Se existe uma cidade do mundo que está sempre em evidência, seja pelo seu sentido religioso ou político, bem como pelos desafios da violência e da tensão que lá se vive, esta é a cidade de Jerusalém, atual capital religiosa do moderno estado de Israel. Leia MaisMais de mil pessoas rezam Via-Sacra pela paz em JerusalémPapa Francisco nomeia brasileiro para diocese em Jerusalém
Recentemente celebramos a Semana Santa e os principais acontecimentos da vida de Jesus Cristo se centraram nesta cidade que é considerada a capital religiosa de quatro grandes religiões.
A comunidade cristã que nasceu em Jerusalém com os eventos da Páscoa e Pentecostes é considerada a comunidade mãe do cristianismo.
Origem histórica
Os historiadores têm dificuldades para localizar com exatidão a origem histórica da cidade de Jerusalém e o conhecimento a respeito de seus primeiros habitantes é bastante limitado.
As maiores cidades da região conhecida como Terra de Canaã surgiram por volta de 3,2 mil anos antes de Cristo, mas não é possível precisar com exatidão quando Jerusalém surgiu.
Por volta do século XX a.C., a região de Canaã recebia uma forte influência do Egito, a grande potência da época. Os egípcios mantiveram esta influência até o século XV a.C. mais ou menos, quando tiveram que enfrentar os hurritas, um povo da região da Mesopotâmia que invadiu Canaã.
Por certo tempo, este povo exerceu influência sobre Jerusalém até que um século mais tarde aconteceu diversas guerras entre as cidades-estado cananeias e seu poder foi diminuindo, mas como os egípcios estavam mais preocupados com certos problemas internos, outro povo, os jebuseus, aproveitou para se estabelecer em Jerusalém onde ficou até o ano 1000 a.C. mais ou menos, quando o povo hebreu, liderado pelo rei Davi, conquistou a cidade.
Apogeu e decadência da Cidade Santa
Depois de se estabelecer novamente na Terra da Canaã, vindo do Egito, onde enfrentou mais de 400 anos de escravidão, o povo hebreu precisou lutar muito com os povos vizinhos que haviam invadido e se estabelecido na terra que antes era sua. Primeiro veio a Era dos Juízes que ajudaram o povo a reconquistar a terra, passando depois para a Era dos Reis quando o povo viveu o período de maior apogeu com os reis Saul, Davi e Salomão.
Foi Davi que conquistou Jerusalém, sendo a cidade engrandecida posteriormente pelo rei Salomão, famoso por sua sabedoria e pela construção do Templo, do qual restam hoje apenas os fundamentos.
Após Salomão o reino se dividiu, entrou em decadência, sendo sucessivamente dominado por povos estrangeiros, com o povo perdendo completamente sua liberdade. O período do Cativeiro da Babilônia, por exemplo, marcou duramente a histórica do povo hebreu.
Quando Jesus nasceu e viveu, a cidade de Jerusalém e a atual Palestina eram dominadas pelos romanos, a maior potência de então. Eles transformaram a região numa de suas províncias e as autoridades foram mantidas, porém, não passavam de fantoches nas mãos dos imperadores e dos procuradores romanos.
No ano 70 d.C. Jerusalém foi destruída pelos romanos depois de uma revolta, sendo transformada numa cidade pagã com o nome de Aedes Capitolina.
A cidade permaneceu dominada até o ano de 476 d.C., quando aconteceu a queda e a desagregação do poderoso Império Romano do Ocidente. Com isso, a cidade passou ao domínio do Império Romano do Oriente, conhecido como Império Bizantino, com sua capital em Constantinopla.
Entre os anos de 614 e 628, o controle dos bizantinos sobre Jerusalém foi desafiado pelos sassânidas, e após catorze anos, os bizantinos reconquistaram a cidade.
Em 637, o poder dos bizantinos sobre Jerusalém encerrou-se de vez, com a cidade sendo conquistada pelas tropas lideradas por califa Omar. O patriarca da cidade, chamado Sofrônio, foi quem negociou com Omar a rendição de Jerusalém. Apesar da conquista, os judeus e os cristãos obtiveram o direito de continuar com a prática de sua religião, desde que pagassem um imposto e não oferecessem resistência.
A liberdade de culto foi mantida até o século XI, quando o califa egípcio Al-Hakim iniciou uma forte perseguição contra cristãos e judeus. Ele chegou a ordenar a destruição de todas as igrejas cristãs, incluindo a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém.
Cruzadas tentam liberar a cidade de Jerusalém
A cidade de Jerusalém foi mantida como propriedade de diversos califas, com alternância de períodos mais duros e outros de maior liberdade, para os judeus, bem como para os cristãos. No período da Idade Média aumentaram a peregrinação dos cristãos desejosos de visitar os lugares santos, ligados à vida e paixão de Cristo.
Muitos destes cristãos, ao retornarem ao ocidente, falavam das dificuldades enfrentadas e dos maus tratos recebidos em Jerusalém ou no caminho que levava à Cidade Santa.
Motivado por estas narrativas, associadas a interesses políticos, militares e econômicos, em 1095, o Papa convocou a Primeira Cruzada com a finalidade de libertar a Terra Santa e a cidade de Jerusalém. Ao todo seriam realizadas sete cruzadas, que fracassaram no geral em seus objetivos.
Depois disso, entre idas e vindas, Jerusalém foi conquistada pelo famoso rei Saladino, em 1187. Em 1229, o sultão do Egito Al-Kamil negociou um acordo com o rei do Sacro Império Romano-Germânico e entregou a cidade novamente aos cristãos, sob a condição de que eles não reconstruíssem as muralhas da cidade.
Após trocar de mãos várias vezes, em 1517, Jerusalém foi conquistada pelos otomanos, que lá permaneceram até 1917, quando chegaram os ingleses e outras potências europeias, dominando e dividindo não apenas a Palestina, mas todo o Oriente Médio.
A cidade de Jerusalém hoje
Desde a destruição de Jerusalém pelos romanos no ano 70 d.C. os judeus foram se espalhando pelo mundo num processo conhecido como Diáspora. Em cada cidade onde se estabeleciam formavam um bairro fechado, como o de Varsóvia, destruído na Segunda Guerra Mundial.
Em 1948, no contexto do final da Segunda Guerra e da reorganização política do mundo, os ingleses influenciaram as Nações Unidas que permitiram a criação do Novo Estado de Israel, o retorno dos judeus que estavam espalhados pelo mundo e que haviam sofrido o grande holocausto na Segunda Guerra.
Começava então um novo capítulo na história da cidade e da região que vem até os nossos dias. Hoje a cidade de Jerusalém continua sendo a cidade que tem em seu interior a presença de quatro grandes religiões: judeus, muçulmanos, cristãos romanos e cristãos ortodoxos.
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