Igreja

O Papa Francisco e a Missão

Dom Orlando Brandes (Thiago Leon)

Escrito por Dom Orlando Brandes

21 OUT 2020 - 06H00 (Atualizada em 19 OUT 2021 - 15H39)

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Outubro é um mês missionário. A missão é o máximo desafio da Igreja, é a primeira de todas as causas, é o paradigma para toda a vida da Igreja, diz o Papa Francisco.

O missionário não tem medo das limitações, não desanima diante do joio, não lamenta nem olha o lado negativo. Isso é possível se o missionário for pessoa de oração, de vida interior, de mística e espiritualidade. Mais ainda, a vida interior lhe confere alegria, ousadia, consistência, generosidade. Portanto o segredo é: mística e missão.

Missão é evangelizar a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnância, sem medo. Consiste em ir à frente, ir ao encontro, tomar iniciativa, ousar mais, encurtar distâncias, entra na vida das pessoas e na noite do povo, procurar os afastados.

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Ficou famosa a expressão “Igreja em saída”, em chave missionária, Igreja do “ide”. Esta Igreja sai da acomodação, da mesmice, caminha, visita, semeia sem parar, sempre de novo e vai além. Diz o Papa: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e acomodação”.

Leia MaisO que é o Dia Mundial das Missões e para que ele serve?A Igreja missionária contrai o cheiro das ovelhas, está perto dos pobres, vai às periferias existenciais que são todas as pessoas de boa vontade. A Igreja missionária toca nas feridas do povo. Ela é como um hospital de campanha, uma mãe de coração aberto e portas abertas.

O Santo Padre vai mais longe e afirma que cada cristão deve dizer: “eu sou uma missão na terra”. Repete várias vezes a forte expressão: “vida é missão”. Deu-nos uma profunda definição de Deus Pai, afirmando que “Deus é missão”. De fato, Deus é amor e o amor é difusivo, sai de si, quer comunicação, encontro, amizade, aliança, Deus é missão.

Outra dimensão da Igreja missionária, muito corajosa e necessária, consiste em transformar e adaptar costumes, estilos, horários, estruturas e linguagem. Para isso é preciso coragem e discernimento. Mais do que o medo de falhar, nos mova o medo de nos encerrar nas estruturas, nas normas, nos hábitos que nos deixam tranquilos. Precisamos de conversão pastoral para alcançar os que estão fora, sem luz, sem força, sem amizade com Jesus, sem comunidade e sem horizonte na vida.

Para sermos missionários, não podemos nos abater. Não sejamos impacientes, queixosos, murmuradores. Evangelizemos com alegria, com esperança, com audácia. A vida se fortalece na doação e se enfraquece na acomodação e no egoísmo.

O Papa exorta que suas orientações sejam aplicadas com generosidade, com coragem, sem impedimentos e sem receios. Pede que suas palavras sejam objeto apenas de alguns comentários, sem verdadeira incidência prática. Percebemos que estamos numa nova etapa evangelizadora e um estilo novo de evangelização. A Igreja não pode cair numa “introversão eclesial”, num retrocesso. É necessário um novo impulso missionário.

O amor é o motor da missão. Igreja em missão permanente supera a pastoral da manutenção e da administração. É uma Igreja que entra na noite do povo, que cuida dos seus filhos e não de si mesma, se desamarra da autopreservação, autorreferência e obsessão doutrinal. Opta pelo querigma que é o anúncio da alegria do amor de Deus pela humanidade. Religião não é escravidão, nem centralização, nem acomodação. Tudo isso é obstáculo à missão.

A Igreja missionária se inquieta com a realidade dos pobres e das periferias e toca nas feridas do povo e vê no irmão a prolongação da Encarnação de Jesus Cristo. A prioridade da missão é a saída de si para o irmão com a força da mística da proximidade. A razão última da missão é a glória de Deus e salvação do mundo. A Igreja missionária age por gratidão, por atração, por compaixão, nunca por obrigação. O amor é o motor da missão.

Por fim, a missão é uma urgência inadiável, uma “quase impaciente urgência”. O missionário é uma “pessoa-cântaro” que dá de beber, sacia sede, oferece a água viva, cuida dos mais frágeis.

Escrito por:
Dom Orlando Brandes (Thiago Leon)
Dom Orlando Brandes

Arcebispo de Aparecida (SP)

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