Igreja

Quem foi Pôncio Pilatos e qual foi o seu destino após o julgamento de Jesus?

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

19 FEV 2024 - 16H08 (Atualizada em 19 FEV 2024 - 16H39)

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Existem alguns personagens que, meio “sem querer, querendo” acabaram entrando para a história, ficando seus nomes registrados para a posteridade. Esse é o caso de Pôncio Pilatos, que participou do julgamento de Jesus e teve o seu gesto de “lavar as mãos” eternizado, figurando hoje como atitude de quem não deseja se comprometer. Tanto assim, que seu nome entra, inclusive, na oração do Credo, o Símbolo Apostólico do cristianismo. Leia MaisUtilize a Encíclica Fratelli Tutti como exercício quaresmalImagens sacras refletem Quaresma e Semana Santa no Santuário Nacional

O que se sabe sobre Pôncio Pilatos

Pilatos tornou-se um dos governadores romanos mais conhecidos da história, principalmente por seu papel na condenação de Jesus Cristo à morte na cruz. Ele viveu no século I d.C., período de grande expansão do Império Romano, que dominava uma vasta região que ia do Mar Mediterrâneo, passando pelo Oriente Médio, chegando até o extremo Oriente.

O procurador Pilatos pertencia à família Pôncio, de origem samnita, um povo que habitava o centro da Itália e foi conquistado pelos romanos. Pouco se sabe sobre sua vida antes de se tornar governador da Judeia, província romana que abrangia o território onde hoje se encontram Israel, a Palestina e partes da Jordânia, Síria e Líbano. É possível que ele tenha sido nomeado pelo imperador Tibério, que reinou entre os anos 14 e 37 d.C.

Pilatos governou a Judeia entre os anos 26 e 36 d.C., residindo na cidade de Cesareia, localizada na costa do Mediterrâneo. Ele era o representante de Roma na região, com autoridade sobre questões administrativas, financeiras, militares e judiciais, sendo ainda o responsável por manter a ordem e a paz entre a população local, majoritariamente judaica, com forte identidade religiosa e nacional.

Durante seu governo, Pilatos se envolveu em vários conflitos e polêmicas com os judeus, que o tinham como opressor e violador das leis e dos costumes sagrados herdados dos pais do povo.

Uma conturbada administração

Além de ser o representante do poder imperial, o que por si só já atrairia sobre ele o ódio dos judeus, alguns episódios mostram como foi conturbada sua administração e sua falta de habilidade em lidar com as questões judaicas.

Pilatos promoveu a introdução de estandartes com a imagem do imperador romano em Jerusalém, a capital religiosa dos judeus, o que aos olhos dos judeus foi uma flagrante expressão de idolatria. Os judeus protestaram e ameaçaram se matar em massa se Pilatos não retirasse os estandartes. Ele se viu pressionados e, cedendo à pressão, removeu os símbolos.

Ele também foi acusado de usar os fundos do Templo de Jerusalém, o centro do culto judaico, para construir um aqueduto que levaria água para Cesareia. Os judeus se revoltaram e o acusaram de roubar o dinheiro sagrado. Ele ordenou que seus soldados se infiltrassem entre a multidão para reprimir a manifestação com violência, acarretando a morte de muitos judeus.

Se não bastasse, determinou a colocação de escudos dourados com inscrições dedicadas a Tibério no palácio de Herodes, o rei fantoche dos judeus, em Jerusalém. Os judeus também consideraram isso como uma profanação, enviando carta ao imperador Tibério, pedindo a retirada dos escudos. Tibério atendeu ao pedido e ainda por cima repreendeu duramente a Pilatos.

Mas, sem dúvida alguma, o caso mais famoso e controverso de Pilatos foi o julgamento de Jesus Cristo que, preso pelos líderes religiosos dos judeus através do Sinédrio, foi acusado de blasfêmia e de incitar o povo contra Roma. Jesus foi então levado a Pilatos, que tinha autoridade para condená-lo ou determinar a sua liberdade.

O julgamento de Jesus

Os quatro evangelhos narram com detalhes o julgamento de Jesus, cada um acrescentando novos detalhes, mas todos são unânimes ao afirmar que Pilatos não encontrou nenhum motivo para condenar Jesus, e que tentou libertá-lo, oferecendo ao povo a escolha entre soltar Jesus ou Barrabás, um criminoso.

A multidão, instigada pelos líderes religiosos dos judeus, clamou pela libertação de Barrabás e pela crucificação de Jesus. Pilatos, então, lavou as mãos diante do povo, dizendo que não era responsável pelo sangue de Jesus, e entregou-o para ser crucificado.

O destino de Pôncio Pilatos

Não há uma comprovação histórica exata sobre o destino de Pilatos após o julgamento de Jesus. O historiador judeu Flávio Josefo afirma que Pilatos foi destituído do cargo de procurador romano da Judeia por causa de outro conflito com os samaritanos, povo que vivia na região da Samaria, tendo uma religião próxima do judaísmo. Os samaritanos se reuniam no monte Gerizim, acreditando que lá estivesse enterrado o Tabernáculo, que guardava a Arca da Aliança. Eles esperavam encontrar ali objetos sagrados e sinais do Messias.

Pilatos enviou tropas para dispersar a multidão, matando muitos samaritanos. Os sobreviventes reclamaram ao legado da Síria, que mandou Pilatos a Roma para se explicar ao imperador. No entanto, o imperador Tibério morreu antes de sua chegada e não se sabe o que aconteceu com ele depois disso.

Fontes antigas dão diferentes versões sobre o fim de Pilatos. O filósofo pagão Celso, citado pelo apologista cristão Orígenes, narra que Pilatos possivelmente tenha se suicidado devido ao remorso. De outro lado, uma tradição cristã, afirma que Pilatos foi exilado nas Gálias, onde encontrou a morte. Segundo a Igreja Etíope, Pilatos se converteu ao cristianismo e, sendo martirizado, passou a ser venerado como santo.

O que se pode dizer é que ele é uma figura histórica que desperta interesse e debate até hoje, sendo retratado de maneiras diversas na arte, na literatura, no cinema e na teologia. Pilatos passou para a história como símbolo de covardia, de injustiça, de ambiguidade, de pragmatismo, de ironia, de falta de piedade ou de arrependimento. Numa linguagem moderna pode-se dizer que Pilatos “ficou em cima do muro” com medo de se comprometer. Por outro lado, ele é um personagem que revela a complexidade das relações, os conflitos entre o poder político e religioso, entre a cultura romana e a cultura judaica, entre a história e a tradição.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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