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Bispo preso fala que São João Paulo II sofreu muito na Nicarágua

Papa polonês esteve em 1983 no país que estava à beira de uma guerra civil

Escrito por Alberto Andrade

18 AGO 2022 - 13H33 (Atualizada em 02 SET 2022 - 15H29)

Nicaragua investiga

Desde o dia 4 de agosto, Dom Rolando José Álvarez Lagos, Bispo da Diocese de Matagalpa, no norte do País, está impedido de sair do Palácio Episcopal, cercado por forças especiais da polícia, que não o deixam sair, acusando-o de “encorajar revoltas” em suas homilias, que, na verdade, denunciam as ameaças à liberdade religiosa no País. Além do Bispo, outras 12 pessoas, seis sacerdotes e seis leigos, estão proibidos de sair da residência episcopal.

Leia MaisNicarágua recebe imagem peregrina de Nossa Senhora de FátimaReze hoje pela paz e segurança da população da NicaráguaA imprensa local divulgou um testemunho de Dom Rolando em 2005, sobre o sofrimento de São João Paulo II  que em março de 1983 enfrentou várias complicações em sua viagem à Nicarágua sandinista próximo ao início dos conflitos. Daniel Ortega coordenava a junta governamental que tomou o poder em 1979.

O momento mais tenso de sua viagem apostólica foi na Missa, realizada no parque 19 de Julho na capital Manágua.

Militantes do governo gritavam com microfones ligados ao sistema de som usado para a missa, frases como: Entre o cristianismo e a revolução não há contradição, “Poder popular”, “O povo unido jamais será derrotado”, “A Igreja popular”, “Queremos a paz”.

Por mais de uma vez, João Paulo II pediu silêncio e disse: "Silêncio. A primeira que quer a paz é a Igreja”. O jornal espanhol El País, divulgou que o Papa falou de improviso: "Cuidado com os falsos profetas. Eles se apresentam em pele de cordeiro, mas por dentro são lobos ferozes".

Dom Alvarez lembrou também que na Missa “havia pessoas que pegavam os microfones, mas não as que estavam à vista. Dava para perceber que havia microfones e dispositivos que estavam ligados ao áudio e que estavam escondidos e gritando frases de ordem ao mesmo tempo que o Papa falava".

Site Despacho 505
Site Despacho 505


Tensão na América Central

Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos da Nicarágua estão sofrendo uma dura perseguição por parte das autoridades governamentais.

Em quatro anos, os católicos locais sofreram mais de 190 ataques e profanações. Isso inclui um incêndio na Catedral de Manágua, capital do país localizado na América Central.

No ano de 2022, três padres foram presos, oito estações de rádio católicas foram fechadas, três canais católicos da programação de televisão por assinatura foram removidos pelo governo local, a polícia invadiu uma paróquia e expulsou os missionários da ordem Madre Teresa de Calcutá. Há relatos também de agressões e destruição de imagens e símbolos religiosos católicos.

“Convoquei tanto a Diocese de Estelí quanto a Diocese de Matagalpa, os fiéis, para uma cruzada de oração e adoração (…) reunidos e realizados em nossa cúria episcopal em Matagalpa, disse Dom Álvarez, durante uma homilia transmitida no Facebook.

Neste áudio para o A12, o missionário redentorista Padre Inácio Medeiros explicou que, historicamente, os cristãos da Nicarágua sofrem perseguições, através de uma das ditaduras mais violentas que vivemos atualmente em nosso mundo.


Dos 6,5 milhões de habitantes, quase 60% se consideram católicos, e o atual presidente do país caribenho qualificou de "terroristas" os Bispos nicaraguenses que atuaram como mediadores de um diálogo nacional que buscava uma solução pacífica para a crise que a Nicarágua vive desde abril de 2018.

O ex-guerrilheiro Daniel Ortega, 76 anos, foi reeleito em novembro de 2021 para o quarto mandato presidencial consecutivo, em uma votação em que seus potenciais adversários estavam ausentes, pois foram presos ou forçados ao exílio.

Mais de 350 pessoas foram mortas ao protestar pedindo sua renúncia em 2018, além de centenas de presos e dezenas de milhares de exilados, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Igreja que Sofre/ACN
Igreja que Sofre/ACN


Possível motivo dos ataques

De acordo com o relatório "Nicarágua: Igreja Perseguida?" de Martha Patrícia Molina Montenegro, do Observatório Anticorrupção e Transparência, as ações do governo ao atacar os católicos da região podem ter uma razão: o apoio da Igreja aos estudantes, principalmente, em meio às manifestações pacíficas contra a corrupção e o nepotismo no país, em abril de 2018.

Paróquias abriram suas portas para oferecer espaços de diálogo e reuniões de oração, mas também socorrendo os feridos e consolando as famílias de quem foi assassinado e sequestrado.

Solidariedade de toda a Igreja em busca da paz

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) encaminhou no dia 15 de agosto uma carta para o Bispo de Jinotega e presidente da Conferência Episcopal de Nicarágua, Dom Carlos Enrique Herrera Gutiérrez.

“Sentimo-nos profundamente unidos aos irmãos Bispos e a todo o povo nicaraguense. Clamamos ao Bom Deus para que a paz e a justiça sejam alcançadas”, relata a carta assinada por Dom Walmor Oliveira de Azevedo e outros integrantes da presidência da CNBB.

O observador permanente da Santa Sé, Monsenhor Juan Antonio Cruz Serrano, disse em comunicado da preocupação do Vaticano, convidando a encontrar "formas de entendimento, baseadas no respeito e na confiança recíproca", visando "o bem comum e a paz", e reiterando que a Santa Sé está "sempre pronta a colaborar com quem dialoga", considerando-o como "instrumento indispensável da democracia e garante de uma civilização mais humana e fraterna". O Conselho Episcopal Latino Americano (Celam) e outras conferências episcopais também prestaram solidariedade à Igreja e a população da Nicarágua, clamando por paz.


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Fonte: ACI Digital

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