Igreja

Dom Hélder Câmara: 25 anos de uma herança de luta por justiça e fraternidade

Escrito por Luciana Gianesini

27 AGO 2024 - 14H49 (Atualizada em 27 AGO 2024 - 16H06)

Há 25 anos, no dia 27 de agosto de 1999, o Brasil se despedia de Dom Hélder Câmara, um dos mais influentes e carismáticos líderes da Igreja Católica no país. Conhecido como o “Dom da Paz”, Dom Hélder foi uma voz profética em tempos de opressão, especialmente durante a ditadura militar, defendendo os direitos humanos e a dignidade dos mais pobres. Seu legado, tanto na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) quanto na sociedade, permanece vivo e relevante, inspirando gerações.

Arquivo Instituto Dom Helder Camara
Arquivo Instituto Dom Helder Camara

Nascido em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza (CE), Dom Hélder ingressou no seminário aos 14 anos e foi ordenado sacerdote aos 22.

Sua trajetória episcopal começou em 1952, quando foi nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro.

Em 1964, assumiu a arquidiocese de Olinda e Recife, onde se destacou por sua atuação em favor dos marginalizados e perseguidos pelo regime militar.

Dom Hélder desempenhou também um papel central na criação da CNBB, em 1952, sendo um dos idealizadores da entidade que se tornaria um marco na articulação pastoral e social da Igreja no Brasil.

Sob sua liderança, a CNBB foi fundamental na defesa dos direitos humanos e na promoção da justiça social durante os anos de chumbo.

“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, me chamam de comunista”, dizia ele, resumindo sua visão crítica sobre as estruturas de poder que perpetuavam a pobreza e a desigualdade.

Além de sua atuação na CNBB, Dom Hélder foi um dos grandes impulsionadores da Campanha da Fraternidade, que teve início há exatos 60 anos, em 1964. A campanha, que anualmente propõe temas de reflexão e ação para a sociedade, tornou-se uma das mais importantes iniciativas da Igreja Católica no Brasil, fomentando a solidariedade e o compromisso com a transformação social. Dom Hélder acreditava que a fraternidade era o caminho para superar as divisões e construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Reprodução/ CNBB
Reprodução/ CNBB

Durante a ditadura militar, Dom Hélder foi uma voz incansável em defesa dos direitos humanos.

Ele denunciou as torturas, desaparecimentos e assassinatos praticados pelo regime, ganhando notoriedade internacional como defensor da paz e da justiça.

“A violência só gera violência, e com a violência a humanidade caminha para o suicídio”, alertava, enfatizando a necessidade de uma resistência pacífica, mas firme, contra a opressão.

Dom Hélder foi indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz, mas nunca o recebeu. Contudo, seu legado vai além de prêmios e reconhecimentos. Seu exemplo de humildade, coragem e compromisso com os mais vulneráveis continua a inspirar a Igreja e a sociedade brasileira. Sua visão de uma “Igreja pobre e para os pobres” se alinha com a atual ênfase do Papa Francisco, que frequentemente evoca o espírito de Dom Hélder em seus discursos e ações.

Hoje, 25 anos após seu falecimento, o Brasil ainda se lembra do “Arcebispo das Favelas”, como era carinhosamente chamado, por sua proximidade com os pobres e oprimidos. “Eu sou apenas um homem. Se me calarem, as pedras gritarão”, afirmou Dom Hélder, refletindo a força de sua mensagem e a certeza de que sua luta pela justiça nunca seria em vão.

Dom Hélder Câmara deixou um legado que ultrapassa as fronteiras da Igreja, inspirando movimentos sociais, defensores dos direitos humanos e todos aqueles que acreditam na construção de um mundo mais justo e fraterno. Em tempos de desafios sociais e políticos, suas palavras e ações continuam a ecoar, lembrando-nos de que a verdadeira paz só é possível onde há justiça.

Reprodução/ Arquidiocese de Olinda e Recife
Reprodução/ Arquidiocese de Olinda e Recife

O processo de beatificação de Dom Hélder foi oficialmente iniciado pela Arquidiocese de Olinda e Recife em 2015. Desde então, ele recebeu o título de “Servo de Deus”, o primeiro passo no caminho para a beatificação. 

Neste aniversário de 25 anos de seu falecimento, a memória de Dom Hélder Câmara é celebrada não apenas pela Igreja, mas por todos aqueles que acreditam que a fé deve ser vivida em compromisso com os mais necessitados e em defesa dos direitos de todos. Que seu exemplo continue a iluminar o caminho daqueles que, como ele, lutam por um mundo onde “a paz é fruto da justiça”.

:: Em 2023, a equipe do Arquivo A, da TV Aparecida, por meio do jornalista Eduardo Góis, revisitou locais importantes na biografia de Dom Hélder Câmara. Reveja!


Fonte: CNBB

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