Igreja

Conhecendo os Evangelhos: Batismo do Senhor (Lc 3, 21-22)

Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)

Escrito por Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

07 JAN 2022 - 10H20 (Atualizada em 01 FEV 2022 - 08H13)

Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E, enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer”.

Olhando para este texto do Batismo de Jesus, o que podemos aprender para a nossa vida de caminhada cristã? Principalmente aos pregadores, catequistas e líderes religiosos, essa é uma passagem muito marcante na vida de Jesus e na vida de todos os seus seguidores posteriores, pois nos ensina a abrir o coração à força do Espírito e nos unirmos intimamente com o Pai Celeste já aqui na Terra.

O relato do Batismo do Senhor está contido, de uma forma ou de outra, nos quatro Evangelhos. Existem algumas pequenas diferenças nos detalhes, mas a fulcro da mensagem é o mesmo. Conferir as citações em Mt 3, 13-17 e Mc 1, 9-11. A descrição do evangelista João é feita de forma indireta, conferir Jo 1, 15-18. Chegado o momento propício, Jesus desceu da Galileia ao lugar em que João batizava com água, no Rio Jordão, na região da Pereia. Depois de um breve diálogo com o Batista, que serviu de afirmação teológica de que Jesus era o Messias esperado por Israel, ele se deixa batizar para que “toda a justiça fosse cumprida”.

O Espírito Santo desce dos céus sobre Jesus e uma voz se manifesta dizendo: “Este é meu filho amado, em quem ponho meu deleite, agrado, contentamento (εὐδόκησα)”. A voz que vem do céu (φωνὴν ἐξ οὐρανοῦ) é a confirmação do início da vida pública de Jesus, assim como os sacerdotes do Antigo Testamento precisavam ser confirmados para exercer tal múnus. Lucas é o único que preserva a expressão “como forma corpórea, visível” (σωματικῷ εἴδει) ao se referir à pomba na manifestação do Espírito Santo. Isso para sinalizar que o acontecimento teve o aspecto visível a toda a multidão, ainda que o texto não diga se a voz teofânica tenha sido ouvida por todos.

Jesus, depois de viver a infância e a juventude de forma obscura em Nazaré, sente que está preparado para iniciar sua missão evangelizadora: comunicar a Boa Nova dentro de seu relacionamento de Filho para com o Divino Pai Celeste. Esvaziado de sua condição divina, dos privilégios do ser divino (cf Fl 2, 6-7), Jesus se desenvolve plenamente na caminhada comum do ser humano, crescendo em estatura, graça e sabedoria diante de Deus (cf Lc 2, 40).

Leia MaisO dom maior é o perdãoConhecendo os Evangelhos: Verdadeiros cristãosConhecendo os Evangelhos: Tua fé te curouA consciência messiânica de Jesus foi se desenvolvendo gradualmente, conforme ele aprendia sobre as realidades celestes com seu pai, sua mãe, seus vizinhos e amigos. Ele é homem de verdade, e não somente de aparências, como acreditavam algumas tendências gnósticas-docéticas nos primeiros séculos, heresias que foram combatidas ardentemente pela Igreja Antiga. A Encarnação verdadeira do Verbo Divino é essencial para compreendermos como Jesus desenvolveu plenamente sua capacidade de homem e nos ensinou a obter o máximo proveito de nossa natureza humana.

No Batismo, ele não é adotado pelo Pai e “possuído” pelo Espírito Santo, tornando-se o Filho de Deus naquele momento, como ensinavam algumas seitas heréticas de antigamente, mas sim recebe, como todo homem, a força do Espírito Santo para potencializar ainda mais sua força missionária. Ele nasceu com a natureza divina, não podemos esquecer que ele é o Verbo Divino Encarnado. Vemos no acontecimento do Batismo a prefiguração da Teologia da Santíssima Trindade, pois a perfeita harmonia das três pessoas divinas é sem dúvida bem nítida. O Pai confirma que esse é o Filho amado no qual Ele encontra alegria e deleite, e o Espírito Santo pousa sobre ele para fortalecer seu apostolado messiânico.

Percebamos que, diferentemente de todos os outros que vieram buscar o batismo de João, Jesus não precisa se arrepender de nenhum pecado específico, pois não é essa a finalidade do batismo para ele. Jesus reconhece o ministério de seu compatriota e parente João, o Precursor, pois prepara os corações humanos, pelo arrependimento e mudança de vida, a se abrirem para os segredos divinos, a serem revelados por Jesus.

O Mestre quer nos mostrar que é nesse momento que seu ministério se inicia, e que todos nós podemos seguir o mesmo caminho de plenificação de nossa natureza humana e participarmos, um dia, de sua natureza divina. No entanto, pecadores que somos, as águas do Batismo purificadas por Jesus servem para nos encher do Espírito Santo e, assim, assumirmos também a nossa missão de batizados, que é concretizar o Reino de Deus, de paz, amor e justiça, já aqui na terra e também já inaugurado por Jesus Cristo.

Escrito por
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

Missionário Redentorista com experiência nas missões populares, no atendimento pastoral no Santuário Nacional de Aparecida, passou pela direção do A12, fez missão na Filadélfia nos Estados Unidos. Atualmente é diretor editorial adjunto na Editora Santuário.

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