Um dos primeiros trabalhos a serem realizados na segunda sessão da Assembleia do Sínodo dos Bispos foi a primeira Congregação Geral, realizada na quarta-feira (2).
Após discurso do Papa e saudação do relator geral, os representantes de cada um dos dez grupos de estudo e três comissões apresentaram o andamento dos trabalhos realizados desde fevereiro a pedido do Santo Padre, aprofundando teológica e canonicamente, temas como as mulheres, a poligamia, os pobres, as Igrejas Orientais e a internet.
Foram ilustrados à assembleia o trabalho realizado e os programas futuros que preveem um diálogo constante entre padres e madres sinodais e os próprios Grupos:
Sobre a questão da poligamia em vários países africanos, se pronunciou o cardeal congolês Fridolin Ambongo, arcebispo de Kinshasa e presidente do SECAM (Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar), que apresentou um relatório, que suscita os questionamentos: como acompanhar pastoralmente pessoas que abraçaram a fé cristã em situação de poligamia ou pessoas batizadas que vivem em poligamia após a conversão. Em quatro pontos, o Secam quer analisar as formas do fenômeno, as motivações e a doutrina. Afirmar que a poligamia não é o ideal do casal desejado por Deus hoje não basta: precisa “proximidade”, “escuta ativa” e “apoio”.
O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Victor Manuel Fernández, falou em nome do Grupo sobre “formas ministeriais”. O cardeal concentrou o foco na “questão urgente da participação das mulheres na vida e liderança da Igreja”, âmbito em que se insere a questão do diaconato feminino, tema do trabalho de duas Comissões instituídas pelo Papa. O risco é que o diaconato se torne “uma espécie de consolação para algumas mulheres”, enquanto “a questão mais decisiva da participação na Igreja permanece negligenciada”. Em todo o caso, a Doutrina da Fé continua o “trabalho de aprofundamento”, entrelaçando a análise do perfil das mulheres que na história da Igreja “exerceram uma autoridade real” com a escuta de mulheres que hoje exercem cargos de liderança nas Igrejas, mesmo em terras distantes como a Indonésia e a África. Assim, a questão do diaconato feminino “resulta redimensionada” e “procuramos alargar os espaços para uma presença feminina mais decisiva”.
Como fortalecer o vínculo entre a comunidade cristã e aqueles que atuam diariamente no serviço da caridade, da justiça e do desenvolvimento é a linha das reflexões ilustrada pela coordenadora, a australiana Sandie Cornish, que destacou como “as mulheres, em todas as partes do mundo, pertencem aos grupos mais pobres entre os pobres”. O trabalho do Grupo “será estruturado a partir das suas vozes”, mas também daquelas dos voluntários e profissionais que caminham com quem vive a pobreza e a marginalização. Serão levados em consideração “os grupos excluídos há anos, como as vítimas de discriminação das castas”.
Bombas e tanques que destroem de maneira dramática não só as pessoas, mas também as esperanças e atingem uma categoria pequena e frágil como as Igrejas Orientais Católicas nas áreas de guerra foi apresentado pelo cardeal Claudio Gugerotti, prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais. “Correm o risco de desaparecer e a sua perda seria irreparável para a Igreja”, afirmou. O Grupo quer assumir a tarefa de “pedir aos latinos, mais fortes e mais organizados, para ajudar estes nossos irmãos a viver melhor depois das pesadas emigrações das suas terras de origem”.
A especialista estadunidense Kim Daniel ilustrou o trabalho do Grupo sobre evangelização no mundo virtual. Ela sugeriu uma nova página missionária na vida da Igreja, que permita chegar às periferias e represente um primeiro anúncio do Senhor num mundo que não O conhece. O trabalho é marcado por uma ampla escuta, especialmente dos jovens envolvidos em redes de cultura digital.
A ligação entre sinodalidade e primado, a hospitalidade eucarística, a relação com os movimentos de renascimento de inspiração cristã, são os pontos que analisará o Grupo de Estudos do qual é porta-voz dom Paul Rouhana, bispo auxiliar de Joubbé, Sarba e Jounieh dos Maronitas. A base dos encontros e reflexões será o documento O Bispo de Roma; as experiências de matrimônios, famílias interconfessionais e movimentos ajudarão a ampliar a reflexão sobre a hospitalidade eucarística.
O sacerdote de Münster, Felix Genn, sublinhou a necessidade de aprofundar a relação entre o bispo e a Igreja local, à luz também das expectativas do povo de Deus sobre uma maior transparência, um maior respeito pela realidade local, um maior envolvimento da Igreja local na seleção dos candidatos para evitar a suspeita de manipulação e restaurar a imagem de uma Igreja verdadeiramente sinodal.
Comunhão, hierarquia, sinodalidade, mas também confiança, fraternidade, irmandade são as palavras-chave que orientam o Grupo de estudo sobre as relações entre bispos e pessoas consagradas e a colaboração com Conferências Episcopais, superiores maiores, agregações eclesiais, Igrejas locais. Irmã Simona Brambilla, secretária do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada, explicou que serão examinadas em particular as diferenças e nuances no modo de viver as relações entre os bispos e a vida consagrada.
O Cardeal José Cobo Cano se pronunciou pela revisão “em uma perspectiva missionária sinodal” da Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, o documento de 1985 sobre a vida, a formação e o ministério dos sacerdotes. A Ratio ainda está em fase de implementação e necessita de indicações claras por meio de propostas e ideias. Será preparado um grande mosaico de orientações sobre questões como a formação nos seminários, a relação como forma de definir a identidade da Igreja, o povo de Deus como “sujeito” na formação dos sacerdotes.
O cardeal Oscar Gracias, arcebispo de Bombaim, falou sobre a figura e o papel dos Núncios. “Como podem contribuir para os laços de comunhão entre a Igreja universal e as Igrejas locais e com o Papa, dando a conhecer as necessidades e aspirações das realidades em que operam”, foi sua linha de pensamento. Os caminhos para desenvolver isso: Transparência e corresponsabilidade.
Para o trabalho do Grupo sobre questões “doutrinais, pastorais e éticas controversas”, o padre jesuíta Carlo Casalone explicou que a reflexão será dividida em dois focos, duas elipses: uma no plano social, asa comum, paz, "fraternidade diante dos conflitos”; uma para aprofundar o significado de temas como conjugalidade, geração, sexualidade, cuidado com a vida.
O pronunciamento do secretário da Comissão dos Canonistas, padre Gianluca Mellini, trouxe o projeto de reforma das normas canônicas envolvidas no processo sinodal e a “obrigação” dos bispos de terem na Diocese e consultarem os vários Conselhos (episcopal, diocesano, eparquial, presbiteral, paroquial), aos quais solicitar observações, verificações e pareceres. Nestes Conselhos é preferível uma maioria de leigos.
As respostas dos Grupos de Estudo deverão ser entregues ao Papa até 2025.
:: Os primeiros frutos do Sínodo da Sinodalidade
Fonte: Vatican News
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