Se falarmos dos países da Europa ou dos Estados Unidos, os leitores hão de recordar muitos elementos da história ou da atualidade desses países. Mas quando se trata da África, esse é um continente quase desconhecido, apesar do Brasil ter fortes raízes culturais e religiosas que o ligam a esse continente.
Se falarmos da Igreja Católica, entretanto, vamos lembrar que a secularização tem provocado fortes crises na Igreja da Europa e dos Estados Unidos, enquanto a África possui uma Igreja jovem, em franco processo de crescimento e maturação.
África milenar
A África é um continente milenar, constituído por inúmeras etnias, sendo formado atualmente por 54 países, dos quais 06 são localizados em ilhas como Madagascar. Desde o século XV, quando os portugueses aportaram em Cabo Verde (1460), os europeus foram adentrando nas “vastas e ricas terras africanas”, que foram divididas entre as principais potências europeias, movidas pelo capitalismo e pelo imperialismo.
França, Inglaterra, Alemanha, Bélgica e Portugal eram os países que mais tinham "colônias". A divisão e consolidação definitivas dessa repartição se deu na Conferência de Berlim, depois de dois anos de discussões (1884/1885). Essa conferência então estabeleceu que os europeus tinham “direito às riquezas humanas e naturais do continente”, oficializando a superioridade europeia sobre a África.
A independência e a formação de diversos países só aconteceu a partir de meados do século XX. De um lado, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Europa como um todo estava destruída e seu declínio econômico era visível, frete ao crescimento dos Estados Unidos e da União Soviética, que passaram a disputar o domínio e a financiar a reconstrução. Isto enfraqueceu o controle europeu sobre os territórios africanos. Por outro lado, a África, também como um todo, ansiava pela libertação. Foi então que começaram os movimentos de luta pela independência.
Dia da África
Se em 1918, no fim da Primeira Guerra Mundial, apenas Etiópia e Libéria eram países independentes, em 1963 já haviam 35 novos países. E ainda hoje algumas regiões lutam pela sua independência.
Naquele mesmo ano, em 25 de maio, a Organização da Unidade Africana (OUA) instituiu o “Dia da África”, na cidade de Adis Abeba, capital da Etiópia. A Declaração de criação foi assinada por 30 líderes dos 35 países independentes. O objetivo desse dia busca “defender e emancipar o continente africano, libertando-o do colonialismo e do apartheid”.
Leia Mais5 canções para valorizar a ÁfricaNo ano de 2002, a sigla OUA mudou para UA (União Africana) mantendo, porém, a data e seus objetivos. Desde aquela época, o maior desafio consiste em “resolver os constantes conflitos dentro do próprio continente”, porque a diversidade de tribos e culturas (às vezes dentro do próprio país) gera guerras civis e golpes de estado.
Esta situação de divisão interna, de guerras e conflitos tribais persiste em vários países. Isso favorece a continuidade do neocolonialismo e das tentativas de dominação.
A África, as Sagradas Escrituras e a Igreja
As Sagradas Escrituras contam que o Patriarca Abraão veio morar no Egito (Gn 12,10-20), bem como seu neto Jacó com os 12 filhos que formaram as doze tribos de Israel (Gn 46,1-34). O povo de Deus que era um povo errante desceu para o Egito motivado pela fome (Gn 42,1-2).
A estadia do povo no Egito, incluindo o tempo da escravidão, foi de aproximadamente 430 anos, conforme o Livro do Êxodo (Ex 12,40).
No Século II a.C., a tradução da Bíblia Hebraica para o grego, na versão conhecida como Septuaginta, aconteceu em Alexandria, Egito. Neste mesmo país, Maria e José se refugiaram com Jesus para protegê-lo da morte planejada pelo rei Herodes (Mt 2,13-15). No tempo da Igreja nascente, conta a tradição que o diácono Filipe evangelizou e batizou um eunuco etíope, alto funcionário da rainha Candace (At 8,26-40).
Leia MaisPapa Francisco anuncia viagens para países da África A África seria um espaço geográfico onde a Igreja encontraria um rápido florescimento, com a formação de comunidades vigorosas na fé, que somente deixariam de existir no século VIII, com a expansão dos muçulmanos.
A Tradição Católica relata que o evangelista Marcos evangelizou a região de Alexandria, onde sofreu o martírio, e o grande Santo Agostinho (354-430), bispo e doutor da Igreja, é um africano de Tagaste, na Argélia atual.
Com o processo de expansão da Europa sobre o continente, no período chamado das Grandes Navegações, junto com os colonizadores a Igreja enviou muitas levas de missionários para evangelizar esse vasto continente.
Ação missionária
Desde o século XV até os nossos dias, missionários e missionárias, sobretudo das congregações religiosas (tanto masculinas como femininas) marcaram presença na África e hoje o seu trabalho é por todos reconhecido.
Os Padres Brancos, por exemplo, realizaram um ingente trabalho missionário em Uganda, onde aconteceu o martírio de 22 jovens leigos, entre os anos 1885 e 1887. Sua canonização aconteceu em 1964, pelo Papa Paulo VI, durante o Concílio Vaticano II (1962-1965).
Não podemos esquecer o martírio de tantos outros cristãos religiosos e leigos, pois até os nossos dias, a exemplo do que acontece na Nigéria e em outros países, o martírio faz parte da caminhada histórica da Igreja no continente africano. Outras igrejas, como a Anglicana também sofrem a mesma situação.
A própria Congregação Redentorista se encontra implantada na África desde o século XIX, onde hoje possui algumas unidades florescentes, que olham o futuro com grande esperança.
Nos últimos anos, a Igreja realizou dois Sínodos Extraordinários dos Bispos Africanos. Um em 1994, convocado por João Paulo II e o outro em 2005, convocado por Bento XVI. Foi Bento XVI que um dia afirmou que "a África é a esperança da Igreja”. Essa esperança é fundamentada pelo crescente número de batizados e de vocações, inclusive com missionários além-fronteiras.
Leia MaisA presença redentorista na África E a Igreja responde às suas urgências com a criação de novas Dioceses e com a reestruturação de outras, com a multiplicação de paróquias e comunidades, com o estabelecimento de inúmeras obras sociais e com uma ação próxima aos mais necessitados.
Os desafios não terminaram, mas a África, que é o continente central na configuração do mapa mundi, busca caminhar com perseverança na construção de seus novos horizontes de vida e de libertação.
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