Igreja

É possível ser católico e maçom ao mesmo tempo?

Padre Inácio nos mostra o motivo para que a Igreja proíba ao cristão ser filiado nesta instituição

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

27 NOV 2023 - 15H53 (Atualizada em 27 NOV 2023 - 16H21)

Reprodução - Facebook

Com certa frequência, católicos são convidados a fazer parte da Maçonaria, vindo daí a pergunta se é possível ser, ao mesmo tempo, católico e maçom e quais as consequências que podem ocorrer a partir de uma possível filiação.

A maçonaria moderna foi fundada oficialmente na Inglaterra, em 1717, e já em 1738, o papa Clemente XII proibia aos católicos de se tornarem membros de lojas maçônicas.

Leia MaisAs raízes históricas da maçonariaO distanciamento da Igreja Católica em relação à maçonariaEm nosso tempo, num documento escrito pelo então cardeal Joseph Ratzinger, que depois se tornaria o Papa Bento 16, a Igreja Católica afirma que "os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão”.

Em 2023, os católicos continuam proibidos de se filiar à maçonaria. É o que afirma a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em resposta datada de 13 de novembro de 2023, assinada por Dom Victor Fernandéz, prefeito da Sagrada Congregação, com aprovação do Papa Francisco.

Razões doutrinais e pastorais

Respondendo a uma solicitação do bispo de Dumanguete, nas Filipinas, Dom Julito Cortes, preocupado com o aumento do número de católicos filiados à maçonaria, o Dicastério para a Doutrina da Fé deu a resposta e, ao mesmo tempo motivou a Conferência Episcopal das Filipinas a implementar uma estratégia em todas as dioceses do país para conscientizar e esclarecer os católicos sobre esse desafio que é a mesmo tempo doutrinal e pastoral.

Na resposta dada a Congregação para a Doutrina da Fé afirma que “A filiação ativa de um fiel à maçonaria é proibida, pela impossibilidade de haver conciliação entre a doutrina católica e a maçonaria”. Esta mesma afirmação havia sido pela mesma Sagrada Congregação, em 1983, e publicada em 2003. A declaração vale para os cristãos leigos e também “se aplicam a eventuais eclesiásticos inscritos na maçonaria”.

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A Declaração de Joseph Ratzinger, de novembro de 1983, foi publicada nas vésperas da entrada em vigor do Código de Direito Canônico que substituiria o de 1917. No novo código não havia condenação explícita da maçonaria e nem se falava da excomunhão para os seus afiliados, como estava no texto antigo. A Declaração, assinada pelo então Cardeal Ratzinger e pelo secretário da Congregação, Jérôme Hamer, aprovada por João Paulo II, reiterou que os católicos afiliados a lojas maçônicas estariam “em estado de pecado grave”.

Distanciamento histórico

Precisamos, em primeiro lugar, conhecer as raízes históricas da maçonaria como escrevi no meu segundo artigo. Diferentemente do que muitas vezes se afirma a origem da maçonaria não vem de Hiram, rei de Tiro (Líbano atual), que ajudou Salomão na construção do templo de Jerusalém (1Rs 5,15-26), nem mesmo com os Cavaleiros Templários, que depois seriam extintos. Sua origem está nas corporações de pedreiros da Idade Média que gozavam de grande prestígio e que se uniram para defender a sua causa.

Aos poucos foram incorporando pessoas de outras categorias como membros da alta nobreza. Desde o início, ateus e libertinos foram excluídos das Lojas Maçônicas que passaram a professar uma religião bem abstrata que não incomodava a ninguém e que denominava a Deus como “o grande Arquiteto do Universo”, sem mencionar as demais pessoas da Santíssima Trindade e nem ao Evangelho. Cada membro da sociedade era livre em sua consciência e religião, embora se exigisse deles uma correta conduta moral, familiar e profissional.

A Maçonaria cresceu, se organizou, mas também se dividiu em dois grandes ramos dos quais o que veio para o Brasil se tornou inimigo da Igreja e da monarquia, como vimos no primeiro artigo, trabalhando pela mudança do regime. Hoje existem lojas que são hostis ao catolicismo e à Igreja e outras um pouco mais imparciais.

Documentos pontifícios mostram que desde o início a Igreja se colocou numa posição contrária à maçonaria. Como citado no início do artigo, o Papa Clemente XII, publicou o documento “In eminenti” proibindo a adesão de católicos à maçonaria (1738). Depois dele, o Papa Bento XIV, com o documento “Provida” (1751); Leão XII, com o “Quo graviora” (1825); Leão XIII, como o “Humanum genus” (1884), e Pio IX em cerca de vinte diferentes documentos, condenaram a maçonaria.

No final do século XIX, durante o pontificado de Pio IX, a maçonaria italiana trabalhou ativamente pela unificação italiana e pelo fim dos Estados Pontifícios, de onde decorrem as contínuas condenações.

Em nossos tempos temos então a já citada declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, publicada em novembro de 1983.

Mas a partir da pergunta feita por diversos católicos leigos e eclesiásticos, fundando-se na tradição e no magistério da Igreja, a doutrina da Igreja se baseia em quatro pontos para afirmar que um católico não deva aderir à maçonaria.

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Primeiro há o perigo que o caráter secreto da maçonaria representa, porque nem sempre é de caráter pacífico e o aspecto secreto pode favorecer certos abusos e injustiças. Depois, vem a índole anticristã da sociedade maçônica, que se opõe em muitas ocasiões e situações à índole cristã da sociedade.

Ao lado disso, existe a mentalidade relativista que muitas vezes distorce a verdade a seu favor e por fim a contradição com a doutrina católica que professa a existência do Absoluto que pode ser conhecido através da graça divina como dom a todo cristão. As verdades naturais nem sempre são a explicação última para todas as coisas.

Outras igrejas e a maçonaria

A Igreja não está sozinha e sua oposição em relação à maçonaria e seus princípios, não é algo exclusivamente seu. Ao longo do século XX, alguns grupos evangélicos brasileiros assumiram parte ou o todo das críticas católicas, associando a maçonaria ao satanismo, por exemplo.

A maçonaria inclusive contribuiu para a divisão de uma igreja pentecostal e com isso, essa aversão à maçonaria se tornou mais forte entre algumas igrejas pentecostais, fazendo com que outras igrejas endossassem a crítica. Alguns grupos evangélicos veem a maçonaria como parte de um sistema que quer comandar o mundo. Ao fazer parte de uma organização tão secreta e cheia de ritos e símbolos, o maçom estaria impossibilitado de ser cristão. Hoje, para a maioria das igrejas evangélicas, sem unanimidade, claro, é pecado ser maçom.

Por isso, é importante que os cristãos procurem conhecer mais a fundo a doutrina da Igreja, pois a adesão à fé implica também na renúncia a certas posições pessoais. E àqueles que aderiram à maçonaria ou qualquer outro grupo não recomendado pela Igreja ainda dá tempo de voltar.

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Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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