Temos visto recentemente muitas notícias e fatos da presença da Igreja na pessoa do Santo Padre, o Papa Francisco, na discussão de uma nova ordem mundial, no aspecto social, de boas relações econômicas e políticas, por melhor acolhimento aos pobres e menos favorecidos da sociedade.
No mês de setembro de 2015, o Papa Francisco, em visita à America Central, especificamente Cuba, e aos Estados Unidos, foi materializando seus esforços em promover uma aproximação entre os países que, desde os tempos de Guerra Fria, vivem um embargo de relações políticas e econômicas. De origem latino-americana, o Papa Bergolio tem sido fiel defensor de uma Igreja menos burocrática e mais acolhedora, o que justifica muitas de suas ações dentro do próprio governo da Igreja, no combate à corrupção financeira, nos escândalos sexuais envolvendo clérigos, no cuidado com as questões matrimoniais e no acolhimento a pobres, refugiados de guerras e conflitos em diversas localidades.
Este novo momento da Igreja reflete muito o olhar daquele que conduz a “Barca de Pedro”, pois, atende-se o chamado ao qual o Senhor lhe fez diante de tantos para conduzir a Igreja de Cristo após a Renúncia do Papa Bento XVI, em março de 2013.
Se nos atermos à História da Igreja recente, no século XX, teremos a oportunidade de, tão próximo do nosso tempo, vislumbrar uma visão tal como a de Francisco, do Papa de Saudosa Memória, São João XXIII.
O Papa João XXIII, no seu tempo, com sua experiência pastoral como Núncio Apostólico à frente de localidades como a Turquia e a Bulgária, assoladas pelo mal do nazismo, que determinava na Europa uma instabilidade política e um antissemitismo absurdo, durante os conflitos da 2ª Guerra mundial pôde entender que o papel do Papa, acima do governo da Igreja, era olhar por todos os homens. Durante seu pontificado, muitas foram as suas ações pelo entendimento das nações que viviam o conflito silencioso e devastador da Guerra Fria.
O Papa João XXIII condenou em vários momentos a corrida armamentista nucelar, gerando uma admiração surpreendente dos russos. João XXIII percebia a necessidade de abrir a Igreja ao novo momento e ao mundo que a ela cabia pastorear.
Na noite de abertura do Concílio Vaticano II, em 11 de outubro de 1962, o Papa saiu na sacada do palácio apostólico diante de uma multidão que rezava pela Igreja reunida em Concílio e, diante de uma linda lua cheia, realizou um dos mais belos discursos da História da Igreja:
"Meus queridos filhinhos: estou ouvindo as vossas vozes. A minha é só uma voz, mas reúne todas as vozes do mundo; e aqui, de fato, o mundo está representado. Poderíamos dizer que até a Lua está com pressa esta noite... Observem-na, lá no alto, está olhando para este espetáculo ... Nós fechamos um grande dia de paz... Sim, de paz: Glória a Deus nas alturas, e paz aos homens de boa vontade. (...) Minha pessoa vale nada: é um irmão que fala para vocês, um irmão que virou pai, por vontade de Nosso Senhor... Vamos continuar a querer bem um ao outro;(...) Voltando para casa, encontrarão as crianças. Deem a elas uma carícia e digam: “Esta é a carícia do Papa”. Talvez as encontreis com alguma lágrima por enxugar. Tende uma palavra de consolo para aqueles que sofrem. Saibam os aflitos que o Papa está com os seus filhos, sobretudo nas horas de tristeza e de amargura. E depois, todos juntos, vamos amar-nos uns aos outros: cantando, suspirando, chorando, mas sempre cheios de confiança em Cristo que nos ajuda e nos escuta, continuando a prosseguir o nosso caminho. Adeus, filhinhos. A benção, junto ao desejo de uma boa noite".
O Papa João XXIII, na sua ação pastoral, sentia de fato a humanidade que deveria pulsar no coração daquele que conduziria este rebanho. Estas palavras de João XXIII ainda nos inspiram crer que, de fato, a Igreja é Mãe e Mestra de uma sociedade e de uma ordem mundial que, mesmo assolada pelos diversos conflitos, pode olhar por aqueles que sofrem.
Curiosamente, o Papa Francisco em nosso tempo tem vivido, em seu pontificado, momentos de efetivo envolvimento nestas questões sociais que rodeiam a Igreja. Quando em 1962 o Papa João XXIII pede que abracemos nossas crianças e digamos: “Este é um carinho do Papa!”, em 2013, no mesmo balcão, paramentado de forma mais simples, o recém-eleito Francisco inclina-se para receber de seu povo uma benção que confortaria seu coração, confuso pela missão por ele acolhida. Dentre essas ações, destacamos a celebração pela paz, realizada nos jardins do Vaticano, com a presença dos chefes dos estados de Israel e da Palestina, na busca do entendimento de uma região que tornou-se palco de uma disputa territorial e política que tem custado a vida de muitos inocentes.
Curiosamente veio à tona uma declaração do então primeiro ministro de Cuba, Fidel Castro, em 1973, tratado por muitos como a profecia de um momento de profícua aproximação de Cuba e Estados Unidos. A declaração diz: “Os EUA só voltarão a dialogar conosco quanto tiverem um presidente negro e quando o mundo tiver um papa latino-americano”.
Diante de todos esses esforços por parte dos papas do passado e da atualidade, podemos apenas elevar a Deus uma prece para que esta presença de Francisco na América confirme ainda mais esta profecia de Fidel, tendo em vista resultar na busca de uma nova ordem mundial que se fundamente não em valores capitalistas e superficialidades, mas na essência cristã e na caridade.
* Cristiano da Costa e Silva
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