Por Vinícius Paula Figueira Em Igreja

O agrotóxico que assassina o homem e a natureza

agrotóxico

No próximo dia 05 de junho “celebramos”, sob os auspícios da ONU, o Dia Mundial do Meio Ambiente. A propósito, quando nos debruçamos sobre a realidade nua e crua do nosso País, ficamos perplexos. Os mais incomodados se perguntam: há o que se comemorar nesse dia?

Com tantos descasos ambientais, rios poluídos (que dizer, por exemplo, da tragédia do Rio Doce?!), nascentes secando e o agrotóxico sendo despejado inescrupulosamente na Mãe-terra? Pois bem! Penso que a única coisa a se comemorar nessa ocasião são as mentes inconformadas com a situação dramática, as poucas mãos que se colocam a serviço da Casa Comum e os corações solidários que se doam pela vida do planeta que não mais geme em dores de parto, mas já padece às dores abortivas.

Proponho que nesse dia nos sintamos convocados a nos indignarmos e a fazermos alguma coisa, sobretudo, contra o uso indiscriminado dos agrotóxicos nas plantações. Como o próprio nome já diz, o elemento químico é o principal agente da intoxicação, tanto do homem quanto dos animais e do Meio Ambiente.

 

O elemento químico é o principal agente da intoxicação, tanto do homem quanto dos animais e do Meio Ambiente.

O portal Ecycle, observa que, ao longo dos anos, “acidentes” com agrotóxicos causaram graves problemas ambientais e de saúde por todo o mundo. Um dos casos mais graves da História e quase não divulgado aconteceu no ano de 2006, quando os moradores e animais da cidade de Lucas do Rio Verde, Mato Grosso, foram vítimas de intoxicação causada pela pulverização aérea do agrotóxico Paraquat, proibido em diversos países e na União Europeia. O produto, que era aplicado na produção agrícola da região, foi levado pelo vento até à cidade, causando diversos problemas.

A interrogação que instiga nossa criticidade é a seguinte: por que algo tão perigoso e nefasto ainda é utilizado pela nossa gente? Por que é tão fácil comercializá-lo? A resposta é absoluta e direta: por causa do deus dinheiro. Quem utiliza agrotóxico tende a produzir mais rápido, tende a ganhar mais dinheiro, ter mais lucro, multiplicar o patrimônio e ser "o tal"... Entretanto, ouso complementar: e ter menos vida. O Brasil é o campeão mundial no uso de agrotóxicos no cultivo de alimentos. Cerca de 20% dos pesticidas fabricados no mundo são despejados em nosso país. Um bilhão de litros ao ano: 5,2 litros por brasileiro! Um absurdo!

Urge uma política de fiscalização mais sistemática e aprimorada para averiguar o drama na qual nossa sociedade está imersa e criar consciência sobre o caso. Recordo-me que certo dia, visitando uma propriedade, senti-me obrigado a indagar o dono acerca do porquê haver duas plantações de alface, uma na beira de casa e outro bem longe. Prontamente ele me respondeu: “essa aqui perto da varanda é para o consumo da família, não utilizamos veneno, a outra é para comercializar”.

Olhei bem para ele e disse: o senhor dorme tranquilo? Ele preferiu silenciar. A princípio pensei ter sido inconveniente, mas por outro lado me coloquei no lugar dos consumidores que são obrigados a comprar produtos “envenenados” não só pelos agrotóxicos, mas pela ilimitada ganância capitalista do homem que recebeu a bela vocação de ser agricultor. Há de se considerar ainda o pensamento egoísta e predador dessas pessoas que fazem pouca conta da regrinha de ouro: “o que não quero para mim não quero para os outros” (cf. Mt 7,12).    

Pesquisadores brasileiros afirmam que há uma relação muito profunda entre câncer e agrotóxico, visto que, com o tempo, alguns tipos de agrotóxicos vão se acumulando no organismo e prejudicam a saúde. O Instituto Nacional do Câncer e a Fiocruz defendem o fim gradativo dos agrotóxicos e alertam: não existe dose segura para aplicar os pesticidas, ou seja, veneno é veneno. Ponto. Depois choramos e lamentamos o sepultamento de pessoas jovens vítimas, sobretudo, do câncer, mas não somos capazes de fazer da morte um grito de protesto para criar consciência desse temível risco que assombra tantas pessoas no nosso cotidiano!

Quando iremos acordar para esse crime socioambiental? Não é somente assassino quem puxa o gatilho de uma arma, desfere uma facada e/ou um golpe em alguém, mas também aqueles que ejetam veneno (alguns insistem em dizer que é remédio) de sua bomba - a nova pólvora que silencia a vida da Mãe-terra e a de tantos outros irmãos e irmãs. Inquietemo-nos. Denunciemos. Sejamos geradores e defensores da vida! 

assinatura vinicius colunista

Escrito por:
Vinicius Figueira - Colunista (Arquivo Pessoal)
Vinícius Paula Figueira

Graduado em Comunicação Social, mora em Iconha (ES), onde atua como coordenador paroquial da PASCOM

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