Em 7 de outubro de 2023, o grupo palestino Hamas realizou um ataque surpresa a Israel, tirando a vida de milhares de pessoas e capturando reféns. Após os ataques, Israel iniciou uma contraofensiva em Gaza, que deixou quase 24 mil mortos, incluindo milhares de mulheres e crianças.
Leia MaisSanta Sé reforça posicionamento a respeito de Israel e HamasNo início de fevereiro de 2024, o Hamas até propôs um cessar-fogo, mas o governo israelense não aceitou as condições do grupo palestino. “Não há outra solução senão uma vitória completa e final”, disse Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel.
Com as informações sobre o conflito chegando diariamente pelos meios de comunicação, muitas pessoas confundem a nação Israel com o povo de Israel citado nas Sagradas Escrituras. Para esclarecer essas diferenças, o missionário redentorista Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R., que é historiador, fala a respeito da história dos judeus, narrada no Antigo Testamento.
“Nós precisamos fazer uma diferença entre o povo judeu ou povo de Israel e o atual país que leva o nome de Israel. No passado, o povo judeu constituiu uma grande civilização que teve o seu auge principalmente com o período dos reis Saul, Davi e Salomão. Nós estamos falando de um período mais ou menos mil anos antes de Cristo. Após Salomão, o reino se dividiu, o povo se dividiu, criando dois reinos diferentes.
O reino de Judá, que tinha como capital Jerusalém, e era formado por duas tribos dos filhos de Jacó, e também o reino de Israel, que tinha a sua capital na Samaria, nome moderno de Nablus, que ficava ao norte, sendo formado pelas outras dez tribos. A partir deste período, sobretudo do tempo do rei Salomão, nunca mais conseguiram a prosperidade de antes, até que foi sendo dominado. O povo foi sendo dominado de país em país, de potência em potência até chegar ao tempo de Cristo, quando a Palestina formava uma das províncias do Império Romano”.
No ano 70 d.C., mais ou menos 40 anos depois da ressurreição de Cristo, houve uma revolta e a cidade de Jerusalém foi destruída, sendo transformada numa cidade de característica pagã. Foi a partir daí que o povo judeu foi se espalhando pelo mundo, num movimento que é chamado de Diáspora. E em cada realidade, em cada cidade, em cada país para onde os judeus iam, eles formavam um bairro separado, chamado de gueto, porque ali eles mantinham a sua cultura, ali eles podiam manter os seus costumes.
A partir deste movimento, Padre Inácio também explica a criação do novo estado de Israel, em 1948.
“Para que Israel pudesse ocupar as terras onde ele já viveu no passado, foi muito conflituoso, porque as suas terras estavam ocupadas por outros povos. Isso explica, por exemplo, o conflito com os palestinos. Então, nós temos o antigo povo de Israel e nós temos o novo estado de Israel, que tem como capital religiosa a cidade de Jerusalém, e como capital política a cidade de Tel Aviv”.
Relação entre Israel e o cristianismo
O missionário redentorista também nos orienta que alguns valores entre católicos e judeus são diferentes, mesmo o cristianismo tendo como origem o povo de Israel.
“Poderíamos até lembrar o fato de que os judeus não aceitam Jesus como Filho de Deus. Para eles, Jesus é um grande profeta de muitas palavras, mas no mesmo pé de igualdade com os profetas do Antigo Testamento. Eles ainda aguardam a vinda do Salvador, do Messias. Por isso é uma confusão que as pessoas fazem, de misturar elementos do judaísmo, como é o caso da chamada estrela de Davi, que recentemente foi usada de forma errônea numa manifestação, com elementos do cristianismo. Por quê?
O cristianismo nasceu, sim, no seio de Israel, no seio de Jerusalém, onde aconteceu e viveu a primeira comunidade cristã. Mas a partir, sobretudo, do Concílio de Jerusalém, realizado nos anos de 50 ou 51 d.C., houve este rompimento e não é possível de se misturar elementos do cristianismo com elementos do judaísmo”.
Padre Inácio ainda relembra que houve um tempo em que entre a Igreja e os judeus havia um verdadeiro estado de rompimento, especialmente no tempo da Idade Média e no começo da Idade Moderna, onde os judeus foram, inclusive, vítimas daqueles processos da inquisição e de perseguição.
“Nesta época, os judeus eram muitas vezes acusados como culpados pela morte de Jesus Cristo. Apenas do Concílio Vaticano II pra cá, nos anos 1960, é que começou um estado de aproximação, tanto que depois o Papa Paulo VI visitou a Terra Santa e houve um movimento de aproximação dos judeus com os cristãos da Igreja Católica com o judaísmo. Isso também foi um fato que aconteceu durante uma boa parte da nossa história”.
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