No desenvolvimento dos hábitos devemos apostar na possibilidade de uma formação que garanta um comportamento moral constitutivo de uma nova realidade social. É preciso trazer ao contexto, uma dimensão do aprendizado da ética, que são os preceitos morais, que podem ser definidos como comportamento virtuoso. O Catecismo da Igreja Católica ensina:
AS VIRTUDES: "Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, tudo o que há de louvável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor" (Fl 4,8). A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só praticar atos bons, mas dar o melhor de si. Com todas as suas forças sensíveis e espirituais, a pessoa virtuosa tende ao bem, procura-o e escolhe-o na prática. "O objetivo da vida virtuosa é tornar-se semelhante a Deus”.( §1803)
A Igreja, através do Catecismo, descreve a virtude como uma disposição habitual. É preciso apresentar a impossibilidade de instrução destes preceitos como forma de conteúdos a serem ensinados e aprendidos. Aristóteles, grande Filósofo Clássico, em sua Obra “Ética a Nicômaco”, ao refletir sobre as disposições morais para o aprendizado da ética, já deixa claro que o discurso sobre o que é ser ético, na tentativa de ensinar a ser ético, se desfoca de como se adquire os preceitos morais, os hábitos virtuosos, que é pelo hábito. Jesus, de forma muito clara, ensina na passagem do lava-pés na Última Ceia: "Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós." (Jo 13,15).
Aristóteles nos oferece a possibilidade de confrontar-nos com o lugar comum mais explícito acerca do tema da obra: o aprendizado dos preceitos morais. Ao apresentar uma concepção de homem, que foge à reflexão feita hoje, por grande parte daqueles que têm na educação seu principal interesse, Aristóteles não somente desloca o problema dos preceitos morais – apresentando-os como disposições – como também dá um novo rumo à própria reflexão. Uma reflexão mais ampla sobre a educação, sua extensão e seus sujeitos.
É naturalmente aceita também, a constatação de que estamos em um momento histórico que clama pela ética. É urgente, fundamental e necessária a retomada do rumo perdido pela sociedade atual. Todos devem reavaliar suas posturas, sua conduta moral. O individualismo, tão presente nas relações da sociedade contemporânea, é indicado como um dos responsáveis por esta estrutura social. Aristóteles (2002. p. 85) afirma que:
(...) as pessoas amáveis convivem com as demais da maneira certa, mas é com vistas ao que é honroso e conveniente que elas visam a não causar desgostos ou a contribuir para o prazer. Elas parecem efetivamente preocupadas com os prazeres e desgostos no convívio social, e sempre que não lhes for honroso ou for prejudicial contribuir para o prazer, elas se recusarão a fazê-lo.
Leia MaisEducar, deseducar, reeducarO que seria do homem sem a virtude? Seria um homem vazio? Diante da visão aristotélica, poderíamos dizer que sim, pois este não poderia ser completado na realidade vivenciada nas mais variadas situações individuais e coletivas. Essa última, própria de sua condição social. Aristóteles considera o homem como um “animal político”, em vista de que ele nunca está sozinho, está sempre em sociedade, seja em casa, nas ruas, em todo o lugar.
O homem virtuoso pensa antes de agir. Não age por extinto, mas através da moral e da ética. É através da virtude que o homem, como ser racional, pode assim chegar a um consenso para uma vida política respeitável e verdadeira. E O catecismo da Igreja Católica reforça:
As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé. Propiciam, assim, facilidade, domínio e alegria para levar uma vida moralmente boa. Pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem. As virtudes morais são adquiridas humanamente. São os frutos e os germes de atos moralmente bons; dispõem todas as forças do ser humano para entrar em comunhão com o amor divino. (§1804)
Para Aristóteles a Ética precede a moral, pois esta antecipa as ações humanas e é a condição primeira para a condição virtuosa. A condição da virtude é a superação da condição do vício. Uma ou outra somente pode ser adquirida pelo hábito, ou seja, pela vivência no éthos, no comportamento diário quando aprendemos pela imitação do outro e repetimos como comportamento pessoal, tornando-se assim, uma “segunda natureza”, assim como prevê Aristóteles quando passamos do vício para a virtude. Aristóteles (2002. p. 40) também afirma:
(...) há duas espécies de virtude, a intelectual e a moral. A primeira deve, em grande parte, sua geração e crescimento ao ensino, e por isso requer experiência e tempo; ao passo que a virtude moral é adquirida em resultado do hábito (...) É evidente, pois, que nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza, visto que nada que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito. Por exemplo, a pedra que por natureza se move para baixo não pode adquirir o hábito de ir para cima (...) Não é, portanto, nem por natureza nem contrariamente à natureza que as virtudes se geram em nós; antes devemos dizer que a natureza nos dá a capacidade de recebê-las, e tal capacidade se aperfeiçoa com o hábito.
Desde o primeiro capítulo da “Ética a Nicômaco”, a felicidade é dada como “uma atividade da alma conforme a virtude perfeita” (2002.p.36). Toda a obra parece investigar a natureza da virtude, com o objetivo de compreender melhor a natureza da felicidade.
Mas e nós? Sobre nossas atitudes cotidianas (na família, na escola, no trabalho, na rua, na pastoral...), poderíamos afirmar que nelas valorizamos a ética, sendo virtuosos? Se pudéssemos elencar todos os nossos comportamentos, dos mais simples aos mais complexos, será que eles seriam bom exemplos para a virtude tornar-se hábito na vida daqueles que Deus nos confiou? Independente da resposta dada, peçamos ao Pai que nos ajude a seguir, mais e mais, o exemplo de Jesus (cf. Jo 13,15).
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