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Como está a realidade da Igreja na Nicarágua?

Perseguição aos católicos pelo regime de Daniel Ortega aumenta a cada dia

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

27 NOV 2024 - 14H21 (Atualizada em 27 NOV 2024 - 15H25)

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Com uma população de 6,3 milhões de habitantes, correspondente mais ou menos à população do estado de Santa Catarina, dos quais 1/3 vive na capital, Manágua, e ocupando uma área de 129 mil km², a Nicarágua, situada entre o Oceano Pacífico e o Mar do Caribe, é um dos pequenos países da América Central.

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Período colonial e independência

As terras da Nicarágua foram ocupadas, como toda a região, no século XVI, fazendo parte do vasto Império Espanhol que conquistou e passou a dominar a região. Na maior parte de sua história a Nicarágua esteve unida à capitania Geral da Guatemala até conseguir a independência da Espanha em 1821, quase ao mesmo tempo do ocorrido no Brasil.

Desde a sua independência, o país passou por continuados períodos de instabilidade política, ditaduras e crises até chegar aos tempos modernos com a ditadura da família Somoza e a Revolução Sandinista.

Revolução e um país arrasado

A Revolução Sandinista foi um movimento iniciado em 1978, se estendendo até 1990, capitaneado pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), fundada em 1962. O nome do movimento faz referência ao líder Augusto César Sandino (1895-1934), que já havia resistido à ocupação da Nicarágua pelos EUA entre 1912 e 1933.

Depois de uns 40 anos em que a Família Somoza esteve direta ou indiretamente no poder, em 1978, os Sandinistas chegaram ao poder, depois de quase duas décadas de violenta luta que se espalhou por todo o país.

Com a vitória se fez a instituição de uma Junta de Governo de Reconstrução Nacional, composta por cinco membros, tendo como coordenador a Daniel Ortega, atual ditador do país. Apesar de haver certo equilíbrio entre as diversas forças na Junta a crise logo se instaurou e, em 1985, a Junta foi dissolvida e Daniel Ortega se tornou presidente da república.

Os longos anos de luta fizeram com que o país e sua economia ficassem completamente destroçados, com uma dívida externa alarmante. Até hoje o país não se recuperou totalmente e o índice de pobreza é muito grande.

Em 1990, foram realizadas novas eleições presidenciais com a vitória de Violeta Chamorro, um dos membros independentes da antiga Junta Nacional, pondo fim ao período mais conturbado da história nicaraguense.

Daniel Ortega que havia governado o país na década de 1980, após a vitória da revolução sandinista, voltou ao poder em 2007. Desde então, segundo seus críticos, instaurou a ditadura e o nepotismo ao lado de sua esposa como vice-presidente.

OSV News/Oswaldo Rivas
 OSV News/Oswaldo Rivas


A guinada autoritária aconteceu por volta de 2018. O presidente que governa o país com mão de ferro monitora a imprensa, prende e expulsa os opositores para fora do país e condena os membros da Igreja e das empresas por não responderem aos interesses da nação.

Reforma política e concentração de poderes

Recentemente o Congresso da Nicarágua, que é controlado pelo presidente, aprovou uma reforma constitucional que concedeu mais poderes ainda a Daniel Ortega e à sua esposa, Rosario Murillo. O mandato presidencial foi ampliado de cinco para seis anos e o cargo de vice-presidente foi elevado ao grau de co-presidente.

A nova constituição também formaliza a retirada da nacionalidade das pessoas que forem consideradas como “traidores da pátria”, como o governo fez com cerca de 450 críticos e opositores nos últimos anos e legitima a opressão aos líderes e organizações religiosas.

A Igreja na Nicarágua

O cristianismo chegou junto com Cristóvão Colombo e em 1524, já se construía a primeira igreja pelos Frades Franciscanos. O primeiro bispo foi nomeado em 1527. A história da Igreja na Nicarágua, assim como a do país, é um misto de períodos de paz e períodos de conflitos e perseguições.

As tensões com Daniel Ortega são provenientes ainda do tempo da luta sandinista. No início, as relações eram bem próximas, porque membros do clero e do episcopado serviram de mediadores quando a Frente Sandinista derrubou a ditadura de Anastasio Somoza em 1979. Graças à Igreja muitos presos políticos foram libertados e a população civil recebia assistência.

Essa proximidade durou pouco e no início dos anos 1980, a Igreja Católica começou a se afastar denunciando a arbitrariedade da junta governamental presidida por Ortega.

Antes, a ala mais conservadora da Igreja havia ficado ao lado da antiga elite em sua oposição ao governo. Essa ala também defendeu a intervenção dos Estados Unidos que combatia o Movimento dos “Contras” durante o governo dos presidentes Reagan e Bush. Este é um dos motivos da atual perseguição do Governo Ortega contra a Igreja que é chamada por ele de golpista.

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Esta pressão visa forçar a hierarquia católica a apoiá-lo, dando-lhe a legitimação que ele não conseguiu nas urnas porque os opositores foram presos ou expulsos do país para facilitar sua eleição. A opinião pública interna e externa cada vez mais tem se voltado contra ele por causa da situação complicada pela qual passa o país.

Entre abril de 2018, quando teve início a pressão do Estado, até 2022, a Igreja Nicaraguense já sofreu cerca de 200 ataques. Além de o regime tentar controlar a educação religiosa do país com intervenção nos colégios e na Universidade Católica, em 2022 expulsou o Núncio Apostólico do país, prendeu padres e bispos, fechou as rádios católicas, proibiu procissões e outros atos religiosos públicos.

Organização da Igreja. Hoje a Nicarágua tem 391 paróquias, 235 sacerdotes diocesanos e 176 religiosos, além de 93 irmãos e 922 irmãs. O catolicismo é seguido por 58,5% da população. Em termos de circunscrições eclesiásticas no país existe uma arquidiocese com sede na capital, Manágua, e oito dioceses.

O Papa João Paulo II esteve duas vezes no país, quando visitou a região. A primeira em 1983 e a segunda em 1996. A violência do governo gera protestos entre a população, nos governos e nos organismos internacionais, mas até agora tem surtido pouco efeito. O futuro do país é uma incógnita e a população passa por grande sofrimento, privada de bens e de assistência religiosa.

.:: Perseguição aos cristãos piora em todo o mundo, diz relatório da ACN


Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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