Quais interrogações o professor faz acerca de si mesmo e acerca de sua profissão? Como poderá entender seu papel, para além de sua condição humana? Na tentativa de responder a essas interrogações, esta reflexão será elucidada no discurso de Papa Francisco à União Católica Italiana de Professores, dirigentes, educadores e formadores.
É evidente que, diante dos problemas e adversidades que assolam a Educação e seus cotidianos, o professor se sinta incomodado, mas é um equívoco achar, que cabe a ele sozinho, a salvação da educação. No entanto, é essencial que o professor compreenda que tem papel e lugar que são seus e não deve permitir sua destituição dos mesmos.
O Papa afirma:
“Ensinar é um compromisso sério, que somente uma personalidade madura e equilibrada pode assumir. Um compromisso deste tipo pode incutir temor, mas é necessário recordar que um professor nunca está sozinho: compartilha sempre o seu próprio trabalho com os demais colegas e com toda a comunidade educacional à qual pertence”.
Leia MaisEducação Inclusiva: Estamos acolhendo ou deixando nos corredores?O professor, desafiado pelos corriqueiros contratempos que à Educação são inerentes, passa rapidamente de seu incômodo a um lamento generalizado, que não poupa críticas ao nível cultural dos alunos, à escola, à sociedade, ao sistema, numa busca inesgotável de explicações diante da qual parece ser, ao mesmo tempo, espectador e protagonista.
Espectador, na medida em que elege outros como responsáveis (mídia, família, sociedade, governo, etc.) pela postura indiferente dos alunos e, aceitando com certa passividade, lamenta que diante de tantos desafios, sua tarefa de educar se torna praticamente irrealizável.
Protagonista, quando admite o que vêm repetindo muitos discursos sobre a educação e passa a considerar sua falta de formação em termos de teorias e métodos adequados, como as principais causas dos problemas que enfrenta em sala de aula.
O professor precisa ser amparado e ter a segurança de que não está sozinho. Precisa ter a certeza de que sua missão é realizável. Precisa renovar os sentidos de sua existência. O Pontífice dirige palavras de ânimo aos professores: “Encorajo-vos a renovar a vossa paixão pelo homem — não se pode ensinar sem paixão! — no seu processo de formação, e a ser testemunhas de vida e de esperança. Nunca, nunca fecheis as portas; ao contrário, escancarai-as todas, a fim de que os estudantes tenham esperança!”.
Normalmente, o que identificamos como indiferença, apatia, desinteresse dos alunos, mesmo quando identificados e explicados pelas inúmeras razões de ordem social e econômica, ou por razões de ordem pedagógica - ausência de um método adequado, incapacidade em motivar seus alunos, falta de conhecimento, etc. - não são suficientes para apaziguar a inquietude daqueles que se dedicam a uma atividade que é, essencialmente, desafiadora: realizar a tarefa de formar alguém.
O Papa Francisco orienta:
“Como Jesus nos ensinou, a Lei inteira e os Profetas resumem-se em dois mandamentos: ama o Senhor teu Deus, e ama o teu próximo (cf. Mt 22, 34-40). Podemos perguntar-nos: quem é o próximo para o professor? O «próximo» são os estudantes! É com eles que transcorre os seus dias. São eles que esperam a sua guia, orientações, respostas — e, antes ainda, boas perguntas!”.
O discurso de que o problema da educação é, por exemplo, a formação do professor, peca por considerar que basta dar informações, ensinar métodos de prática educacional, etc. para resolver os problemas que se apresentam. Papa Francisco afirma: “Para aprender os conteúdos é suficiente o computador, mas para entender como se ama, compreender quais são os valores e os hábitos que criam harmonia na sociedade, é necessário um bom professor”.
Uma questão essencial para que o professor compreenda os sentidos de seu papel e lugar é a deliberação interior. Havendo disposição interior, será possível sentir a educação como um escolha em sua vida, e não como uma fatalidade.
O Papa também ensina:
“... o dever de um bom professor — sobretudo de um professor cristão — consiste em amar com maior intensidade os seus alunos mais difíceis, mais frágeis, mais desfavorecidos. Jesus diria: se amais apenas aqueles que estudam, que são bem educados, que mérito tendes? E alguns deles fazem perder a paciência, mas são precisamente aqueles que nós devemos amar em maior medida! Qualquer professor está bem com estes estudantes. Peço-vos que ameis mais os alunos «difíceis», aqueles que não querem estudar, aqueles que se encontram em condições de dificuldade, os portadores de deficiência e os estrangeiros, que hoje constituem um grande desafio para a escola”.
Parecem não importar os adjetivos a ele conferidos: educador, mediador, facilitador, estrategista, animador, arquiteto cognitivista e tantos outros, pois o sentido próprio de sua existência se assenta em sua condição de professor. Assim como não parece importar a natureza da sala de aula ou da escola, pois será o professor o elo entre as múltiplas possibilidades e recursos metodológicos, os sujeitos da aprendizagem e a construção do conhecimento, sem perder de vista as interrogações sobre esse sujeito que pretende educar.
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