Por Pe. Leo Pessini (in memoriam) Em Igreja Atualizada em 28 SET 2017 - 10H17

Suicídio entre os profissionais da saúde é situação crítica

Não é novidade para quem trabalha no âmbito da saúde, mas em geral uma realidade desconhecida para o grande público e sociedade em geral, é que o número de suicídios entre jovens estudantes de medicina e médicos recém-formados, o número vem aumentando assustadoramente. Notícias da Faculdade de medicina da USP, nos dão conta que está se mobiliza para atendimento psicológico individualizado aos alunos e apoio aos que apresentam algum problema de saúde mental. Além disso uma linha telefônica que funciona 24hs para onde os alunos podem ligar em situação de necessidade ou emergência, após seis casos de suicido nestes primeiros três meses de 2017, todos eles cursando o 4º. ano de medicina (Folha de São Paulo, 12/ 04/2017, B7).

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É claro que esta situação tem gerado muita perplexidade, desorientação, apreensão e tristeza entre todos. Ao darmos a palavras aos estudantes, temos um interessante e preocupante check up da saúde mental dos estudantes de medicina, que exige da Universidade uma tomada de posição urgente. Uma carta dos profissionais do serviço de psicoterapia do Instituo de psiquiatria da USP (IPq), relata que “Esgotamento, ansiedade, depressão, internações psiquiátricas, tentativas de suicídios, mortes. Os relatos (dos estudantes) nos parecem crescentes em frequência e intensidade, e soam como um pedido de ajuda.” Na fala dos alunos de 4º. ano eles dizem que “a formatura está próxima e realidade da profissão vai matando as ilusões dos tempos de calouros. Há disputas infantis por notas, muitas divulgadas nominalmente.” Outros dizem que “não existe tempo suficiente par atividades que não estejam ligadas ao mundo médico. As aulas começam as 8h e terminam as 18 hs quase todos os dias. Além do cansaço mental, da desumanização cotidiana, temos que ter a cabeça tranquila para estudar doenças.”

Leia MaisSuicídio: um drama mundial e silenciado que clama aos céusExistem também queixas de que a saúde mental do estudante de medicina não é levada em conta quando se trata de faltas. “As notas de conceito (quase 50% da nota final) são multiplicadas pela frequência. Se o aluno está deprimido, não consegue ir as aulas. Mas não podemos faltar sem punição, Não temos tempo para cuidar da nossa saúde mental e física”. Outro fator estressante são a formação das famosas “panelas”, ou seja, dos grupos de 15 alunos para o estágio obrigatório (internato). Quando são aos alunos que decidem com quem se agruparão, temos muitas situações de exclusão e perseguição. Ocorre que “os alunos mal vistos ou que não são bem relacionados, por inúmeros motivos, acabem sobrando e formando a famigerada `panela lixo`, ou são excluídos e tem que mendigar uma vaga entre os grupinhos já formados”, relatam um grupo de alunos, num comunicado.

Na fala do psiquiatra Francisco Lotufo Neto, professor indicado par estudar esta problemática, “São jovens em amadurecimento, enfrentando a entrada numa profissão que tem conta om o sofrimento humano, é um curso difícil, que exige das pessoas. Também há pressão pelo sucesso”. Na sua opinião,” isso tudo leva a uma maior predisposição à depressão, que é mais prevalente entre os estudantes de medicina do que na população em geral”.

Esta problemática é mundial, não é uma exclusividade brasileira. Na Austrália, por exemplo, o aumento da taxa de suicido entre médicos, alarmou os especialistas em saúde mental. Foi relevado que quatro jovens médicos se suicidaram nos últimos seis meses. No Estado de New South Wales na última década, nada menos que 20 médicos tiraram suas vidas. (Cf. The Guardian, 21 March 2017). Claro que os números em comparação com os nossos são baixíssimos, mas causam maior preocupação e mobilização para a prevenção e cuidado das pessoas afetadas, que entre nós. Nas palavras da Dra. Ranjana Srivstava, autora desta matéria é ao conclamar seus colegas médicos para apoiar seus colegas quando em situações de sofrimento: “Como profissão devemos fazer mais que simplesmente lamentar a morte de nossos colegas. Enfrentar efetivamente a doença mental e interromper o suicido entre os médicos exige curiosidade, compaixão e apoio prático.” (continua)


Escrito por:
Pe. Léo Pessini Currículo - Aquivo Pessoal (Arquivo Pessoal)
Pe. Leo Pessini (in memoriam)

Professor, Pós doutorado em Bioética no Instituto de Bioética James Drane, da Universidade de Edinboro, Pensilvânia, USA, 2013-2014. Conferencista internacional com inúmeras obras publicadas no Brasil e no exterior. É religioso camiliano e atual Superior Geral dos Camilianos.

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