Igreja

As raízes históricas da maçonaria

Padre Inácio Medeiros explica origem da instituição, na qual a filiação ativa é proibida pela Igreja Católica

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

24 NOV 2023 - 08H06 (Atualizada em 24 NOV 2023 - 16H49)

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Entre 1872 e 1875, aconteceu no Brasil, no tempo do Segundo Império, uma crise de relacionamento da Igreja Católica e o império conhecida como Questão Religiosa.

Os desdobramentos da crise, apesar de uma missão diplomática enviada pelo Imperador Pedro II a Roma, no tempo do Papa Pio IX, levou ao esfriamento geral da Igreja em relação ao império brasileiro, provocando ainda o fechamento em relação à maçonaria, sociedade já condenada, estigmatizada e proibida aos cristãos, que foi uma das grandes promotoras da crise.

Leia MaisO distanciamento da Igreja Católica em relação à maçonariaA12 esclarece sobre a proibição da maçonaria para os católicos A maçonaria não nasceu no Brasil, mas aqui se instalou desde os tempos da colônia, com forte ramificação entre a classe política e profissionais liberais.

Origem histórica da maçonaria

A maçonaria moderna, também conhecida como franco-maçonaria, nasceu na Inglaterra, no início do século XVIII, mas como instituição secular suas origens remontam ao período medieval, através das corporações de pedreiros e construtores que trabalhavam na edificação das grandes catedrais e castelos, sendo um embrião das corporações de ofícios, futuros sindicatos.

Alguns historiadores levam as origens ainda mais longe, chegando até mesmo às antigas civilizações.

A palavra maçom significa justamente pedreiro ou então free-maçon porque os pedreiros andavam por todas as regiões, sendo requisitados pela sua maestria e arte com a pedra. Tem origem ainda na palavra maço que era uma espécie de martelo de madeira por eles utilizada.

Com sua rápida evolução no período moderno, a maçonaria foi se tornando uma sociedade de caráter secreto, defendendo seus membros de todo tipo de pressão, sobretudo, dos abusos e desmandos da época, se caracterizando como uma sociedade livre, ao contrário dos servos medievais que dependiam em tudo dos senhores feudais.

Por influência da doutrina filosófica do iluminismo e posteriormente do positivismo a maçonaria foi se estruturando como uma sociedade secreta, de caráter filantrópico e econômico, visando à educação e o progresso de seus membros e sua posição na sociedade, recebendo aos poucos outros tipos de profissionais, além dos pedreiros.

No Brasil a maçonaria foi entrando devagar durante o período colonial, mas tem o ano de 1822 como a data histórica de sua organização oficial.

Aos poucos foi atraindo personalidades políticas para os seus quadros, sabendo, por exemplo, que 90% dos integrantes do primeiro gabinete republicano eram confessadamente maçons.

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Regras de conduta, desenvolvimento profissional e crescimento

Nas normas de conduta a maçonaria impõe a necessidade de desenvolvimento das capacidades de seus associados que devem vencer suas paixões, dominar seus vícios, ambições, o ódio, os desejos de vingança, e tudo o que oprime a alma do homem, tornando-se exemplo da liberdade, igualdade e fraternidade.

Para um maçom é essencial que consiga crescer na vida moral, profissional e social, edificando sua família e se ajudando reciprocamente. Numa de suas mais fortes características, os integrantes de uma loja, unidade básica da organização, se valem da posição social e profissional para favorecer os outros membros e a própria organização. É por isso, que não se encontra maçom pobre, porque isso deporia contra a organização. Além do mais, os candidatos não são recrutados entre as camadas mais pobres da população.

As regras de conduta definem que um membro da maçonaria deva ser um fiel e estudioso aluno dos ensinamentos maçônicos, buscando evoluir em todos os campos, custe o que custar.

Por estas razões, a maçonaria não admite pessoas que sejam adeptas do ateísmo ou sem religião, porque ainda que não seja defensora de um credo religioso específico, vê a espiritualidade como necessária ao crescimento do ser humano.

Neste contexto, Deus é identificado como o "grande arquiteto ou artífice do universo”, buscando sua identificação com os primeiros que compuseram os quadros da maçonaria.

Ainda que se considere uma sociedade progressista, aberta a todas as categorias de pessoas, não se prendendo a dogmas, fundamentalismos e nem prevenções, com o passar dos tempos a maçonaria foi se voltando para si mesmo, tornando-se uma sociedade conservadora, opondo-se a todos, pessoas ou instituições, como a Igreja católica, que sejam considerados perigosos para a sociedade.

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Ilustres Maçons e situação atual

Políticos, médicos, profissionais de todas as áreas podem ingressar na sociedade através de convites feitos por outros membros mais antigos. Aceitando, cada candidato passa por entrevistas, análise de histórico e rituais, que não costumam ser detalhados por serem restritos aos seus integrantes.

Os nomes de grandes personalidades políticas que fizeram parte de seus quadros são bem conhecidos. O mundo da música e das artes também tem lá os seus representantes e, inclusive, padres da Igreja Católica, apesar da proibição, como escrevi no primeiro artigo também fizeram parte da maçonaria.

Ao longo de três séculos, desde sua fundação, a maçonaria vem reunindo a elite política, cultural e militar dos países onde está organizada, tendo sido, inclusive, um espaço propício à conspiração política.

Mas tudo é meio misterioso, pois ao ingressar na ordem, os integrantes prometem não divulgar seus segredos e nem mesmo revelar a nenhum profano, como são chamados os não-iniciados, o que é dito e visto em suas reuniões.

O caráter secreto e restritivo tem contribuído, em diferentes momentos da história, para levantar suspeitas de ligação da maçonaria com atos ilícitos, acusada de conspirar, tramar ou influenciar nos bastidores da política e em decisões históricas. O caráter secreto, as suspeitas e dúvidas fizeram com que, em diversas realidades a perseguição acontecesse, fazendo a organização perder poder.

Apesar de sua influência, e como tudo evolui, a maçonaria tem enfrentado também uma crise e perdido influência, porque a consolidação da sociedade civil fez surgir outros espaços associativos como partidos, sindicatos e organizações não governamentais onde se podem discutir ideias e posturas. A separação de gênero também faz com que a maçonaria seja alvo de críticas, inclusive entre os próprios maçons.

Entre a própria maçonaria, sobretudo, daqueles mais antenados, a grade crítica é “a maçonaria não se adaptou aos novos tempos”. Será? No terceiro artigo desta série falaremos sobre o conflituoso relacionamento da maçonaria com a Igreja Católica e como outras igrejas veem a maçonaria.

.:: Qual a relação entre a religião e a modernidade?


Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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