A Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) revela a todos os brasileiros uma das maiores conquistas no campo da evangelização. Não é só refletir, analisar ou rezar temas e lemas, mas sim, realizar ações concretas, que tragam sinais de esperança em tempos tão conturbados.
Sobre o assunto, o A12 conversa com o secretário-executivo de campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Padre Patriky Samuel Batista.
A12 - Fraternidade e diálogo: compromisso de amor é o tema da CF deste ano. Qual a urgência do tema nos tempos em que vivemos?
Padre Patriky Samuel Batista - Não é difícil notar que vivemos um tempo de rápidas e intensas transformações, em diversos âmbitos da vida. Sem sombra de dúvidas um dos âmbitos que tem sofrido mudanças radicais, e até retrocedendo em alguns aspectos, diz respeito às relações humanas. No início do seu pontificado, o Papa Francisco já nos alertava que “o grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada.” (EG 2).
Percebemos aqui que muitos se fecham em seus próprios interesses, não permitindo espaço para os outros. Já não se dialoga mais. Já não compreendemos o que seja o diálogo e esquecemos a sua importância para a construção da paz, superação dos conflitos e promoção da vida. É urgente recuperarmos nossa capacidade dialogar neste mundo marcado por constantes polarizações, intolerâncias e ausência de verdadeira escuta. Por essa razão, a Campanha da Fraternidade de 2021 nos convida a recuperamos a capacidade de dialogar e, com isso, apreciar a convivência com o outro, a quem chamo de irmão, irmã. Mesmo com nossas diferenças, não podemos nos esquecer daquilo que São João Paulo II afirma na Carta Encíclica Ut Unum Sint, nº 47: “O diálogo não se articula exclusivamente à volta da doutrina, mas envolve toda pessoa: é também um diálogo de amor.” Daqui nasce o tema da CF 2021, que será vivida de forma ecumênica: Fraternidade e diálogo: compromisso de amor.
Leia MaisOração da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021A12 - A violência, a intolerância, o racismo são pautas constantes. Como alimentar a esperança?
Padre Patriky - Não basta dizer que somos irmãos e irmãs em cristo. É preciso viver como tal. E não há outro caminho, senão pela fé em Cristo, pela vida fraterna em comunidade e pela esperança ativa, que não decepciona. Enquanto não naturalizarmos a fraternidade enquanto compromisso cristão, tais pautas estarão presentes em nosso meio. Assim, a esperança tem seu principal alimento nas convicções que brotam da fé. A fé é esperança e o homem é redimido pelo amor. Lembro como se fosse hoje das repercussões que nasceram da Encíclica Spe Salvi, do Papa Bento XVI. Nela aprendemos que um dos lugares de aprendizagem para o exercício da esperança é a oração e a compaixão.
Em suas palavras: “Sofrer com o outro, pelos outros; sofrer por amor da verdade e da justiça; sofrer por causa do amor e para se tornar uma pessoa que ama verdadeiramente: estes são elementos fundamentais de humanidade, o seu abandono destruiria o mesmo homem. Entretanto, levanta-se uma vez mais a questão: Somos capazes disto? O outro é suficientemente importante, para que por ele eu me torne uma pessoa que sofre? Para mim, a verdade é tão importante que compensa o sofrimento? A promessa do amor é assim tão grande que justifique o dom de mim mesmo? Na história da humanidade, cabe à fé cristã precisamente o mérito de ter suscitado no homem, de maneira nova e a uma nova profundidade, a capacidade dos referidos modos de sofrer que são decisivos para a sua humanidade. A fé cristã mostrou-nos que verdade, justiça, amor não são simplesmente ideais, mas realidades de imensa densidade.” (Spe Salvi, nº 39) A esperança se alimenta de um coração que crê, da criatividade da razão que explicita o que o amor, dos olhos que se compadecem e das mãos que cuidam.
A12 - Como promover melhor o diálogo ecumênico e a convivência inter-religiosa?
Padre Patriky - “Todo diálogo implica a reciprocidade e tem como objetivo eliminar o medo e a agressividade.” Essa afirmação encontra-se no Documento Diálogo e Anúncio. Por ocasião dos 25 anos da publicação da Nostra Aetate, o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e a Congregação para a Evangelização dos Povos publicaram este documento que muito nos ajuda a promover o diálogo ecumênico e a convivência Inter-religiosa. Diálogo e anúncio são elementos componentes e formas autênticas da única missão evangelizadora da Igreja e devem ser orientados para a comunicação da verdade que salva. Assim, “a razão fundamental do empenho da Igreja no diálogo não é meramente de natureza antropológica, mas principalmente teológica. Deus, num diálogo que dura ao longo dos tempos, ofereceu e continua a oferecer a salvação à humanidade. Para ser fiel à iniciativa divina, a Igreja deve, pois, entrar num diálogo de salvação com todos.” (Diálogo e Anúncio Nº 38). Neste horizonte, só teremos avanço neste caminho recuperando a capacidade de dialogar a partir dos valores que regem a nossa vida.
A fé em Cristo é valor decisivo e deve ser determinante. Se somos cristãos, somos pessoas abertas ao diálogo, sem abrir mão das convicções que nos levam a compreender e acolher cada pessoa. Se cremos que a paz é um caminho de esperança, um caminho no qual se avança por meio do diálogo, da reconciliação, o diálogo surge como uma especial forma de caminhar na dimensão do Evangelho. O diálogo é um estilo de vida. Por essa razão, implica partilha de vida, convivência, paciência, escuta, experiência e conhecimento. Para que o diálogo seja realidade se faz necessário que cada um esteja enraizado em sua fé especifica, como também disponível ao aprendizado da diferença neste mundo tão plural. O diálogo exige, portanto, uma atitude de delicada espera, de ativa colaboração, de permanente dinamismo e constante ternura.
A12 - Fale sobre a importância do Gesto Concreto e em quais tipos de projetos a colaboração do fiel é investida.
Padre Patriky - O grande gesto concreto da Campanha da Fraternidade é a Coleta da Solidariedade, que neste ano acontecerá no dia 28 de março em todas as celebrações, e também por meio do site doe.cnbb.org.br. Do total arrecadado, 60% fica na própria diocese e constitui o Fundo Diocesano de Solidariedade. Os 40% restantes compõem o Fundo Nacional de Solidariedade. O FNS atua apoiando projetos em três eixos: Formação e Capacitação; Mobilização para conquistas e efetivação de direitos; e Superação de vulnerabilidade econômica e geração de renda. Em 2020, por conta da pandemia, não foi possível abrir um edital. Em 2019, o FNS apoiou 238 em todo país. É uma pequena ajuda que impulsiona e motiva ações que dão inicio a processos de solidariedade.
:: Para conhecer os projetos e toda dinâmica das campanhas da Igreja no Brasil, acesse o site campanhas.cnbb.org.br.
Tendo em vista que o momento forte da Campanha da Fraternidade se dá no período quaresmal, termino essa partilha recordando as palavras do Papa Bento XVI por ocasião da Quaresma de 2013: “A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na Sagrada Escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir e integrar-se contemplação e ação, de certa forma simbolizadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve radicar-se na fé.”
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