Por Michell Lima Em Música

Música e Cérebro: Audição Musical

Por Flávia Nogeira*

Estudos já comprovam que aprender a tocar um instrumento reorganiza diversas regiões cerebrais (as áreas motoras, corpo caloso e cerebelo), incluindo aquelas diretamente envolvidas na percepção musical, demonstrando adaptações anatômicas exclusivas aos músicos treinados. Além disso, o cérebro do músico também sofre ativações mais fortes no hemisfério esquerdo (o da linguagem). As aparências parecem ainda mais significativas em pessoas que começaram a estudar a musica na infância.

Esses trabalhos notáveis esclarecem nossa compreensão sobre a plasticidade cerebral, pois demonstram que o cérebro se reorganiza em consequência de um aprendizado intensivo. Contribuem também para compreendermos melhor os aspectos benéficos do exercício musical em outras competências cognitivas (a memória, a resolução de tarefas espaciais).

Todavia, devemos evitar o desejo de associar a qualquer preço as diferenças anatômicas à diferença de aptidão musical, para não correr o risco de ocultar o essencial do que a música pode revelar sobre o funcionamento do cérebro humano.

A audição musical do "Não Músico"

Segundo Emmanuel Bigand as complexas redes neuronais postas em jogo nas atividades musicais se desenvolvem mesmo na ausência de um aprendizado intensivo. Em outras palavras, a simples escuta (e não a prática) basta para tornar o cérebro “músico”.

A ideia de que um cérebro “não-músico” possa ser expert no processamento das estruturas musicais surpreende. Trata-se, no entanto, de uma conclusão apoiada em numerosos estudos feitos sobre a aprendizagem implícita, isto é, aquela de que não temos consciência (contrariamente à explícita, consciente).

Essas pesquisas demonstraram a extraordinária capacidade do cérebro de interiorizar as estruturas complexas do ambiente, mesmo quando só estamos expostos a elas de maneira passiva. Tal aprendizado implícito e inconsciente é fundamental para adaptação e sobrevivência da espécie. Além disso, é observado em todos os domínios e foi adquirido desde cedo no curso da evolução.

Os recém-nascidos passam por aprendizados de grande complexidade, tanto para a linguagem quanto para a música: quando bebês de alguns meses ouvem uma melodia, eles manifestam forte reação de surpresa no momento em que uma nota é substituída por uma outra que infrinja as regras musicais. Os bebês denunciam a própria surpresa sugando o seio mais rápido ou virando a cabeça para o lado de onde vem o som.

Deduzimos que os circuitos neuronais envolvidos nas atividades musicais se organizam bem antes e independentemente de qualquer aprendizagem explicita da música.

Portanto, indivíduos que não tiveram um estudo musical, podem sim serem tão musicais como um músico profissional. A simples audição desperta e aguça a musicalidade e a percepção, e isso, conforme comprovam os estudos, está presente desde bebês.

Entretanto, audições pobres e limitadas logo são absorvidas e deixam de despertar uma maior amplitude das redes neurais. Então, quanto maior o repertório oferecido aos nossos ouvidos, tanto melhor.

Por isso, vamos escutar música!

Texto baseado em um artigo de Emmanuel Bigand, professor de psicologia cognitiva, diretor do Laboratório de Estudos de Aprendizagem e do Desenvolvimento, da Universidade de Bourgogne, em Dijon, França.

* Flávia Nogueira é musicoterapeuta e professora de Música.

https://musicasaude.blogspot.com.br/2011/04/musica-e-cerebro-audicao-musical.html

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