Por Padre José Luis Queimado, C.Ss.R. Em Igreja

Conhecendo os Evangelhos: Jesus não quis ditadores

Mt 19, 16-22

Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus: Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos. Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda? Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me! Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens.

Jesus não quis ditadores

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Essa mesma passagem pode ser encontrada, de modo levemente distinto, no Evangelho de Marcos 10, 17-27 e no Evangelho de Lucas 19, 16-22.

O relato de Mateus nos deixa todos perplexos, exatamente pelo teor de radicalidade exigida pelo Mestre para o seguimento. Se quisermos seguir o Cristo e concretizar o seu Reino, teremos de fazer escolhas árduas, abrindo mão de muitas aspirações pessoais.

Leia MaisCuidado com os falsos pastoresConhecendo os Evangelhos: Converter o coração aos poucosConhecendo os Evangelhos: Abandonar a velha vida de pecadosUm jovem rico (sendo um príncipe, em Lucas, e um homem maduro, em Marcos) foi ao encontro de Jesus, com muita sinceridade de coração, esperando obter uma resposta afirmativa do Mestre. Jesus, de fato, fica admirado pela fé e pela experiência religiosa do jovem, e o vê como um discípulo em potencial. Mas Jesus ainda quer expor mais uma condição, e a principal para segui-lo: exigir-se-á muito esforço e abnegação.

Ninguém quer perder os bens que adquiriu, talvez com muito suor. À época de Jesus, ser rico era ser abençoado por Deus. A teologia do judaísmo sacerdotal pregava exatamente isto: se você é pobre, você é amaldiçoado! O jovem não entende esse projeto revolucionário de Jesus, nem nós entendemos, ainda!

Por comparação, a hierarquia da Igreja, com o passar dos anos, nasceu exatamente para servir aos seguidores de Jesus. Sendo desapegada, ela mostraria à humanidade a verdadeira pessoa de Jesus, mas hoje está bem difícil de perceber isso. Em certo sentido, muitos de nossos pastores se assemelham àquele jovem rico, pois não são capazes de abrir o coração para uma nova proposta de vida. O jovem não entendeu a nova sugestão de

Jesus, e muitos de nossos pastores também não entendem os caminhos de abnegação e desapego que ele nos propõe.

A passagem sobre a qual nos debruçamos nos ensina uma valiosa lição: apenas cumprir ordens e regras, cultos e ritos, não nos dará a plenitude da vida. É muito mais difícil perdoar um irmão do que rezar um terço; é muito mais árduo abraçar o pobre do que tomar a refeição na casa de um rico; em suma, é muito mais fácil se esconder atrás de rubricas do que ser cristão audacioso, transformador de realidades.

Se nós entendêssemos a importância de ser cristão genuíno, dando os nossos bens aos pobres, não só materiais, mas os bens intelectuais e espirituais, não teríamos em nossas igrejas a presença de ditadores, que comandam sozinhos a vida da comunidade, da paróquia, da diocese ou do espaço em que nos reunimos.

Se fôssemos viver na radicalidade que Cristo nos propõe, sairíamos tristes e de cabeça abaixada, pois muitas das nossas mordomias e burocratizações desapareceriam. E como é bom se proteger com o escudo do rigorismo, das riquezas, das pompas e das regras inflexíveis! Jesus sonhou diferente: sonhou que pessoas se reunissem como irmãos e irmãs desapegados, que não tivessem medo de dar a vida pelos outros e se importassem menos com o que é fugaz! Lutemos por esse sonho!


Escrito por:
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

Missionário Redentorista com experiência nas missões populares, no atendimento pastoral no Santuário Nacional de Aparecida, passou pela direção do A12, fez missão na Filadélfia nos Estados Unidos. Atualmente é diretor editorial adjunto na Editora Santuário.

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