Por Redação A12 Em Igreja Atualizada em 19 JUN 2020 - 10H15

O Altar do Sagrado Coração de Jesus no Mosteiro de São Bento


Dom João Baptista, OSB
Dom João Baptista, OSB

O Mosteiro de São Bento de São Paulo (SP), com mais de 400 anos bem no centro da cidade, guarda histórias bem curiosas. São poucos os fiéis que, embora admirem o tesouro da arte beuronense, conhecem as histórias do cenóbio. O altar do Sagrado Coração de Jesus, que fica bem à porta que dá acesso a clausura dos monges, por exemplo, é um ex-voto.

Leia MaisConheça as 12 promessas do Sagrado Coração de JesusA atual igreja foi construída a partir de 1910, com a demolição do prédio anterior. Terminou dois anos depois, podendo verificar na atual fachada, o ano de 1912.

A decoração interna, no entanto, durou mais 10 anos, quando foi consagrada a basílica em 1922, pelo legado papal, o cardeal beneditino, Dom Aidano Gasquet. Ocorreu que pouco tempo depois, ainda com o cheiro de tinta fresca, explodiu a Revolução Tenentista, e a igreja foi o primeiro edifício atingido por balas de canhão na cidade.

Foram 23 dias de terror, entre 5 e 28 de junho. As famílias abastadas, com suas fazendas de café no interior, deixaram a cidade. Os pobres foram os que mais sofreram. Não tendo para onde fugir, muitos tiveram que permanecer em casa, numa situação de guerra urbana. Os paralelepípedos das ruas foram arrancados para se fazerem trincheiras e barricadas. Quem saísse às ruas poderia ser confundido e por isso atingido por balas. E muitos o foram.

Atendendo as necessidades da população de então, o abade e os monges fizeram de tudo para ajudar, transformando o mosteiro em um hospital improvisado para acolher os que sofriam. O abade Dom Miguel Kruse enviou monges a alguns bairros mais afastados para atender a população mais necessitada, distribuindo remédios e comida. Ao menos 6.000 pessoas foram atendidas.

Foi uma verdadeira guerra com mais de 500 mortos, 5.000 feridos e 1.182 prédios destruídos. Sinais deste período podem ser vistos ainda hoje no mosteiro. Quem vem em direção ao Largo de São Bento pelo Viaduto Santa Ifigênia, poderá se deparar com a parede lateral do Colégio de São Bento com marcas de projéteis.

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Após o conflito, o então abade mandou erguer um belíssimo altar em honra ao Sagrado Coração de Jesus como agradecimento a Deus por ter protegido o mosteiro, os monges e quem no prédio se abrigou, durante aqueles fatídicos dias. Ao lado da imagem do Sagrado Coração de Jesus, Santa Mactildes (monja beneditina) e Santa Margarida Maria de Alacoque (monja da ordem das visitandinas). Estas duas santas eram devotas do Sagrado Coração. A primeira iniciou a devoção ainda na Idade Média; a segunda teve a graça da visão no século XVI.

A Revolução Tenentista tem esse nome pelo fato de a maioria dos soldados revoltosos ostentarem a patente de tenente. Dentre algumas de suas exigências estavam a renúncia do Presidente da República, o mineiro Artur Bernardes (1875-1955), a formação de um governo provisório e o voto secreto.

Quando visitar o Mosteiro de São Bento de São Paulo e estiver diante do imponente altar com o conjunto de imagens do Sagrado Coração de Jesus relembre estes tristes episódios e rezem pelas almas que padeceram neste conflito.

Dom João Baptista Barbosa Neto, OSB
Monge do Mosteiro de São Bento de São Paulo (SP)

.:: O coração de Maria nos leva ao coração de Jesus

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