Por Joana Darc Venancio Em Igreja Atualizada em 05 DEZ 2017 - 08H48

Educar para a Espera Cristã: É na esperança que fomos salvos! (Rm 8,24)

Formar pessoas é, sem dúvida, o mais belo e intrigante dos desafios. Nesta bela e árdua missão temos muitas responsabilidades, entre elas a de formar para a capacidade de saber esperar. A capacidade de esperar, no sentido cristão, não está vinculada ao conceito de uma espera descansada sem compromisso com as atitudes práticas. A espera para qual precisamos formar tem a ver com os sentidos do amadurecimento, da maturação, do tempo certo para cada coisa e acima de tudo, para a expectativa do que podemos viver no Tempo de Deus. Saber esperar é ter esperança. A esperança é uma das virtudes teologais. O que são Virtudes Teologais? São três virtudes inseparáveis dos que se professam cristãos. O Catecismo da Igreja Católica ensina:

As virtudes teologais fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão. Informam e vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para os tornar capazes de proceder como filhos seus e assim merecerem a vida eterna. São o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. São três as virtudes teologais: fé, esperança e caridade (1813)

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No Advento, a Igreja nos convida a vivenciar com mais intensidade a virtude da Esperança Cristã: esperar Jesus!

Admiramo-nos da beleza das flores, das borboletas, das árvores frondosas. Encantamo-nos ao ver a humanidade reinaugurada com a chegado de um recém-nascido. Rendemo-nos à emoção ao receber um diploma, ao chegar ao destino de uma viagem desejada, ao conquistar um sonho cultivado. Existem muitas outras situações que coroam as sábias, pacientes e fecundas esperas. A espera é o tempo necessário para que o processo de maturação, de enraizamento e de crescimento aconteça. Nenhuma chegada é plena sem o processo da espera. Papa Bento XVI na Carta Encíclica «Spe Salvi facti sumus » reflete:

A verdadeira e grande esperança do homem, que resiste, apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus – o Deus que nos amou, e ama ainda agora « até ao fim », « até à plena consumação » (cf. Jo 13,1 e 19,30). Quem é atingido pelo amor começa a intuir em que consistiria propriamente a « vida ». Começa a intuir o significado da palavra de esperança que encontramos no rito do Batismo: da fé espero a « vida eterna » – a vida verdadeira que, inteiramente e sem ameaças, em toda a sua plenitude é simplesmente vida.

Quem não sabe esperar desespera-se. O desespero é a ausência da esperança e sem a esperança fazemos da vida um amontoado de fatalidades e de acasos. O catecismo da Igreja Católica deixa muito claro o sentido da esperança:

O primeiro mandamento visa igualmente os pecados contra a esperança, que são o desespero e a presunção: Pelo desespero, o homem deixa de esperar de Deus a sua salvação pessoal, os socorros para a atingir, ou o perdão dos seus pecados. Opõe-se à bondade de Deus, à sua justiça (porque o Senhor é fiel às suas promessas) e à sua misericórdia. (2091)

Negar a espera é aceitar o desespero e não acreditar nas Promessas de Deus. "Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração” (Rm 12,12).

Nós somos construções arquitetadas pelo tempo. Sem o tempo de espera não adquirimos maturidade biológica, física ou cognitivas. Sem a espera não adquirimos sabedoria, experiência, discernimento e equilíbrio emocional. Sem a espera não vivemos os mistérios da fé. A fé nos apresenta tempos de espera. Pela espera o Cristianismo se constituiu. Os Profetas, anunciavam séculos antes, que o Messias chegaria. O Povo escolhido soube esperar, com a orientação dos Patriarcas, as revelações de Deus ao longo da história. Deus cumpriu todas as Promessas. "E Abraão, esperando com paciência, alcançou a realização da promessa." (Hb 6,15) Papa Bento VI ensinou na Audiência Geral de 22 de dezembro de 2010:

Todo o Antigo Testamento constitui uma única grande promessa, que devia realizar-se com a vinda de um salvador poderoso. Disto nos dá testemunho em particular o livro do profeta Isaías, que nos fala do esforço da história e de toda a criação por uma redenção destinada a dar novas energias e renovada orientação ao mundo inteiro. Assim, além da espera dos protagonistas das Sagradas Escrituras, ao longo dos séculos encontra espaço e significado também a nossa espera, aquela que nestes dias experimentamos e que nos conserva vigilantes durante todo o caminho da nossa vida. Com efeito, toda a existência humana é animada por este profundo sentimento, pelo desejo de que quanto de mais verdadeiro, bonito e maior entrevimos e intuímos com a mente e o coração, possa vir ao nosso encontro e, diante dos nossos olhos, se torne concreto e nos eleve.

O ritmo acelerado da vida pós-moderna tem ditado o comportamento ligeiro, ansioso, veloz e imaturo de lidar com o tempo. Esse modelo tem rompido processos necessários ao amadurecimento da condição humana em muitas dimensões. Os processos estão acelerados antecipando chegadas fora do tempo. Antecipação, que muitas vezes começa nos partos, na adultização da infância e que circundam todo cotidiano da nossa existência. Não temos paciência de esperar. Aprender esperar é um dos grandes desafios neste novo modelo estabelecido pela vida frenética que promove desesperança. É preciso amadurecer os sentidos da esperançosa busca. Saber esperar é próprio do Cristão. O Cristianismo é a bela verdade de uma Espera. "Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência." (Cl 3,12)

Sem manter o foco na esperança não amadurecemos para a vida e não amadurecemos para a verdade da fé. Os processos que amadurecem as chegadas, são sinais, de nossa certeza, no cumprimento das Promessas de Deus em nossa vida individual e coletiva. A espera não é uma condição estática e inerte, mas um convite para viver intensamente cada segundo da vida que nos amadurece para a celebração da chegada. Papa Francisco, na Audiência Geral de 21 de dezembro de 2016, ensinou:

A esperança nunca está parada, a esperança está sempre a caminho e leva-nos a caminhar. Esta esperança, que o Menino de Belém nos confere, oferece uma meta, um destino bom para o presente, a salvação à humanidade, a bem-aventurança a quantos confiam em Deus misericordioso. São Paulo resume tudo isto com a expressão: «Fomos salvos pela esperança» (Rm 8, 24). Ou seja, caminhando neste mundo, com esperança, fomos salvos. E aqui cada um de nós pode formular a pergunta: caminho com esperança ou a minha vida interior está parada, fechada? O meu coração é uma gaveta fechada ou uma gaveta aberta à esperança, que me faz caminhar não sozinho, mas com Jesus?

Esperar é saber viver o tempo para cada coisa. Esperar é confiar em Deus e no Projeto que Ele tem para nós. Esperar é acreditar que a sabedoria é consequência das experiências. Esperar é viver o “tempo oportuno”, que não é o Cronológico, mas o tempo da Graça, da Salvação, o tempo de Deus. O Catecismo da Igreja Católica ensina:

Quando Deus se revela e chama o homem, este não pode responder plenamente ao amor divino por suas próprias forças. Deve esperar que Deus lhe dê a capacidade de corresponder a este amor e de agir de acordo com os mandamentos da caridade. A esperança é o aguardar confiante da bênção divina e da visão beatifica de Deus; é também o temor de ofender o amor de Deus e de provocar o castigo. (2090)

Leia MaisProfessores: testemunhas de vida e de esperançaMissão da Família: gravar os mandamentos no coração dos filhosEducar: a força da presença dos paisPara saber esperar, é preciso disciplina e planejamento. Quando retiramos de nosso cotidiano essas duas condições, destruímos os sentidos da espera e atropelamos os processos de maturação. A pressa deixa marcas de complexidades e de superficialidades. A pressa acelera a metamorfose e impede a plenitude. A espera plenifica, leva à sabedoria, impede a superficialidade e nos mantem firmes nas tempestades.

Naquelas esperas corriqueiras que tanto nos incomodam, podemos, por sermos cristãos, vivenciá-las de forma diferenciada. Ao esperarmos uma consulta, fiquemos atentos se alguém gostaria de bater um papo ou alguém precisa ser consolado por ter recebidos um diagnóstico ruim. Sejamos bem-humorados para que animemos o outro a esperar com paciência e serenidade. Levemos sempre a Bíblia para que nos faça companhia na espera. Levemos um livro, ou ouçamos no celular, oração, boas canções, bons programas de rádio ou vídeos. Se temos redes sociais, podemos aproveitar a espera para enviar boas mensagens. Também podemos aproveitar o tempo para observar tudo o que acontece ao nosso redor para meditar a vontade de Deus para nossa existência. Quando estivemos no engarrafamento, podemos fazer a mesma coisa, ainda que a lida nos transportes públicos, seja grande e sofrida. Papa Bento XVI na Carta Encíclica «Spe Salvi facti sumus » orienta:

A nossa esperança é sempre essencialmente também esperança para os outros; só assim é verdadeiramente esperança também para mim. Como cristãos, não basta perguntarmo-nos: como posso salvar-me a mim mesmo? Deveremos antes perguntar-nos: o que posso fazer a fim de que os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança? Então terei feito também o máximo pela minha salvação pessoal.

A espera com paciência e com solidariedade nos santifica e nos faz passar com mais serenidade pelos obstáculos.

Escrito por
Joana Darc Venancio (Redação A12)
Joana Darc Venancio

Pedagoga, Mestre em educação e Doutora em Filosofia. Especialista em Educação a Distância e Administração Escolar, Teóloga pelo Centro Universitário Claretiano. Professora da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora da Pastoral da Educação e da Catequese na Diocese de Itaguaí (RJ)

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