Igreja

Conclave: Cardeais do mundo inteiro se reúnem em Roma para escolher o novo Papa

Filme gera polêmica sobre esse organismo da Igreja

Pe Jose Inacio de Medeiros

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

20 FEV 2025 - 08H56 (Atualizada em 20 FEV 2025 - 10H53)

Marco Iacobucci Epp / Shutterstock

Em fins de 2024 chegou ao cinema o filme Conclave, obra do diretor Edward Berger, baseada no livro homônimo do escritor Robert Harris, publicado originalmente em 2015, e que chegou ao Brasil pela Editora Alfaguara. O filme, inclusive, candidato ao Oscar em oito categorias, explora temas como fé, poder e conspiração nos bastidores do Vaticano e do conclave que havia sido convocado para escolher aquele que ocuparia o trono de Pedro que estava vacante. Está aí a razão do título do filme.

Como não podia deixar de ser, o filme logo viu-se rodeado de polêmicas por causa dos temas delicados que envolve. Girando ao redor dos bastidores da eleição de um novo papa, com a ação dos cardeais em torno dos possíveis candidatos a ocupar a sede da Igreja, o filme tenta mostrar como seriam os procedimentos da eleição propriamente ditos e também os desafios a serem enfrentados por aquele que for eleito.

Por causa da escolha dos intérpretes dos papéis principais na história do filme, obra do roteirista Peter Straugham, acontece uma adaptação com a substituição de nomes de personagens que aparecem no livro, situações e nacionalidades, transformando a película quase que num verdadeiro thriller, devido ao suspense e às emoções.

O personagem principal é o cardeal Lawrence, decano do Sacro Colégio, que apesar de sua idade avançada tenta a todo custo comandar os procedimentos e influenciar nas decisões. Ao redor dele giram os demais personagens, inclusive o de uma religiosa.

Como não podia deixar de ser, por ser esta uma tônica que volta e meia aparece nas notícias e comentários da mídia da atualidade, há uma tentativa de polarizar a eleição do novo papa entre dois candidatos, um da linha conservadora e outro mais progressista. De qualquer forma, o filme nos dá a oportunidade de conhecer um pouco mais o que é de fato um conclave e o seu modo de proceder.

O que é um Conclave?

O conclave, derivante da palavra latina cum clave (com chave ou fechado) foi instituído em 1271, pelo Papa Gregório X. A obrigação do voto secreto, como ainda hoje acontece, apenas surgiria em 1621. Aquilo que foi inventado como uma medida de desespero da população de uma cidade italiana acabou se transformando num instrumento canônico da Igreja para a eleição do Sumo-Pontífice.

Após a morte do Papa Clemente IV, em novembro de 1268, devido aos muitos problemas enfrentados, a eleição de seu sucessor foi se arrastando e a Igreja ficou sem papa por um longo período. Depois de 17 meses de impasse, por sugestão do futuro São Boaventura, os cidadãos de Viterbo (Itália) cidade onde acontecia o conclave, porque a lei determinava que os cardeais deveriam se reunir na cidade onde o papa tivesse morrido, primeiro trancaram os cardeais no palácio, mas como o isolamento não estava surtindo o efeito desejado foram adotadas medidas extremas.

Primeiro retirou-se o teto do salão onde os cardeais se encontravam, depois reduziu-se as suas refeições a pão e água. Como o inverno estivesse se aproximando, logo os cardeais superaram as divergências e elegeram a Gregório X, que nem cardeal era, mas sim diácono na Bélgica. O curioso é que foi necessário um religioso fora da cúria para estabelecer o conclave.

Depois disso os conclaves entraram para a organização da Igreja, sendo regulamentados pelo Direito Canônico e por decretos e documentos dos papas, que vão modernizando este instrumento de acordo com o passar dos tempos. O conclave realizado em março de 2013, por exemplo, para eleger o Papa Francisco foi o 75º conclave da história da Igreja.

Alguns elementos do conclave, como por exemplo a obrigatoriedade do segredo e a famosa “fumacinha” cinza ou branca, que indica ou não a escolha de um novo Papa, entraram para o folclore, sendo explorados intensamente pela mídia nos dias que antecedem a convocação dos cardeais.

Outros elementos dos conclaves, como as tendências dos possíveis candidatos e sua postura a respeito de desafios enfrentados pela Igreja são também exaustivamente debatidos pela mídia. Porém, a eleição de um papa sempre acaba sendo surpresa para o mundo, como vimos nas últimas eleições.

Alguns conclaves foram realizados no Palácio Quirinale, em Roma, atual sede do Presidente da República e antiga residência dos papas, em quatro oportunidades, mas João Paulo II definiu a Casa Santa Marta como local de acolhida dos cardeais durante o conclave e a Capela Sistina como lugar de sua realização. João Paulo II também aboliu as formas de eleição “por aclamação” ou “por compromisso”, mantendo apenas a forma “por escrutínio”. No processo de eleição do qual participam os cardeais com menos de 80 anos, todos são, ao mesmo tempo, eleitores e candidatos.

Para que a eleição do novo Pontífice seja válida, se exige a maioria dos dois terços dos votos dos cardeais eleitores e votantes. Nenhum cardeal eleitor poderá ser excluído da eleição, por nenhum motivo ou pretexto. Permanece confirmado o período de espera de 15 dias entre a morte do papa e o início do conclave.

Atribuições do Cardeal Camerlengo

O cardeal Camerlengo (ou Decano) é quem preside a Câmara Apostólica e que exerce a função de cuidar e administrar os bens e os direitos temporais da Santa Sé. No período da Sé Vacante, ele está entre aqueles que não entregam seu cargo e que continuam a exercer suas funções ordinárias, submetendo ao Colégio cardinalício aquilo que deveria ser apresentado ao Sumo Pontífice.

É ele quem convoca o conclave e chama a Roma os cardeais da Igreja Católica que participarão do processo de eleição do novo pontífice.

Durante todo o período de Sede Vacante, a Igreja do mundo inteiro deve se colocar em oração pedindo as luzes do Espírito Santo para que o processo de escolha seja de fato sagrado. Nessa hora, as possíveis intrigas e divisões são deixadas de lado, prevalecendo a unidade mesmo em meio às diversidades.

Escrito por:
Pe Jose Inacio de Medeiros
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista que atua no Instituto Histórico Redentorista, em Roma. Graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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