel percebeu o potencial da cidade em vários campos. São Paulo estava a se desenvolver de maneira vertiginosa. Tornar-se-ia em breve uma importante metrópole. Com isso, já como abade, nomeado em 1907, cogitou construir um novo mosteiro, sendo necessário demolir a edificação colonial, na época decadente e quase em ruínas. E assim se fez.

O novo mosteiro teve a estrutura concluída em 1912. Projeto do arquiteto alemão Richard Berndl (1875-1955) – professor da Universidade de Munique e um dos melhores arquitetos da Alemanha – com uma fachada em estilo neorromânico. Dentro, a decoração que se iniciou posteriormente e se estendeu até 1922, foi escolhido o estilo da escola artística monástica beuronense. Quem a pintou foi o monge holandês, mas pertencente à abadia de Maredsous, na Bélgica, Dom Adelbert Gressnigt (1877-1956), tendo como auxiliar o irmão Clement Maria Frischauf (1869-1944), de Seckau, Áustria.

Concluída a obra decorativa, a igreja foi consagrada como basílica a 6 de agosto de 1922, pelo legado papal, o cardeal beneditino inglês, Dom Aidano Gasquet (1846-1929).

Uma fabulosa obra de arte como que uma galeria com diversas outras obras de arte, formando um fascinante conjunto, a igreja do Mosteiro de São Bento de São Paulo chama a atenção pelo seu colorido, com predominância do dourado e do vermelho em várias tonalidades, além da presença, seja pictórica ou escultórica de vários anjos e santos.

O teto traduz grande beleza e harmonia. Toda a igreja conta uma história, e esta é a da salvação. O teto revestido da eloquência dos pregadores com pincéis, conta esta história da salvação através da figura de São Bento (480-548), o patriarca dos monges do Ocidente. É claro que o santo é também representado em esculturas, tendo um altar próprio à direita de quem entra e também um belo vitral. Mas, ao contrário do que muitos acham, não é ele o padroeiro da igreja, mas a Virgem Maria, sob o título de Nossa Senhora da Assunção, representada assim no vitral principal, a cima do altar-mor. Apesar disso, por ser a igreja de um mosteiro beneditino, é São Bento e sua medalha, onipresente, principalmente no teto.

No teto acima da nave da igreja, há três grandes telas em linho com cenas da vida de São Bento, como a relatado pelo seu discípulo, o Papa e Doutor da Igreja, São Gregório Magno, em seu segundo livro dos Diálogos. Trata-se de momentos chave da vida do santo e de sua transformação espiritual. O primeiro dos quadros, apresenta São Bento ainda jovem como estudante em Roma, para lá enviado pelos pais para estudar. Mas o jovem se frustra com o ambiente estudantil e com a própria Cidade Eterna, repleta de imoralidade por todos os lados.

A fim de não se perder diante deste grande horror para os que desejam a santidade, retira-se ele par viver como eremita na gruta de Subiaco (2º quadro), onde aprende a arte espiritual, tornando-se um sábio e por isso, atraindo discípulos, sendo necessário fundar mosteiros para acolhê-los. Um destes mosteiros é a famosa abadia de Montecassino (3º quadro), local onde escreveu uma regra de vida, hoje conhecida como Regra de São Bento, a qual oferece aos monges e monjas normas práticas para bem viver em comunidade.

Entre estes quadros há dois outros personagens em destaque. São eles Mauro (Amaro) e Plácido, os primeiros discípulos de São Bento. Os demais representados ao redor do conjunto, são santos e santas beneditinos, homens e mulheres, religiosos e leigos que viveram ou beberam da espiritualidade beneditina.

Mais adiante, no transepto, o visitante poderá apreciar uma imensa tela tendo a representação de São Bento e Santa Escolástica, sua irmã gêmea e monja, sentados sobre as nuvens, tento nos quatro cantos belíssimas Medalhas de São Bento. No alto do presbitério e coro monástico, a representação é a das três pessoas da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo e da Virgem Maria.

Ao adentrar o ambiente, o espectador se deparará com este teto cheio de história e encanto, no qual a vida de São Bento aponta para o Deus Uno e Trino, nossa vida e Salvação.

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